domingo, 25 de outubro de 2015

Páscoa na aldeia


Naquela manhã parecia alheada de tudo. O compasso a passar e ela a sorrir da noite anterior. A banda filarmónica a fazer estremecer a rua e a lembrança dos braços apaixonados do Raul a permanecerem no pensamento. No céu os foguetes e na sua frente o padre Avelino. E o namorado que ainda não aparecera. Será que alguém lhe foi contar alguma coisa? Começava a sentir as pernas a tremer. O muro segurou uma delas.

Sempre gostara da Páscoa e de olhar as pessoas. O músico do trombone, a Tia Paula feliz, os pequenos de cabelo lambido. Por isso sorria, embora não parecesse encontrar-se ali. O Armindo já deveria estar ao seu lado. Ainda vai acontecer uma desgraça. Mas quem lhe mandou ouvir as palavras sabidas do Raul? Malandro de rapaz. E bonito. E bem-falante. Às vezes parecia o Padre Avelino na missa a falar do pecado e da confissão.

A rua estava atapetada de flores. Foi na curva do Sr. Quintas que finalmente viu o namorado a chegar à Páscoa.

(Fotografia de Alfredo Cunha)

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