sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Ao meu pai


A vida é um círculo em permanente movimento. No princípio, o desconhecido; no fim cada um de nós. Ou então aqueles que de nós vierem. Assim sempre assim. 
Primeiro o meu pai, depois eu, depois os meus filhos. Antes tantos outros. Bonitos, maus, rancorosos, poetas, amantes. De tudo muito. Agora é a vez do Henrique, da Leonor, da Francisca, da Matilde. Todos nós sentados, de semblante expectante, pernas estendidas, o olhar lento de quem observa o resto pela janela do TGV. Sem destino determinado. 
Um dia vão ser eles a ultrapassarem a metade do percurso. Nessa altura terão provavelmente filhos. Que vão tornar o círculo maior. E perpetuar os que iniciaram a viagem primeiro. Ainda no comboio movido a fumaça. 
Serão parecidos connosco? Terão tanto de mim como tenho do meu pai? Afinal, o círculo pressupõe perpetuação. Eu sou o meu pai outra vez. Diferente mas igual. Com a escrita, o mar e tudo o que é belo a fazer-nos companhia. 
Estas palavras todas porque a data me induziu a tanto. Hoje não é o meu dia de aniversário. Mas faço anos porque o meu pai faz anos. Tal como sempre acontecerá enquanto eu for vivo. E o TGV não parar para sempre. 
Parabéns, Pai.

(Em 14 de Outubro)

Sem comentários: