sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Ao meu pai


O meu pai faz hoje anos. Faz ele e a Praça da República, o Café-Bar, as mulheres de Viana, os jornais de todo o país, as tardes de Outono, Ponte de Lima, Caminha, Arcos de Valdevez. E as tertúlias dos homens importantes de Viana, dos jornalistas, dos políticos, dos polemistas d'antanho. E a vida social da cidade toda, com os automóveis a circularem na Praça, as ondas de modernidade e desfaçatez formadas nas noites de Vilar de Mouros a quebrarem-se de encontro à foz, os torneios de mini-golfe de Vizela com os homens que mandavam no norte do país, as noites do Hotel do Pinhal, do Casino da Póvoa. E os escritores a ficarem mais velhos, os colegas dos jornais a morrerem como tordos a cair das árvores, e os amigos que se juntavam para colar os endereços d'O Vianense a fazerem viagens cada vez mais longas, contratadas na agência Turilis. E os netos a chegarem e a crescerem e os primeiros a irem estudar para Coimbra e Londres. E eu. No meio do rio. Entre uma margem e outra. A continuar o teu gosto de escrever e de observar os outros. E a ter orgulho de ser de Viana como tu. E a não ser mau tipo – penso eu. Alguns dizem que tenho um coração grande. Se assim for não será a escrita apenas a aproximarmo-nos. Será também a esplanada, o beijo genuíno da Rosa Ramalho e da Capitolina Amaral Pessoa, a palavra dita no momento e no contexto certos – que aprendemos com Jorge Amado e todos os outros, a vontade de dar a mão ao mais indefeso dos homens. 
 Eu e tu. Outra vez a fazeres anos. Eu deixei de os fazer aos 23.
Por isso é que hoje só tenho a idade que quiser ter e estou ao teu lado e do Severino Costa e do Alberto Couto e do Oliveira e Silva sentados à mesa do Café-Bar. 
Parabéns.

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