quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Maria Leonor de Barros







Hoje não é um dia qualquer. A Maria Leonor faz nove anos. Tal como eu, daquela vez em que ganhei um relógio de pulso de homem crescido. Tanto tempo passou já. Parece uma eternidade, outro filme, uma vida irremediavelmente distante.

Agora é a vez da Leonor. Com ou sem relógio de pessoa grande. A corrida dela está prestes a começar. 1, 2, 3: os ponteiros do Longines do estádio avançam inexoravelmente. A Nonô vai começar a disputar o jogo inventado pelos grandes. Há barreiras para saltar, rasteiras para evitar. Não há dúvida, são tão estúpidos os "donos disto tudo". 

E que posso eu fazer para ajudar a correr veloz como um lince a minha Leonor? Ir em vez dela? Coitado de mim e principalmente da Leonor. Ela é melhor do que eu. Hoje passei pela escola onde estuda para entregar um bolo. A Leonor é muito inteligente, disseram todas e uma por uma as professoras. E ainda por cima ri e faz rir. Diferentemente de mim. E é desenrascada, autónoma. Ainda vai ser também "dona disto tudo", pensei eu. 

Neste arremedo de Verão pífio que nos abandonou sem alguma vez ter chegado, quis ensinar a bela Leonor a fazer a última das coisas que um pai pode fazer por uma filha: segurar no selim da bicicleta até ela ser capaz de se equilibrar sozinha. Dessa minha façanha restou a fotografia que abaixo se publica e na qual apareço muito favorecido. Da Leonor e da bicicleta ficou apenas o pó erguido pela bicicleta e pela nortada do Verão mentiroso. Derrotado, limitei-me a vê-las sprintar numa velocidade furiosa em direcção ainda hoje não sei de quê. 

Parabéns pelo teu aniversário, minha querida filha. 


(Em 16 de Outubro)

Foto da direita: Leçon de vélo (Bike Lesson),1961. Robert Doisneau

Sem comentários: