terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Em tempo de aniversário do jornal O Vianense


O tempo não é uma linha linear, contínua, sempre igual. Vive de sobressaltos, disrupções, mudanças de sentido. O mesmo acontece com a vida das pessoas e dos povos. Aquilo porque estamos a passar neste momento inscreve-se nesta alteração de rumo. Na Europa, e muito particularmente em Portugal, vive-se uma época de crise e de mudança.

Não é por acaso que estas duas últimas palavras normalmente surgem associadas uma à outra. Crise e mudança são, efectivamente, duas faces de uma mesma realidade. Elas revezam-se e explicam-se. Na maioria das vezes com efeitos positivos, outras nem tanto.

Aquilo que tem acontecido em Portugal é a materialização da segunda possibilidade. A crise no nosso país e, principalmente, a forma como se tem procurado resolvê-la, nada tem de regenerador, de virtuoso. O nível de destruição da teia social e económica que nos aproximou durante estes séculos todos é de tal ordem que o retrocesso em vez do avanço parece ser a consequência natural desta crise.

Na Europa as coisas também não estão muito melhores. A desunião entre as nações é evidente, a compreensão do carácter global das razões deste tempo não tem feito caminho. E isto num continente reconhecido pelo alto grau cultural das suas elites!

É em plena vivência deste tempo de perplexidade que se comemoram os 34 anos de vida do jornal O Vianense. Não é fácil administrar uma publicação periódica numa altura assim. Ainda por cima quando o jornal em causa se insere numa cidade e numa região também ela mergulhada numa profunda crise económica e no vazio da materialização de desígnios. Viana há muito tempo que sabe que o seu futuro passa pelas indústrias ligadas ao mar, ao turismo e às actividades criativas de cariz cultural e etnográfico. Pois é exactamente ao arrepio destas metas de desenvolvimento que o governo central retirou nos últimos dois anos a auto-estrada livre de portagens – e que tinha sido a única coisa que verdadeiramente tinha patrocinado em termos políticos durante todo o século XX –, os estaleiros navais que foram desde sempre o esteio do progresso industrial, o comboio de ligação directa ao Porto e a Vigo – numa atitude que chega a parecer de desaforo, de gozo mesmo – para não falar da velha questão da não autorização de funcionamento de um único curso universitário que seja, de que a engenharia naval é o exemplo mais chocante.

Ser jornal e ser cidade assim não é fácil. Resta esperar que a tal palavra normalmente associada ao conceito crise – mudança – ocupe a sua vez na realidade que tarda em chegar. E se integre num contexto de maior discernimento e de maior felicidade para estes homens e estas mulheres de Viana que há muito o merecem porque nunca tiveram nada.

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