Nasceu actriz e foi actriz a vida toda. Enchia
o palco só com o seu corpo e a sua voz. Era forte nas convicções e inteligente
na escolha dos argumentos. E bonita na rua, na telenovela, no foyer. E também
no dia em que leu, com aquela voz, poesia do meu pai na rádio. Gosto muito de
ti. Descansa agora em paz.
domingo, 20 de dezembro de 2015
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Jorge Gomes
Não é o único dos novos secretários de estado
que conheço, mas é aquele que melhor tenho acompanhado em termos de percurso
político. Organizado, pragmático, intuitivo, Jorge Gomes possui as capacidades
necessárias para um bom desempenho do cargo. Mas o que mais gostaria deixar
registado neste breve testemunho é o sortilégio que a política afinal ainda
possui de saber escolher quem o merece.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Novas gentes, novos jornais
De entre os diversos sectores de actividade, poucos se terão desenvolvido tanto nos últimos anos quanto o da comunicação. As mudanças têm sido meteóricas. Tanto ao nível tecnológico como do conteúdo editorial.
Mas a maior de todas as evoluções, a nosso ver, refere-se à crescente
democratização do acesso e mesmo da posse dos meios de comunicação social.
As novas plataformas informáticas têm permitido isto mesmo. O jornal, a rádio e a televisão difundidos através da internet são exemplos desta nova realidade. Sem que os custos de investimento inicial sejam comparáveis com os anteriores. Mesmo mantendo a valorização da componente humana. Mas essa é outra conversa, bem complexa, aliás.
São estas razões que explicam o surgimento em força da comunicação institucional, empresarial, escolar, na maioria das vezes difundida electronicamente.
O caso das escolas é paradigmático. De um jornalismo amador, anacrónico desenvolveram-se rapidamente novas formas de dizer a notícia, muito mais do agrado do público jovem.
São efectivamente muitos os estabelecimentos de ensino que possuem já jornais, rádios e, até, televisões digitais. E com alguma qualidade, diga-se a propósito.
É o caso da publicação que encima o presente texto e de que damos a conhecer a 1' edição: o bjornal. Aconselhamos ao leitor uma viagem ainda que rápida pelas suas páginas. Por certo que vai achar não desmerecer de projectos jornalísticos com fortes características profissionais.
É a democracia a chegar à comunicação social, meus senhores, com todas as vantagens e inconvenientes que a situação pode vir a acarretar.
O jornal em causa pertence ao Liceu de Bragança e surge na esteira de outros títulos trabalhados editorialmente pelo autor destas linhas em diversas instituições, sempre em parceria com o designer de comunicação José Carlos Martins.
Os jornais, as rádios e as televisões chegaram finalmente à vizinhança da nossa vida mesma.
As novas plataformas informáticas têm permitido isto mesmo. O jornal, a rádio e a televisão difundidos através da internet são exemplos desta nova realidade. Sem que os custos de investimento inicial sejam comparáveis com os anteriores. Mesmo mantendo a valorização da componente humana. Mas essa é outra conversa, bem complexa, aliás.
São estas razões que explicam o surgimento em força da comunicação institucional, empresarial, escolar, na maioria das vezes difundida electronicamente.
O caso das escolas é paradigmático. De um jornalismo amador, anacrónico desenvolveram-se rapidamente novas formas de dizer a notícia, muito mais do agrado do público jovem.
São efectivamente muitos os estabelecimentos de ensino que possuem já jornais, rádios e, até, televisões digitais. E com alguma qualidade, diga-se a propósito.
É o caso da publicação que encima o presente texto e de que damos a conhecer a 1' edição: o bjornal. Aconselhamos ao leitor uma viagem ainda que rápida pelas suas páginas. Por certo que vai achar não desmerecer de projectos jornalísticos com fortes características profissionais.
É a democracia a chegar à comunicação social, meus senhores, com todas as vantagens e inconvenientes que a situação pode vir a acarretar.
O jornal em causa pertence ao Liceu de Bragança e surge na esteira de outros títulos trabalhados editorialmente pelo autor destas linhas em diversas instituições, sempre em parceria com o designer de comunicação José Carlos Martins.
Os jornais, as rádios e as televisões chegaram finalmente à vizinhança da nossa vida mesma.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
D. Henrique de Barros
É muito difícil
escrever sobre quem se gosta muito. A emoção sobrepõe-se à clarividência. É o
caso da minha relação com o Henrique, meu filho muito querido. Ele faz hoje 8
anos. Está a crescer todos os dias. E cada vez mais me revejo nele. O que
explica a dificuldade na escrita. Porque ele sou eu. Muito melhor, assim
espero. Feliz aniversário, meu D. Henrique.
domingo, 25 de outubro de 2015
Páscoa na aldeia
Naquela
manhã parecia alheada de tudo. O compasso a passar e ela a sorrir da noite
anterior. A banda filarmónica a fazer estremecer a rua e a lembrança dos braços
apaixonados do Raul a permanecerem no pensamento. No céu os foguetes e na sua
frente o padre Avelino. E o namorado que ainda não aparecera. Será que alguém
lhe foi contar alguma coisa? Começava a sentir as pernas a tremer. O muro
segurou uma delas.
Sempre
gostara da Páscoa e de olhar as pessoas. O músico do trombone, a Tia Paula
feliz, os pequenos de cabelo lambido. Por isso sorria, embora não parecesse
encontrar-se ali. O Armindo já deveria estar ao seu lado. Ainda vai acontecer uma desgraça.
Mas quem lhe mandou ouvir as palavras sabidas do Raul? Malandro de rapaz. E bonito.
E bem-falante. Às vezes parecia o Padre Avelino na missa a falar do pecado e da
confissão.
A rua
estava atapetada de flores. Foi na curva do Sr. Quintas que finalmente viu o
namorado a chegar à Páscoa.
(Fotografia de Alfredo Cunha)
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Ao meu pai
A vida é um círculo em permanente movimento. No princípio, o
desconhecido; no fim cada um de nós. Ou então aqueles que de nós vierem. Assim
sempre assim.
Primeiro o meu pai, depois eu, depois os meus filhos. Antes tantos outros. Bonitos, maus, rancorosos, poetas, amantes. De tudo muito. Agora é a vez do Henrique, da Leonor, da Francisca, da Matilde. Todos nós sentados, de semblante expectante, pernas estendidas, o olhar lento de quem observa o resto pela janela do TGV. Sem destino determinado.
Um dia vão ser eles a ultrapassarem a metade do percurso. Nessa altura terão provavelmente filhos. Que vão tornar o círculo maior. E perpetuar os que iniciaram a viagem primeiro. Ainda no comboio movido a fumaça.
Serão parecidos connosco? Terão tanto de mim como tenho do meu pai? Afinal, o círculo pressupõe perpetuação. Eu sou o meu pai outra vez. Diferente mas igual. Com a escrita, o mar e tudo o que é belo a fazer-nos companhia.
Estas palavras todas porque a data me induziu a tanto. Hoje não é o meu dia de aniversário. Mas faço anos porque o meu pai faz anos. Tal como sempre acontecerá enquanto eu for vivo. E o TGV não parar para sempre.
Parabéns, Pai.
Primeiro o meu pai, depois eu, depois os meus filhos. Antes tantos outros. Bonitos, maus, rancorosos, poetas, amantes. De tudo muito. Agora é a vez do Henrique, da Leonor, da Francisca, da Matilde. Todos nós sentados, de semblante expectante, pernas estendidas, o olhar lento de quem observa o resto pela janela do TGV. Sem destino determinado.
Um dia vão ser eles a ultrapassarem a metade do percurso. Nessa altura terão provavelmente filhos. Que vão tornar o círculo maior. E perpetuar os que iniciaram a viagem primeiro. Ainda no comboio movido a fumaça.
Serão parecidos connosco? Terão tanto de mim como tenho do meu pai? Afinal, o círculo pressupõe perpetuação. Eu sou o meu pai outra vez. Diferente mas igual. Com a escrita, o mar e tudo o que é belo a fazer-nos companhia.
Estas palavras todas porque a data me induziu a tanto. Hoje não é o meu dia de aniversário. Mas faço anos porque o meu pai faz anos. Tal como sempre acontecerá enquanto eu for vivo. E o TGV não parar para sempre.
Parabéns, Pai.
(Em 14 de Outubro)
O novo mês de Agosto
O mês
de Agosto já não é o que era. Deixou de haver escolha. É igual em toda a parte.
As festas e romarias acabaram ao mesmo ritmo que as aldeias. Quem lá vivia foi
para a cidade. A banda Estrelas de Alva encaixotou os instrumentos e zarpou. O
baterista é segurança do ministério da educação, o viola-baixo é canalizador na
Graça e enriqueceu, a vocalista é barmaid no Bliss em Vilamoura. E perdeu muita
da graça que nasceu com ela. A autenticidade também rumou à cidade e desapareceu
por entre os becos e as avenidas. O gin e as roupas da Fashion Clinic que
circulam nas sunset parties ganharam a contenda. As velhas alcoviteiras e os
cães não têm mais lugar nas festas de Agosto. Nem o padre que suspirava pelo
amor de todos e dele próprio. O Zé-Zé estuda em que curso? Já sabe que a Mituxa
vai expor em Madrid? E a cama de hotel no final da noite quando a sina da
exclusão por partes ditar a parceira. Mas tudo muito coreografado. Salva-se o
perfume e a lingerie. A verdade é que já ninguém mais sabe beijar como a
vocalista dos Estrelas de Alva. Que desconhecia quem era Neil Armstrong mas
levava os passageiros à lua e às estrelas e aos cometas e devolvia-os mais ou
menos vivos.
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
O dia em que rachei a cabeça na Assembleia da República
Logo a
mim que não faço mal a ninguém se não puder. Tinha acabado de dar como exemplo
dos conhecimentos básicos a exigir aos deputados da próxima legislatura o
posicionamento crítico acerca das obras musicais de Jorge Peixinho e de
Graciano Saga. Da provocação resultou a concordância de quase ninguém e a
recusa do hemiciclo todo. Era o que pretendia. Estava por isso contente comigo
mesmo. O dia corria-me bem. Uma manhã de sol branco de Lisboa, as pernas de
seda preta a desfilarem em frente à Bénard e eu sentado na esplanada
acompanhado de ninguém. Uma maravilha!
À tarde seguiu-se a tal prelecção sobre as qualidades a serem consideradas nos parlamentares de Outubro próximo. O edifício da Assembleia a servir-me de cenário ao acerto da postura de quase cientista político. Logo depois, os corredores, os passos perdidos, as escadas, as muitas escadas e, catrapuz! – cabeça rachada e algum sangue a escorrer-me pela testa.
Lá se foi o sol branco mais a passerelle da Bénard! De repente estava a andar às voltas num carrossel. E os altifalantes a anunciar a próxima paragem: gabinete médico da assembleia.
Voltei a percorrer os corredores agora em direcção à minha possibilidade de salvação. Pelo caminho as pessoas olhavam-me com cara de deputados. As manas Mortágua quase deram um grito. É do BES – dizia a Mariana. É nada, respondeu a Joana – é um latifundiário que não aceitou entregar as terras. Um pouco mais adiante estava, anafado e orgulhoso de si mesmo, o parlamentar do CDS Raúl Almeida e as suas suíças bem aparadas a mostrarem o palácio a um grupo de meninos de um colégio bem. De repente viu-me e juro-vos que gritou para dentro - eu ainda ouvi - "Outro 25 de Abril !?"
Já dentro do espaço branco do gabinete com maca e enfermeira respirei de alívio. Nem mais um deputado nem mais um passo perdido. Comecei a recuperar a esplanada da manhã. Por pouco tempo. Até ter chegado em meu socorro a primeira directora. “Entre senhora doutora, está aqui o nosso doente.”, disse aquela que mais tarde viria a saber ser uma mulher e uma enfermeira excepcionais. E pronto. Adeus Bénard, sol branco, Peixinho e Saga, e eu próprio.
Primeiro, os sapatos de salto alto pretos a completarem as meias de comungar, depois o vestido a tentar cobrir as pernas sem fim ao mesmo tempo que, por esquecimento do costureiro, certamente, revelava num círculo sem tecido a pele abaixo do peito. Quanto ao cabelo, já sabem como é, cabelo e penteado de directora. O rosto, esse, estão a ver o da doutora Assunção Esteves? Não tem nada a ver. Era absolutamente lindo.
Então, o que lhe aconteceu? “Já não me lembrava que as directoras eram assim”, respondi-lhe. Sorriu. Do lanho na testa não me lembrei mais. Até que chegaram mais funcionárias, e directoras, e a mulher-polícia da entrada da Assembleia da República. E agora, quem o vai levar ao hospital?
Foi aí que que eu conheci o outro lado do parlamento nacional. Formou-se ali um grupo de pessoas fantásticas e amigas. Todas se ofereceram para me transportar até ao centro de negócios da saúde mais próximo – o da CUF. Isto num dia de trânsito insuportável com a greve do metro.
Enquanto caminhávamos em passo lento para o exterior do edifício, corria num sprint desenfreado por entre aquela gente a fama que há muito me persegue: a de que vejo para além do rosto das pessoas e lhes adivinho o futuro. Uma desgraça! E eu ali, sem a minha proverbial D. Lurdinhas, que é quem gere o meu gabinete e a vez das clientes. A mulher-polícia, essa, estava desesperada. Já me contava os últimos quatro meses da vida dela que não foram fáceis. Sorte a minha que a deputada Isabel Moreira, que decididamente “gosta de homens que gostam de mulheres”, muito bem vestida naquele dia, e de conversa fugaz no grupo, tinha mais que fazer. Logo ela que é toda dada a devaneios aparentemente esotéricos…
De uma coisa fiquei certo: é bom trabalhar na assembleia com um grupo daqueles. Digo mais: é melhor que no Pingo Doce, na Primark, na Siderurgia Nacional ou mesmo na sociedade de advogados Cuatrecasas.
No hospital fui atendido por uma médica muito jovem. Disse-lhe que deixasse o namorado juiz e levei cinco pontos na testa. À noite dormi no 8º andar de um hotel com uma vista única sobre Lisboa. E sabem quem pagou a estadia? O caríssimo leitor que neste momento está a passar os olhos por estas linhas.
Ah! Já me esquecia! Falta dizer o que esteve na origem de tudo isto. Quando eu ia a utilizar as escadas do parlamento para ir dali para fora, estava nesse momento a descê-las o deputado Carlos Abreu Amorim. Quando me viu, sabendo que nasci na cidade capital do Alto-Minho, caminhou num passo mais rápido em minha direcção para anunciar as novidades dos Estaleiros Navais de Viana. Mais navios, mais trabalhadores e mais peso em cima de mim: o do ilustre parlamentar que acabava de assentar arraiais em cima do meu corpo estendido no chão.
À tarde seguiu-se a tal prelecção sobre as qualidades a serem consideradas nos parlamentares de Outubro próximo. O edifício da Assembleia a servir-me de cenário ao acerto da postura de quase cientista político. Logo depois, os corredores, os passos perdidos, as escadas, as muitas escadas e, catrapuz! – cabeça rachada e algum sangue a escorrer-me pela testa.
Lá se foi o sol branco mais a passerelle da Bénard! De repente estava a andar às voltas num carrossel. E os altifalantes a anunciar a próxima paragem: gabinete médico da assembleia.
Voltei a percorrer os corredores agora em direcção à minha possibilidade de salvação. Pelo caminho as pessoas olhavam-me com cara de deputados. As manas Mortágua quase deram um grito. É do BES – dizia a Mariana. É nada, respondeu a Joana – é um latifundiário que não aceitou entregar as terras. Um pouco mais adiante estava, anafado e orgulhoso de si mesmo, o parlamentar do CDS Raúl Almeida e as suas suíças bem aparadas a mostrarem o palácio a um grupo de meninos de um colégio bem. De repente viu-me e juro-vos que gritou para dentro - eu ainda ouvi - "Outro 25 de Abril !?"
Já dentro do espaço branco do gabinete com maca e enfermeira respirei de alívio. Nem mais um deputado nem mais um passo perdido. Comecei a recuperar a esplanada da manhã. Por pouco tempo. Até ter chegado em meu socorro a primeira directora. “Entre senhora doutora, está aqui o nosso doente.”, disse aquela que mais tarde viria a saber ser uma mulher e uma enfermeira excepcionais. E pronto. Adeus Bénard, sol branco, Peixinho e Saga, e eu próprio.
Primeiro, os sapatos de salto alto pretos a completarem as meias de comungar, depois o vestido a tentar cobrir as pernas sem fim ao mesmo tempo que, por esquecimento do costureiro, certamente, revelava num círculo sem tecido a pele abaixo do peito. Quanto ao cabelo, já sabem como é, cabelo e penteado de directora. O rosto, esse, estão a ver o da doutora Assunção Esteves? Não tem nada a ver. Era absolutamente lindo.
Então, o que lhe aconteceu? “Já não me lembrava que as directoras eram assim”, respondi-lhe. Sorriu. Do lanho na testa não me lembrei mais. Até que chegaram mais funcionárias, e directoras, e a mulher-polícia da entrada da Assembleia da República. E agora, quem o vai levar ao hospital?
Foi aí que que eu conheci o outro lado do parlamento nacional. Formou-se ali um grupo de pessoas fantásticas e amigas. Todas se ofereceram para me transportar até ao centro de negócios da saúde mais próximo – o da CUF. Isto num dia de trânsito insuportável com a greve do metro.
Enquanto caminhávamos em passo lento para o exterior do edifício, corria num sprint desenfreado por entre aquela gente a fama que há muito me persegue: a de que vejo para além do rosto das pessoas e lhes adivinho o futuro. Uma desgraça! E eu ali, sem a minha proverbial D. Lurdinhas, que é quem gere o meu gabinete e a vez das clientes. A mulher-polícia, essa, estava desesperada. Já me contava os últimos quatro meses da vida dela que não foram fáceis. Sorte a minha que a deputada Isabel Moreira, que decididamente “gosta de homens que gostam de mulheres”, muito bem vestida naquele dia, e de conversa fugaz no grupo, tinha mais que fazer. Logo ela que é toda dada a devaneios aparentemente esotéricos…
De uma coisa fiquei certo: é bom trabalhar na assembleia com um grupo daqueles. Digo mais: é melhor que no Pingo Doce, na Primark, na Siderurgia Nacional ou mesmo na sociedade de advogados Cuatrecasas.
No hospital fui atendido por uma médica muito jovem. Disse-lhe que deixasse o namorado juiz e levei cinco pontos na testa. À noite dormi no 8º andar de um hotel com uma vista única sobre Lisboa. E sabem quem pagou a estadia? O caríssimo leitor que neste momento está a passar os olhos por estas linhas.
Ah! Já me esquecia! Falta dizer o que esteve na origem de tudo isto. Quando eu ia a utilizar as escadas do parlamento para ir dali para fora, estava nesse momento a descê-las o deputado Carlos Abreu Amorim. Quando me viu, sabendo que nasci na cidade capital do Alto-Minho, caminhou num passo mais rápido em minha direcção para anunciar as novidades dos Estaleiros Navais de Viana. Mais navios, mais trabalhadores e mais peso em cima de mim: o do ilustre parlamentar que acabava de assentar arraiais em cima do meu corpo estendido no chão.
Este País não é para mim
E a culpa não é dos outros; só pode ser minha. Sou eu que não
me revejo no todo. Definitivamente estou a mais. Desculpem a modéstia não
pretendida. Vou voltar aos livros e à contemplação. É este o meu porto seguro.
Videovigilância à portuguesa
Um novo sistema de vigilância altamente sofisticado foi hoje
inaugurado na casa onde está detido José Sócrates, conseguindo-se, deste modo,
evitar a presença de agentes policiais. A utilização deste inovador processo de
controlo à distância iniciou-se por volta das 7 horas da manhã, mal a D. Maria
dos Prazeres Cruchinho assomou à janela da sua casa, onde habitualmente passa
os dias. Em declarações à CMTV disse nada ter visto de muito relevante. O mesmo
afirmou àquela televisão o filho da moradora, Necas Cruchinho, mencionando o
facto de ter apenas observado, a partir da janela do seu quarto, a Dra. Sofia
Fava a tomar banho na piscina do jardim.
António Sérgio de Barros
Nasceu poucos dias atrás e é a partir de hoje estudante da
Universidade de Coimbra. Chama-se António Sérgio de Barros e é meu sobrinho e
afilhado. E pronto. É isto. Não resistia sem partilhar a minha emoção.
A menina Ofélia e o Chiado
- Passam por aqui mulheres muito belas, ó Fernando Pessoa.
Ainda por cima com a moda deste ano, a dos vestidos...
- Sim, é verdade. Mas nenhuma se compara em pureza
à minha Ofélia.
A Rua das Flores
O Porto é uma cidade especial. Com uma personalidade muito
vincada. Liberal (porque igualitária, defensora das condições e direitos iguais
para todos). Burguesa - não, não é uma contradição. Defensora da livre
iniciativa. Autónoma em relação aos poderes formais. De tal forma que o melhor
do Porto nasceu da espontaneidade dos cidadãos. O renascimento da Rua das
Flores é exemplo disto mesmo. Vale pena ver a vontade das pessoas ultrapassar
os limites impostos pela régua e esquadro amanuenses.
O Sr. Tomé
O funcionário público Sr. Tomé Barreira garante que vai
conseguir o 1º lugar na etapa da Volta a Portugal em Bicicleta que hoje termina
em Bragança.
"37 anos a pedalar desde Vinhais até ao
serviço na cidade deram-me muita força nas pernas", diz este apaixonado
pelas bicicletas.
E quando chegar aos 70 anos de idade e se reformar? "Aí ainda vou pedalar mais rápido porque passo a receber a pensão mais o salário da função pública."
E quando chegar aos 70 anos de idade e se reformar? "Aí ainda vou pedalar mais rápido porque passo a receber a pensão mais o salário da função pública."
Na Assembleia da Repúlica
Há bocadinho, na AR:
Moi-même: proponho que só possa ser candidato a deputado quem tiver umas luzes sobre o conceito-saudade, a obra de Jorge Peixinho e Graciano Saga, a dialéctica corporativo-cooperativo, a arte neo-kitsch da Joana Vasconcelos, a importância da patanisca de bacalhau na cozinha gourmet, o sindrome maníaco-depressivo do polícia de Guimarães.
José Lello: ...e a caracterização da mulher-tipo das Fontainhas versus a da Foz.
Teresa Caeiro: muito bem !!
João Oliveira: assim como do preço excessivo do pastel de nata no bar da assembleia.
Mariana Mortágua: o único deputado que disse alguma coisa de jeito esta tarde foi o moi-même.
Francisca Almeida: apoiado !!
Moi-même: proponho que só possa ser candidato a deputado quem tiver umas luzes sobre o conceito-saudade, a obra de Jorge Peixinho e Graciano Saga, a dialéctica corporativo-cooperativo, a arte neo-kitsch da Joana Vasconcelos, a importância da patanisca de bacalhau na cozinha gourmet, o sindrome maníaco-depressivo do polícia de Guimarães.
José Lello: ...e a caracterização da mulher-tipo das Fontainhas versus a da Foz.
Teresa Caeiro: muito bem !!
João Oliveira: assim como do preço excessivo do pastel de nata no bar da assembleia.
Mariana Mortágua: o único deputado que disse alguma coisa de jeito esta tarde foi o moi-même.
Francisca Almeida: apoiado !!
A partida
- A menina importa-se de me dizer a que horas sai o próximo
navio?
- Não sei, também estou à espera de partir nele - respondeu a minha tetravó ao meu tetravô.
- Não sei, também estou à espera de partir nele - respondeu a minha tetravó ao meu tetravô.
Traje à vianesa
Quem nasce nas terras de Viana não deixa mais de ser de Viana, mesmo quando mora em Lisboa. Se calhar ainda mais por causa disso. E veste-se de Viana em momentos de solenidade particular. O orgulho de ser desta terra é algo que os outros dificilmente perceberão.
Na fotografia: Luísa Castelo-Branco e Paula Teixeira de Queiroz
No Café Siena
Tarde
de Primavera. A esplanada cheia. Quase só mulheres. Jovens de saias
arregaçadas. Nas mesas as cervejas acompanhadas de tremoços. Não me apetece
cerveja. Mas os tremoços... Ao tempo que não os como! Chamo a empregada. Faz
favor, quero coca-cola zero e um pratinho de tremoços. O pedido é aprovado com
a simpatia característica de quem é novata no negócio. Não demorou muito tempo
a resposta de mãos vazias. A gerente, matrona por vocação, dá o recado à
empregada e ao cliente que ouve a sentença por entre as mesas e as saias
arregaçadas: tremoços só com cerveja. Em nenhum momento eu tinha perguntado
pelo preço dos ditos cujos. Se custavam dois, três ou cinco euros. Eu pedi
tremoços. A coitada da empregada a olhar para mim envergonhada. Disse-lhe que
queria uma coca-cola zero, tremoços e cerveja. A rapariga respirou aliviada. E
eu feliz naquela esplanada de Primavera com moças de saias arregaçadas, a beber
a minha coca-cola, a comer tremoços e a olhar para a garrafa da cerveja que
deixei intacta, a pensar na sede da mãe que pariu a gerente matrona.
Kraftwerk
Acabo de chegar do concerto dos Kraftwerk. Durante hora e
meia revivi os tempos da minha adolescência. Nessa altura era olhado com
surpresa pelos amigos por gostar daquela música repetitiva e monocórdica. O
tempo encarregou-se de confirmar a minha razão.
Mulher dos olhos lindos
(Foto de José Maria Barroso Coelho)
Paris
Hoje soube-o uma vez mais: Paris deveria fechar para descanso
durante o dia e abrir as portas à vida só à noite.
Sexta-feira fria e as esplanadas cheias de risos, pernas cruzadas, lagosta à mesa, vinho a percorrer os copos e sexo na cama. Cidade feiticeira.
Sexta-feira fria e as esplanadas cheias de risos, pernas cruzadas, lagosta à mesa, vinho a percorrer os copos e sexo na cama. Cidade feiticeira.
Mulher avantajada
Tentou entrar hoje na
Assembleia da República. Que não, são ordens novas, você é uma mulher
avantajada e isso pode distrair os deputados do seu labor fundamental. Em prol
da nação. E do interesse dos mais necessitados, sentenciaram os guardas. Mas eu
sou representante da Associação Portuguesa dos Nutricionistas e tenho audiência
marcada com o deputado Carlos Abreu Amorim, disse a mulher avantajada. Não
brinque com esta casa, olhe o respeito, aqui funciona a sede da democracia,
rosnaram com a boca semicerrada os agentes da Judiciária ou do SIS ou lá o que
era...
Gata em Telhado de Zinco Quente
Vou hoje assistir à
representação da peça Gata em Telhado de Zinco Quente. Ente os actores em cena
há um que admiro particularmente: Rúben Gomes. Tem um ar calmo, próprio de quem
diz mais com o olhar do que com as palavras. Faz-me lembrar o Gregory Peck.
Para além disso tem boa voz... Ei!!!! Mas só agora reparo... Quem é aquela gaja
que insiste em colocar-se em primeiro plano na fotografia!?
Eu quero ver o Rúben Gomes.
Palhaça.
Eu quero ver o Rúben Gomes.
Palhaça.
Maria Leonor de Barros
Hoje não é um dia qualquer. A Maria Leonor faz nove anos. Tal como eu, daquela vez em que ganhei um relógio de pulso de homem crescido. Tanto tempo passou já. Parece uma eternidade, outro filme, uma vida irremediavelmente distante.
Agora é a vez da Leonor. Com ou sem relógio de pessoa grande. A corrida dela está prestes a começar. 1, 2, 3: os ponteiros do Longines do estádio avançam inexoravelmente. A Nonô vai começar a disputar o jogo inventado pelos grandes. Há barreiras para saltar, rasteiras para evitar. Não há dúvida, são tão estúpidos os "donos disto tudo".
E que posso eu fazer para ajudar a correr veloz como um lince a minha Leonor? Ir em vez dela? Coitado de mim e principalmente da Leonor. Ela é melhor do que eu. Hoje passei pela escola onde estuda para entregar um bolo. A Leonor é muito inteligente, disseram todas e uma por uma as professoras. E ainda por cima ri e faz rir. Diferentemente de mim. E é desenrascada, autónoma. Ainda vai ser também "dona disto tudo", pensei eu.
Neste arremedo de Verão pífio que nos abandonou sem alguma vez ter chegado, quis ensinar a bela Leonor a fazer a última das coisas que um pai pode fazer por uma filha: segurar no selim da bicicleta até ela ser capaz de se equilibrar sozinha. Dessa minha façanha restou a fotografia que abaixo se publica e na qual apareço muito favorecido. Da Leonor e da bicicleta ficou apenas o pó erguido pela bicicleta e pela nortada do Verão mentiroso. Derrotado, limitei-me a vê-las sprintar numa velocidade furiosa em direcção ainda hoje não sei de quê.
Parabéns pelo teu aniversário, minha querida filha.
(Em 16 de Outubro)
Foto da direita: Leçon de vélo (Bike Lesson),1961. Robert Doisneau
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Matilde de Barros
A Matilde é muito bonita, mas
ainda não sabe. Tem sensibilidade de poeta, mas duvida. Nasceu para ser
diferente, mas acha-se a mais insignificante das adolescentes. Tem corpo de
manequim, mas não gosta do que vê no espelho. Gosta do mar, mas julga-se da terra.
É sonho, mas sente-se, muitas vezes, pesadelo. Percebe todos os mistérios da
vida, mas tem medo de não ser capaz. Tem o melhor pai do mundo, mas pensa que
só é da Europa.
Não é de admirar tanta hesitação, tanto receio de ser quasi invisível: afinal ela faz hoje apenas (e tanto...) 15 anos. E aos 15 anos todos as mulheres e homens interessantes foram assim.
Parabéns, minha querida filha.
Não é de admirar tanta hesitação, tanto receio de ser quasi invisível: afinal ela faz hoje apenas (e tanto...) 15 anos. E aos 15 anos todos as mulheres e homens interessantes foram assim.
Parabéns, minha querida filha.
(Em 29 de Setembro)
A mim
Ao ser mais maravilhoso de
todos. Do Facebook e arredores. Da praia de Moledo e das terras amarelas do sul.
A mim mesmo. Obrigado.
João Álvaro Rocha
Morreu no Porto, vítima de
cancro, João Álvaro Rocha, um dos maiores arquitectos portugueses. Nascido em
Viana do Castelo há 55 anos, integrava a chamada escola de arquitectura do
Porto, onde pontificam nomes como Siza Vieira ou Souto Moura. Conjugava a
capacidade técnica de criar um projecto com a erudição teórica capaz de o
justificar em termos conceptuais e urbanísticos.
João Álvaro Rocha foi autor de três das estações de metro do Porto e de diversos edifícios marcantes na história recente da arquitectura portuguesa, alguns deles construídos nos arredores da cidade de Viana.
De realçar que uma das apostas maiores do seu trajecto profissional referia-se à concepção funcional e estética de edifícios de carácter colectivo, vocacionados para o alojamento de famílias de menores recursos económicos.
Um desses projectos de habitação social, localizado em Matosinhos, valeu-lhe o Prémio Vale da Gândara, atribuído pela Ordem dos Arquitectos em 2005.
Foi professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e noutras instituições de ensino dos Estados Unidos, França, Itália e Espanha.
Publicou vasta bibliografia sobre arquitectura para além de ter sido alvo de estudos publicados em livro por especialistas na área.
Era filho do conhecido ceramista Álvaro Rocha e pertencia a uma geração de vianenses que ocupam lugares cimeiros no panorama universitário e cultural português sem que, por uma razão ou por outra, os habitantes daquela cidade alto-minhota saibam das suas raízes tão próximas.
João Álvaro Rocha foi autor de três das estações de metro do Porto e de diversos edifícios marcantes na história recente da arquitectura portuguesa, alguns deles construídos nos arredores da cidade de Viana.
De realçar que uma das apostas maiores do seu trajecto profissional referia-se à concepção funcional e estética de edifícios de carácter colectivo, vocacionados para o alojamento de famílias de menores recursos económicos.
Um desses projectos de habitação social, localizado em Matosinhos, valeu-lhe o Prémio Vale da Gândara, atribuído pela Ordem dos Arquitectos em 2005.
Foi professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e noutras instituições de ensino dos Estados Unidos, França, Itália e Espanha.
Publicou vasta bibliografia sobre arquitectura para além de ter sido alvo de estudos publicados em livro por especialistas na área.
Era filho do conhecido ceramista Álvaro Rocha e pertencia a uma geração de vianenses que ocupam lugares cimeiros no panorama universitário e cultural português sem que, por uma razão ou por outra, os habitantes daquela cidade alto-minhota saibam das suas raízes tão próximas.
Mulheres bonitas
Ontem à tarde vi em Moledo 231
mulheres bonitas, em Viana 1742 e no Porto 1741. Quer isto dizer que num espaço
de seis horas apaixonei-me 3714 vezes. Não parece mas é Verão.
A praia
- Lurdes, traz-me os calções de banho
vermelhos.
- (...)
- Hoje vou finalmente reencontrar-me com o mar.
- É p'ra já, senhor doutor.
- (...)
- Hoje vou finalmente reencontrar-me com o mar.
- É p'ra já, senhor doutor.
A esplanada (II)
Agora sim, vão finalmente
extirpar-se as gorduras do estado. Já não era sem tempo. Olha. Aleluia. Acabou
de aterrar uma mulher linda na mesa ao lado da minha na esplanada. Viva o
estado mínimo.
Medicina e Arte
Francisco
Campos fez da vida e da medicina arte, muito mais do que ciência. Bela escolha!
Até sempre.
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