O tempo não é uma linha linear, contínua,
sempre igual. Vive de sobressaltos, disrupções, mudanças de sentido. O mesmo
acontece com a vida das pessoas e dos povos. Aquilo porque estamos a passar
neste momento inscreve-se nesta alteração de rumo. Na Europa, e muito
particularmente em Portugal, vive-se uma época de crise e de mudança.
Não é por acaso que estas duas últimas
palavras normalmente surgem associadas uma à outra. Crise e mudança são,
efectivamente, duas faces de uma mesma realidade. Elas revezam-se e
explicam-se. Na maioria das vezes com efeitos positivos, outras nem tanto.
Aquilo que tem acontecido em Portugal é a
materialização da segunda possibilidade. A crise no nosso país e,
principalmente, a forma como se tem procurado resolvê-la, nada tem de
regenerador, de virtuoso. O nível de destruição da teia social e económica que
nos aproximou durante estes séculos todos é de tal ordem que o retrocesso em
vez do avanço parece ser a consequência natural desta crise.
Na Europa as coisas também não estão
muito melhores. A desunião entre as nações é evidente, a compreensão do
carácter global das razões deste tempo não tem feito caminho. E isto num
continente reconhecido pelo alto grau cultural das suas elites!
É em plena vivência deste tempo de
perplexidade que se comemoram os 34 anos de vida do jornal O Vianense. Não é
fácil administrar uma publicação periódica numa altura assim. Ainda por cima
quando o jornal em causa se insere numa cidade e numa região também ela
mergulhada numa profunda crise económica e no vazio da materialização de
desígnios. Viana há muito tempo que sabe que o seu futuro passa pelas
indústrias ligadas ao mar, ao turismo e às actividades criativas de cariz
cultural e etnográfico. Pois é exactamente ao arrepio destas metas de
desenvolvimento que o governo central retirou nos últimos dois anos a
auto-estrada livre de portagens – e que tinha sido a única coisa que
verdadeiramente tinha patrocinado em termos políticos durante todo o século XX
–, os estaleiros navais que foram desde sempre o esteio do progresso
industrial, o comboio de ligação directa ao Porto e a Vigo – numa atitude que
chega a parecer de desaforo, de gozo mesmo – para não falar da velha questão
da não autorização de funcionamento de um único curso universitário que seja,
de que a engenharia naval é o exemplo mais chocante.
Ser jornal e ser cidade assim não é
fácil. Resta esperar que a tal palavra normalmente associada ao conceito crise
– mudança – ocupe a sua vez na realidade que tarda em chegar. E se integre num
contexto de maior discernimento e de maior felicidade para estes homens e estas
mulheres de Viana que há muito o merecem porque nunca tiveram nada.