Há coisas que nem sempre se explicam. A razão
porque gostamos mais de umas pessoas do que doutras é um bom exemplo disto
mesmo.
A verdade é que se me perguntarem assim de repente acerca da
minha admiração por Bruce Sprigsteen, terei alguma dificuldade em responder.
Sentir-me-ei então obrigado a fazer uma viagem no tempo, até
ao início, quando o ouvia nas noites dolorosas de estudo na véspera das
frequências.
Depois o concerto em 1993 em Alvalade. Ao final da
tarde, ainda dia, quase sem luzes ou artifícios tecnológicos de monta (pelo menos na 1*
parte), um homem de calças de ganga, camisa e uma guitarra cantava sozinho no
palco mesmo à nossa frente, como se connosco estivesse na sala de estar lá
casa.
E a
liturgia dos espectáculos do Bruce já lá estava toda. Ouvi-lo ao vivo não é a
mesma coisa que escutá-lo nos discos. Ele é uma força da natureza. O chão e o
nosso corpo estremecem num misto de epifania e de redenção. Sem nada de
religioso por detrás deste fenómeno involuntário. Ou então tudo.
Será que é assim que as turbes são seduzidas
estética e emocionalmente? Apenas uma certeza: Bruce Sprinsteen fala da verdade
de cada um de nós, da vida de todos os dias, da vitória e da derrota, da
alegria e da dor, da democracia e da exploração humana, do amor e do desamor.
Mas
quase sempre com o grupo de metais a arrancarem-nos da terra, as meninas do
coro a indicarem-nos o caminho da felicidade e o cantor fisicamente
sobre-humano a saltar, correr pelo palco todo, dançar com a moça do público e a
afirmar que amanhã tudo vai ser melhor.
Desde 1993 vi-o muitas mais vezes: em Barcelona, em
Paris, em Nova York, em Budapeste, no Rio. Participei mais vezes na missa dele
do que na da igreja da minha rua.
Entretanto eu e ele conhecemos-nos. É por isso que
estamos neste momento sentados na esplanada da Benard depois de termos dado uma
volta por Lisboa.
Um aviso: escusam de vir procurá-lo no Chiado.
Vamos sair agora mesmo