sábado, 5 de fevereiro de 2011

É tempo de parar e repensar o jornalismo de proximidade que se faz em Portugal


Vive-se, hoje, um tempo de grande indefinição ideológica e governativa. Aparentemente ninguém percebe nada do que se está a passar: os políticos não conseguem resolver os problemas mais comezinhos, as famílias vivem dificuldades que julgavam definitivamente ultrapassadas, as empresas lutam contra sistemas económicos desiguais. E, no meio de tudo isto, cada um de nós procura interpretar os sinais de um futuro, que é já hoje, e que não se deixa adivinhar.

São dias difíceis estes que estamos a viver. A todos os níveis. Nas escolas, nos tribunais, nos hospitais, nas instituições em geral sente-se a necessidade urgente de repensar tudo, desde os alicerces que lhes serviram de base durante décadas até aos desígnios do que aí há-de vir. E isto, com incidência acrescida, num país como Portugal, fragilizado historicamente nos diversos sectores por práticas permanentes de sustentabilidade duvidosa.

No meio de toda esta volatilidade, a área da comunicação social não poderia constituir excepção no processo de questionamento e de crise. A verdade é que a informação actual pouco tem a ver com aquela que se produzia nas velhas redacções dos jornais que nos habituamos a ler. Os leitores são outros, as exigências são maiores, os meios tecnológicos, esses, então, situam-se numa dimensão inimaginável há pouco tempo atrás.

Basta dizer que a comunicação moderna deixou de ser unidireccional. Ela pode ser feita, é certo, através de uma plataforma única - por exemplo, a digital -, mas as aplicações terão de ser diversas; quer dizer, o mesmo título jornalístico deverá ser difundido através do jornal, rádio e TV digitais, do iPad, dos smartphones e de toda a gama imensa de gadgets que não param de chegar ao mercado. Isto, naturalmente, se os órgãos de informação quiserem contrariar a dispersão de estímulos que envolvem o consumidor final e assim chegar até ele.

Não é fácil a tarefa, ainda para mais tendo em conta a crise económica – mas também anímica – em que o país, hoje, se reconhece. E se esta é a realidade da imprensa de expansão nacional, imagine-se a gravidade da situação vivida pelos órgãos de informação regional. Esses, então, enfrentam ainda dificuldades maiores. Falta-lhes o apoio financeiro e humano capaz de os aproximar do novo leitor. E, principalmente, falta-lhes tempo para se poderem questionar, reformular, situar num mundo global e próximo ao mesmo tempo.

O resto virá depois. Estamos certos disso. Até porque o futuro não se compagina da mesma forma que antes em termos de regionalismo ou cosmopolitismo. O mundo vai ser um só. E com uma vantagem acrescida para a imprensa local: a democraticidade crescente na utilização e posse dos meios tecnológicos indispensáveis ao exercício informativo.