domingo, 31 de dezembro de 2017

Uma gata aqui em casa


Eu sei. É o declínio. Logo eu que tanto ironizei com os gatos dos outros no Facebook.

Um amante de cães a ter de aceitar a realidade da vida que raras vezes controlamos. 

Não me perguntem como mas o meu fim de ano foi invadido por uma gata de nome Vodka. Que quase ainda não a vi tão escondida ela anda debaixo de móveis e de recantos da casa que ela julga seguros. Mais um ser ingénuo por estas bandas. 

De tal forma ela é esconsa que não a pude ainda fotografar. Deve achar-se vedeta como o dono.

Por tudo isto, deixo-vos a única imagem possível da Vodka: ela apanhada a tirar a tirar selfies.

domingo, 17 de dezembro de 2017

O cargo de Presidente da República

 

Não, assim não. O cargo de Presidente da República tem como principal função a de ser garante da unidade de um povo. Para isso, precisa de estabelecer harmonia entre os três poderes políticos de um País: o executivo, o legislativo e o judicial. A não ser assim, nunca a nação se poderá reconhecer num Estado. Quer dizer, se um presidente estiver, em termos abstratos, ao lado de um povo contra as funções administrativas, políticas e judiciais que organizam um país, ou está a reunir em si todos os poderes exercendo um caudilhismo de consequências imprevisíveis ou, em termos igualmente hipotéticos, conduz os homens e mulheres reais em direção a uma utopia (neste caso de carácter pessoal), a que se chama normalmente de revolução.
Ora, num e noutro caso, ultrapassando em muito os seus deveres. É esta a razão por que não deve haver mistura de funções. O presidente tem o poder da palavra, o governo o de fazer. Claro que dizer e fazer têm natureza distintas. A prática tem mostrado que misturá-las não é um ato inteligente.
Prometer um número determinado de casas reconstruídas e prazos para entrega aos proprietários quando não se tem o poder executivo é no mínimo demagógico. Muito mais quando animadas estas promessas por itinerários repetidos de compaixão filmadas pelas televisões, ou por selfies fotografadas pelos homens e mulheres que viram arder os seus haveres, no caso dos incêndios deste Verão.
É então que aparecem os beijos e beijos, o abraço ao velho que chora dentro do seu papa-reformas. E também os convites da presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, para as diversas cerimónias e para o Natal que está chegar. “Só convidamos os que nos ajudaram”, diz Nádia Piazza, a fogosa dirigente que ainda vai fazer apaixonar muitos políticos neste país (quem o diz é Jorge Amado nos seus livros, mesmo sem ter tido o privilégio de a conhecer).
Para já, será homenageada com o prémio Cidadania 2017, entregue esta quinta-feira pelo Presidente da República. Depois vai fazer política nos discursos que se vão seguir. 
Não que alguma coisa seja criticável nisto. Existe natural revolta e vontade de fazer o luto que a intimidade de cada um exige. O problema é que já vimos esta cena demasiadas vezes. Muito recentemente até. Alguns partidos e aspirantes a cargos públicos a aproximarem-se e as figuras em ascensão a perderem a cabeça.
Entretanto o governo – todo ele - promove uma das operações mais rápidas e mais difíceis tendo em conta a complexidade que a mesma envolve, construindo casas e promovendo a recuperação económica das indústrias devoradas pelos fogos.
Enquanto isso, a associação da Nádia apresenta ao povo uma pintura acabadinha de fazer, a qual reproduz um presépio no qual participa o Presidente da República vestido de verde e vermelho – qual pastorinho a adorar o deus-menino, e a oferecer uma casa em nome dos portugueses. Iríamos jurar que ao lado está retratada a presidente da associação das vítimas.
E o António Costa? Não foi convidado nem para figurar no quadro nem para estar presente no Natal. Ele que ande pelos corredores de Bruxelas a pedir dinheiro e mande os seus ministros fazer os projetos de reconstrução daquelas zonas e, no fim, diga ao supremo magistrado da nação para ir entregar as casas pintadinhas. Moços, toquem o hino que os foguetes já estouram no ar.

(Foto: Expresso)

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Dias de incumprimento

 E pronto. Lá estou a pedir desculpas outra vez. 

As mensagens sem resposta, os textos que me apetece partilhar com os amigos e não publico, os pedidos de socorro ou apenas de ajuda a que não dou seguimento.

Os tempos não têm sido nada fáceis para mim e eu escondo. Sempre fui reservado. Não gosto de noticiar o que não é brilhante, claro, feliz. O único que vos posso dizer é que alguém contratou um ser demoníaco muito competente que me tem feito frente. Em pouco tempo fracturei um dedo do pé esquerdo, tive uma chamada de atenção de um órgão que temos cá dentro chamado coração, fracturei o pé direito e continuo a viver em Portugal.

A somar a tudo isto, fiquei sem telemóvel. Mudei de operadora – já não aguentava mais aquela que me agonizava a paciência há muitos anos – e agora estou à espera do modelo X que está esgotado. 

Entretanto, descobri que gosto de ajudar os outros desde que eles estejam a meu lado e me apanhem num momento não programado. Aí sim. Volto a olhar e a ouvir e a dizer. 

Ou então, em momento agendado pela minha querida Dona Lurdinhas – desde que deixou de ser ministra da Educação tem sido uma santa para mim. 

Vou passar a semana no Barreiro. Na agência de turismo de aventura do Bernardo Holstein dizem-me que sítio mais bucólico não há. Gosto muito de cada um de vocês.

sábado, 25 de novembro de 2017

Dia de mim mesmo


O leitor de certeza já reparou que todos os dias são dias internacionais de alguma coisa. Alguns têm directamente a ver conosco, outros nem num longínquo vislumbre. Ora eu gosto mais das festas que não são minhas do que as que têm a minha cara. Posso penetrar!? -- essas sim, gosto, sem pulseira VIP no pulso. 
Vem isto a propósito de hoje comemorar-se o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Tudo a ver comigo. Claro está: vou penetrar.  
O mesmo se passa no Dia Mundial do Não-Fumador, já fumei quatro maços diários -- hoje não fumo mas continuo a considerar o cigarro a melhor coisa que pode acontecer na vida das pessoas, desde que não constitua um passaporte para a doença --, ou o Dia Mundial da Poupança, logo eu que sou homem de excessos, quando gosto gasto tudo aquilo que tenho, seja através da emoção ou através do dinheiro. 
Como se não bastasse esta minha vontade de ser do contra, acrescente-se o facto de não concordar com a designação do dia de hoje. Então e o homem enquanto vítima? As mulheres não fazem ideia de quão difícil é ser homem nos dias de hoje. Eu próprio posso servir de exemplo: já fui ameaçado por mulheres com um revólver encostado ao meu salve seja córtex pré-frontal, perseguido semanas a fio por um automóvel que esperava horas que eu saísse de casa, ameaçado de um modo verosímil com o envenenamento que ia acontecer a qualquer momento. Não és meu, não hás-de ser de nenhuma outra. A conversa de sempre. 
No resto, não tenho qualquer contacto com a realidade da violência doméstica. Por isso é que o dia de hoje também é meu. Nunca na minha casa de infância e juventude as dificuldades foram resolvidas com violência. O pai e a mãe amavam-se tanto naquele tempo como hoje. Eu e o meu único irmão éramos um só. 
Uma vez ou outra o Dr. Quintino poderia, no entanto, descobrir algum sinal muito remoto de violência familiar, no que à relação entre os irmãos diz respeito. Principalmente quando a mãe me dizia: "Sérgio, vai buscar...", ao que eu respondia prontamente "Ouviste, Rogério?".
Dezasseis meses de vida nos separam. O amor nos juntou para sempre. Os trintas que hoje temos mais os setenta que hão-de vir.
E para o leitor que ainda resiste à leitura deste texto (transformado em desabafo), mostro a fotografia de família em jeito de atestado de tudo aquilo que disse.
Na fila de trás, ao centro e à direita, os meus pais. À esquerda, um primo, Adalberto Rolo Igreja, cidadão honorário do Rio de Janeiro, falecido este ano.
Em primeiro plano, à esquerda, o filósofo Rogério; à direita, o sábio Sérgio. 
Um pormenor que a mim dá umas saudades imensas: nas mãos do sábio, a revista Tintin, adquirida religiosamente todas as semanas, com um preço de capa não comparável com as publicações periódicas actuais. Era muito cara para um país como o nosso.  
E pronto: a nostalgia tomou conta de mim. Acontece muito com as pessoas sensíveis. Já não quero saber do dia da violência das mulheres. Acho que vou instituir o meu dia. A partir da uma da madrugada vou festejá-lo. Adoro a noite. Não há dia como a noite. Mais logo estarei no Urban Beach, eu só e o Paulo Dâmaso de Andrade, dono da discoteca, com quem gosto de conversar, ou então, num registo bem diferente, com a minha amiga Monica Bellucci. Não sei ainda com quem, na hora decido. 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Galope sem freio


Nem os cavalos do carrossel perpétuo querem o percurso de sentido único. Nova volta nova viagem. O tanas, ninguém a repete anos a fio de livre vontade. O funcionário de manga de alpaca fechado num cubículo sem luz, o dia todo a carimbar papéis, conhece bem este arremedo de vida.

Tal como os cavalos do carrossel eu não aceito a prisão de ser apenas uma escolha. Quero ser várias. Hoje mestre de cerimónias, amanhã só eu e o mar. Operoso e amante das esplanadas de nada fazer. De esquerda no Restelo e de direita no Barreiro. 
Os actores, as personalidades públicas, os escritores estão autorizados a serem diversos num só. Eu também quero. Eu e o Pessoa redivivo.  
É por isso que a mentira para mim não é somente mentira. É outra possibilidade de ser. Se calhar melhor.
Perceberam agora amigos que nunca me entenderam antes?
Eu quero fugir do carrossel sem destino e andar e errar e acertar no caminho. E ter histórias para guardar. As 722 mil que vivi não me chegam.  
Ouviste... deus dos outros?

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Adriana


Lembro-me muito bem de ti. Há anos que não te vejo. Vinhas a minha casa, o mordomo anunciava a tua chegada e íamos logo para o quarto. Despias-te devagar e eu encostado à parede do nirvana olhava-te. As meias, sempre as meias, eras esperta, enrolava-las ao mesmo tempo que desciam as Torres Gémeas. Era nessa altura que eu entrava em casa de nós os dois, bem junto a ti, mãos nas mãos. Uma eternidade depois fechavas os olhos e eu abria os meus para ver os teus fechados. Beijava-te, então. 

Nunca falamos nada de substancial. Sabia o teu nome, Adriana, a tua morada perto da minha e pouco mais. Existíamos juntos para assomarmos à casa imaginada onde éramos felizes. 
Apenas uma vez levei-te a jantar fora, à Capela dos Ossos, em Évora. E tudo porque naquele dia fizeste aquilo de que eu mais gostava: penteaste o cabelo frente a mim, esticaste-o até estar pronto o carrapito, o adereço com que o prendias na boca e eu a voar no céu, qual criança a tomar banho nas águas da praia. 
Agora sei - gostava de atravessar o túnel do Marão outra vez contigo. 
Agora sei. 


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O funeral dos professores

 Uma grande conquista. Pouco a pouco a vida avança. Desistir na vida é desistir na morte.

É sabido que os professores só daqui a muitos anos verão aumentados os seus ordenados. A situação é tão má que um professor ganha menos hoje que no ano 2000. Importa, por isso, encontrar outras regalias que aumentem a qualidade de vida dos professores.

Pois bem, estamos hoje em condições de anunciar o acordo com uma empresa de serviços que vem trazer a alegria e o progresso na carreira dos professores. Aos 72 anos, quando se encontrarem à beira da reforma, passam automaticamente a ter direito a um

FUNERAL DE SONHO

Organizado e realizado pela Servilusa, multinacional líder na prestação de serviços funerários em Portugal. Com funcionários fardados e música de câmara (segmento magno). Funerais espectaculares. Sem pagarem um cêntimo que seja. Um privilégio para os professores que tem em conta o facto de nenhum outro benefício remuneratório ser possível proporcionar-lhes em vida. 

A paz ao virar da esquina.

(Fotografia: revista Sábado)

sábado, 23 de setembro de 2017

Bruce Springsteen


 Já o escrevi várias vezes: gosto mesmo deste tipo. Da sua aparente bonomia, proximidade, simpatia. E das músicas que escreve, claro.

O Boss faz hoje anos. Como toda a gente, comemora os anos em Setembro. Eu e a minha filha Matilde também.
No entanto, nunca escrevo sobre o meu aniversário. Tenho 27 anos – e não gosto de os ter. Mas no dia do Bruce Springsteen, aí estou eu. Talvez a comemoração do equinócio ajude a explicar isto mesmo: Setembro é o tempo do pôr-de-sol, da mudança, do mar a afastar-se… e da nostalgia.
E também da contiguidade. A proximidade fica à distância de uma mão. Tu e tu e tu e eu ainda vamos ser felizes juntos. A ouvirmos Waitin' on a Sunny Day.
Parabéns, amigo Bruce Springsteen. E obrigado.

domingo, 20 de agosto de 2017

É hoje

 



- Lurdes, traz-me os calções de banho vermelhos. 
- (...)
- Hoje vou finalmente reencontrar-me com o mar. 
- É p'ra já, senhor doutor.

***

- És capaz de me dar uma sugestão de um sítio diferente, com pessoas realmente interessantes, onde não se fale só do clima e do vídeo-árbitro?
- Sou sim, senhor doutor, e o autocarro pára mesmo em frente.
- Levas-me a esse autocarro, Lurdes?
- Levo, claro.

***

- Tens mesmo a certeza que os calções vermelhos vão fazer sucesso?
- Sem qualquer dúvida, senhor doutor. Olhe, está aí o autocarro. E é da Barraqueiro. São aqueles de que o senhor doutor mais gosta. 
- Adeus, Lurdes. Diz à menina Sílvia Alberto que espere até ao meu regresso.
- E o que faço à Senhora Dona Catarina?
- (…)

 



O que pensam os outros de nós? Quem somos para eles? Kant falava-nos da impossibilidade de estarmos à janela a vermo-nos passar na rua. Em termos objectivos não vale muito a pena pensarmos nisso. Nunca nos conheceremos de modo absoluto.

Também não tem a importância que alguns dão. É verdade que os outros são o espelho de nós mesmos (Levinas escreveu maravilhosamente sobre isto). Mas quantas vezes somos vistos de forma deturpada. Umas vezes por culpa nossa; outras não. Interessa, por isso, fazermos uma introspecção daquilo que achamos de nós. Mas com verdade e espírito crítico.

Tantas vezes reflicto sobre mim. E nem sempre gosto das conclusões a que chego. É natural que assim seja. Não somos máquinas. Temos desejos próprios e gostos só nossos. 

Sei que sou egoísta, cínico, manipulador, egocêntrico, dissimulado. E outras coisas igualmente más. Mas não sou mau tipo. Tenho a certeza disso. Sabem porquê? Porque gosto dos outros. Muito mesmo.

Primeiro das mulheres, depois dos cães e por último dos homens. Claro que nem sempre respeitando esta ordem. Trata-se de uma generalidade e há pessoas excepcionais, que escapam a qualquer sistematização.

Vem isto a propósito das pessoas que me fazem companhia no Facebook – através de fotografias, dizeres, textos. Nem sempre me relaciono com elas tanto quanto mereciam. Digo sempre que sim, convencido que assim será, o tempo passa, outras tarefas e problemas aparecem, e o pedido de desabafo, de ajuda em alguns casos escorrega nas águas do rio que não aguarda por ninguém. 

E a minha vontade é estar com as pessoas. Abraçá-las algumas. Às vezes olho uma fotografia e o desejo de passar os dedos pelos cabelos daqueles seres é (quase) real. Por isso é que a D. Lurdinhas me faz tanta falta. Ela ordena o que para mim não tem ordem possível.

Moral deste desabafo: desculpem-me aqueles que têm mensagens por ver respondidas, pedidos a que não dei andamento. Não é por mal. Gosto de cada um dos amigos do Facebook. Se pudesse fazia todos felizes – ouvia cada um, desaparecia cumprindo o desejo daqueles que não gostam de mim, daria a mão à mão sem dizer nada ao mar e à lua, faria um filho a quem o quisesse. Por gosto, como diz a canção. Desculpem.

sábado, 19 de agosto de 2017

O cruzamento


A vida é uma longa viagem, percorrida através de caminhos de terra batida ou de autoestradas. Não é linear, não obedece a percursos predestinados. Muda sempre que a coragem, a derrota ou a vontade de mudança determinar. Nessas alturas deparamo-nos com o cruzamento. Obrigando-nos à situação mais difícil da tal viagem. A escolha. Do caminho a prosseguir, da capacidade de discernirmos acerca de nós mesmos.

Nas situações-limite queremos deixar tudo para trás, começar de novo. Como se isso fosse possível. A escolha acertada nasce da viagem já percorrida. Do que ela nos ensinou. Somos nós enquanto transformados pelo tempo e pelas vicissitudes da vida que podemos fazer uso da liberdade. Não é fácil. Muitos acham-se incapazes de olhar o mapa na procura do que está para vir. Mas têm que o conseguir. Para que a viagem ainda valha a pena.

Galgando as linhas da ferrovia em 1ª classe ou na carruagem das encomendas. Mas sempre de modo integral. Sem nada esquecido, apenas valorizando na proporção certa o que nos derrubou. Nem mais nem menos.

Se assim for, essa mudança de itinerário na viagem ainda nos vai fazer bem. Vivendo a liberdade de sermos nós na rua onde nascemos ou na 5ª avenida nova-iorquina.

Uma vez mais: inteiros, não lobotomizados de parcelas da viagem que ninguém tem o direito de nos expurgar. São as derrotas e as vitórias e os momentos assim-assim que nos tornam interessantes aos olhos dos outros e, principalmente, dos nossos.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Festas D'Agonia




Raras vezes a mulher é homenageada de modo tão expressivo como em Viana por este tempo de Agosto. São as Festas da Nossa Senhora D'Agonia. Esta noite as mulheres de Viana preparam o traje com que vão estrear a romaria. Com o fato completo ou uma simples blusa e os obrigatórios brincos demonstram o orgulho de serem desta parte de Portugal.

A História explica. Em Viana, por culpa da economia centrada na casa, tanto no espaço rural como na que decorre da faina marítima, o mando do dia-a-dia é feminino. A emigração dos anos 1960 e 70 fez o resto.

A consagração da mulher nas festas que começam amanhã é assim encarada como natural. A beleza do traje à vianesa (e não minhoto como os lisboetas chamam) é um prolongamento desta realidade de mando e de chieira.

Mas atenção: a roupa bordada com vidrilhos a imitar as estrelas e o ouro de ver a Deus não estão ao alcance de todas. Só daquelas que nasceram nas terras de Viana, que entregaram o coração a alguém do campo ou do mar dali e, na última das hipóteses, que mantêm alguma relação familiar com o passado alto-minhoto.

Não por uma razão de segregação: apenas porque só elas sabem vestir o passado celta de serem depositárias de uma alma própria.

sábado, 12 de agosto de 2017

Ferrari


Tem calma: a Ferrari vai fazer mais Sergios. Só para quem merecer. As mulheres mesmo mulheres, carinhosas sem serem peganhentas, sexuais sabendo além disso ler, companheiras só porque lhes apetece, com um corpo que é universo também. Aí vou aprovar.

domingo, 6 de agosto de 2017

Eu sou o Pablo Picasso

Arranjei-me para a praia num instante: foi só vestir os calções brancos que comprei na Hermès e pegar na primeira toalha que estava à mão. Nem levo a camisola às riscas. Tenho pressa do sol. E tu, Pulcinella? Queres a água, eu sei. Eu vou ver a vida. As prostitutas, os velhos, os ladrões, as meninas sem beira. As mulheres. Mas com os olhos nivelados e os seios-laranjas da Andaluzia. Apetece-me provocá-las. Desconstruí-las no corpo e no génio. Fazer-lhes mal e bem. Vamos tourear esta gente, Pulcinella. E o destino também. Eu sou Pablo Picasso.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O amor existe

Não, não é verdade. O amor existe. De muitas formas possíveis mas existe. E é imorredoiro. Pode ir e ir e parecer que não vem mais. Algumas vezes nem virá materializado em situações da vida. Mas o sentimento está lá. Escondido, amarfanhado, odiado. Até um dia em que haja a possibilidade de sentar connosco na esplanada. É muito difícil gostar verdadeiramente de alguém. De alguém que não somos nós. Que lê outros autores, que não viaja, que gosta do campo. Que diz mal de nós. Que nos é indiferente. E, de repente, não podemos passar um sem o outro. Ora uma coisa assim não acaba com um simples esfumar-se. Com um estalar dos dedos. Da mesma forma que não começou assim. Juntaram-se muitas coisas, sinapses, discussões, noites sem sono, emoções neurológicas não repartidas, para terminar assim. Por isso é que é sempre possível recuperar um verdadeiro amor. Como? Por favor, contactem a minha assistente, a D. Lurdinhas, para marcarem consulta comigo. Mas desse já vos digo que a agenda está preenchida até fins de Novembro. Até lá, meus amores.

sábado, 29 de julho de 2017

O aniversário da minha amiga



Não faço anos desde os 27. Mas tenho amigos que insistem em fazer. É o caso de uma mulher linda, de covas nas faces, minha amiga dos tempos da adolescência e que comemora o aniversário hoje. 27 anos, tal como eu. 

Explico sempre isto aos meus alunos de Psicologia: o savoir-faire de um conquistador das graças femininas depende em muito dos êxitos ou não das primeiras tentativas.

E o que é isto tem a ver com a aniversariante de hoje? Eu explico: Na altura éramos 20 rapazes que começávamos a suspeitar que a praia não servia apenas para apanhar banhos de mar e que passados uns anos teríamos que pagar um imposto chamado IMI. 

Pois bem -- todos eles, mas todos mesmo -- estavam apaixonados pela mulher hoje em festa. 

Agora adivinhem quem foi o primeiro a chegar à meta? Pois claro, eu mesmo. Ambos sabíamos, o escrevinhador destas linhas e a menina-mulher desejada que se anunciássemos ao grupo dos 20 o vencedor da medalha de ouro, acabava o Verano Azul daquele ano. Então, sempre que estávamos acompanhados, dávamos as mãos debaixo da mesa, despedíamo-nos com um beijo que preenchia um terço do rosto e dois terços dos lábios. Dificilmente sou capaz de repetir nos dias de hoje um beijo assim tão delicioso.

Actualmente é casada, tem filhos e é imensamente feliz. O marido é profissional da comunicação social com notoriedade nacional. Por isso guardo algum recato na identificação da mulher bonita, com covas nas faces, que fez de mim conselheiro perante os meus colegas das tácticas a cumprir para conseguir um sim feminino. 

Resta de toda esta história uma grande saudade repartida mais ou menos de igual modo pelos 19 rapazes mais eu mesmo.

Parabéns, mulher minha de um tempo irrepetível.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

A Cuca Roseta e os gelados Magnum



Desde que casou que não a via. Há um mês, portanto. Rumei a Mirandela para assistir a um espectáculo dela. E perceber como estava. Milhares de pessoas à espera da Cuca Roseta num anfiteatro de granito ao ar livre em frente ao Rio Tua. Cenário lindo. Nunca tinha estado naquela cidade transmontana e gostei. Muito bem organizada em termos urbanísticos e com gente bonita. Este último pormenor já eu sabia. Principalmente nos olhos grandes que só podem ter explicação genética.

Mal me viram as autoridades da festa disseram-me para ocupar uma das cadeiras que estavam reservadas não sei para quem. Simpática a gente de Mirandela.

A actuar em parceria com a minha amiga uma orquestra sinfónica lá da terra fundada a partir de uma escola profissional de música (Esproarte). Realidade que se está a espalhar pelo país através da criação de conservatórios regionais. Lisboa não sabe de nada. Que se cuide. Portugal em matéria de educação está a mudar muito.

E eis que sobe ao palco a Cuca Roseta. Está igual. O corpo não mudou. Há algum tempo que sei que mesmo que uma mulher deixe de ser virgem as alterações físicas não são visíveis a olho nu. A verdade é que dançou, percorreu o palco com a elegância de sempre. Bem, também é verdade que já tem dois filhos. Mas mesmo tendo em conta que o novo amor é preparador físico o corpo mantém-se intocado.

Também é notório que não está grávida. Notava-se bem este facto de palpável importância por causa do vestido: amarelo, brilhante e vaporoso, feito a partir da parte de dentro do papel-alumínio que envolve os gelados Magnum. Era tão celofane e colado ao corpo (se exceptuarmos as pernas) que permitia ver que não está de esperanças. O preparador físico está em férias e a Cuca está com a agenda muito preenchida.

O cabelo, esse, se não tivesse sido convidado para as cadeiras das pessoas ilustres, este vosso amigo tinha caído de admiração. Foi sempre das coisas que mais gostei nela. Comprido, muitíssimo bem penteado, liso, belo, muito belo. Mesmo como eu gosto de ver nas mulheres. Não sei porque nem todas usam o cabelo assim. Talvez por não saberem que uma das graças maiores do género feminino está no cabelo. É para onde os homens de bom gosto olham em primeiro lugar.

E, depois, quando fazem como a Cuca que mexe no cabelo instante sim instante não, ai abençoadas cadeiras dos convidados que fui salvo por uma delas. Aprendam senhoras, o cabelo e as meias e a estabilidade do lugar sentado dos homens têm uma importância crucial caso queiram ou não um determinado cavalheiro.

Quanto ao resto, a minha amiga distinguiu-se pela simpatia de sempre e o porte aristocrático desprendido que a caracterizam. Ah! E cantou bem.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

BJornal

Desde sempre a fazer jornais. 
A minha grande paixão (às vezes maior que a das mulheres).
Aos 9 anos brincava aos jornais recortando fotografias, colando-as numa folha branca grande e escrevendo os respectivos textos.
Aos 20 ajudei a fundar -- com o meu pai -- um jornal que ainda dura e há-de durar. 
Outros se seguiram. 
Hoje saiu este.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Carlos Drummond de Andrade


– Vocês ainda não sabem, mas não há nada melhor na vida que isso que estão fazendo. É como se o fogo-de-artifício caísse sobre Guanabara. A brisa amainasse o calor. O mar se tornasse de todas as cores. O corpo tremesse de emoção boa. Os lábios fossem o corpo inteiro. E eu fosse mais novo um dia.

domingo, 23 de julho de 2017

Doce por doce



Pronto. Aqui está o problema da minha vida. Já o tenho discutido vezes sem conta com médicos e outros técnicos de saúde. Sem conseguir obter uma resposta conclusiva: uns dizem que sim outros que não.

Mas, afinal, a Coca-Cola (e eu bebo a Zero) faz mal à saúde? A última médica que consultei disse-me que se for uma ou duas vá lá três por dia não traz prejuízos de maior.

A questão está toda no açúcar, no sabor a doce de que a vida tanto precisa.

Será que os amigos do face me podem ajudar com as vossas opiniões?

É que se acharem que não devo consumir a Coca-Cola, então eu como a rapariga do lado. Doce por doce… 

sexta-feira, 21 de julho de 2017

A esplanada


Aí está. O meu mundo. A esplanada. Janela de ver os outros. A desfaçatez e a vontade envergonhada. O glamour e o sórdido. A perna cruzada debaixo da saia e os olhos no chão com medo dos outros. A vida toda. Na esplanada.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

De algo ou alguém


À espera. Do sol, das horas, de Godot. À espera. Do fim da tese, do mar encapelado, do FCP campeão. À espera. Da avó outra vez viva, do leite amargo dado a beber por ele, do último número da New Yorker. À espera. Das luzes que não param na noite embriagada de música e de álcool, das ondas que vão e vêm, do corpo ritmado dele. À espera. De saber o que é ser feliz, das lágrimas compostas de átomos, da lua e do sol. À espera. De mim.  

Nastassja Kinski



Por causa dela morri alguns anos da minha adolescência.

domingo, 16 de julho de 2017

Luís Montez


Não há bem que sempre dure. Acabou o Super Bock Super Rock. O Luís Montez vai deixar de aparecer todos os dias na televisão. Com a sua casa como cenário. O Pavilhão Atlântico. E os jardins em frente ao Tejo, as obras de arquitectura e de arte urbana. A pala do Siza Vieira. Tudo dele. Assim como os jornais e as televisões. Um visionário da mediocridade portuguesa. O introdutor das pulseiras de cores diferentes. Que teve a avareza desmedida de acabar com o único festival mítico do nosso país: Vilar de Mouros. Um dos indivíduos mais antipáticos de Portugal. 

 

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Rostos da RTP


Em 2011 fugiram da RTP como ratos de um navio prestes a afundar. Director e Directora-adjunta de Informação, muito bem relacionados com a direcção do PSD, mal ouviram falar da privatização do canal público abandonaram a estação onde aprenderam tudo e sempre foram bem tratados. 
Algo me diz que nesta altura tentam o regresso à RTP mais uma vez com medo do que aí vem. A Altice não é gerida por gente conhecida das sedes partidárias, da noite ou das tertúlias que se sentam à volta do whiskey Jameson. A cobardia vai uma vez mais fazer das suas.

sábado, 8 de julho de 2017

Convidadas de última hora

 


- Maria dos Anjos!!! Quanto tempo... Estás igual... Que felicidade a minha... Deus é grande... E trouxeste as tuas sobrinhas... (Vou já servir-lhes um Porto Barros enquanto nós os dois conversamos)... Estou tão contente...

O enlace matrimonial seguido de lua de mel na Nazaré

 

Muito obrigado a todos. 
Eu e a Elza estamos cansados mas felizes. Foi um casamento muito bonito e abençoado com a presença de tantos amigos. Neste momento chegamos ao hotel da Nazaré onde vamos passar oito dias de felicidade celestial. A Elza está um bocado nervosa mas julgo ser normal nestas ocasiões. Adeus amigos, até ao nosso regresso.

sábado, 1 de julho de 2017

A MONICA E EU



É todos os dias isto. A vida tão difícil e a cidade a gozar comigo. O dia inteiro a preencher papéis no escritório de contabilidade. À noite os debates sobre futebol. E o sono a chamar-me para o quarto. Sento-me na cama e na casa em frente, a da Monica Bellucci, a vida a começar. Isto não se faz a alguém que passa o tempo a fazer contas. Sr. Fernando Medina faça alguma coisa para que eu volte a poder descansar. A cidade de Lisboa deixou de ser para quem trabalha.