Ainda sou do tempo em
que os escritores se endeusavam a si próprios. Embora fingissem não o fazer de
propósito. Frequentavam as livrarias e os cafés dos outros mas não se
misturavam. À volta deles havia como que uma áurea diferenciadora do comum dos
mortais. Assinavam os livros com uma condescendência sacrificada. Olhavam as
pessoas com a bonomia própria de quem reconhece que nem todos podem ser iguais.
Noutro dia conheci o João Tordo. Que diferença! Foi como se privasse com ele há muito tempo. Simpático, sedutor nato, experiente na vida e no mundo real (como não poderia deixar de ser uma vez que é escritor), capaz de partilhar de forma genuína o interesse e a proximidade que sente pelos outros, sejam eles quem forem.
É, provavelmente, o mais democrático dos escritores que tenho conhecido. E a verdade é que João Tordo tem tudo para, também ele, se alcandorar a um plano superior ao da vulgaridade de alguma escrita literária que por aí se faz. Tanto sob o ponto de vista formal, em que é de um rigor assinalável, como no domínio do enredo e das personagens a quem sabe transmitir um interesse crescente, ele integra por mérito próprio um grupo muito restrito de novos valores do panorama cultural português.
A diferença está no facto de perceber, porque é boa pessoa, porque gosta dos homens e, principalmente, das mulheres, que a arte da escrita necessita da normalidade traduzível em páginas admiráveis que só os grandes escritores sabem produzir.
1 comentário:
certo :)
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