Agora negam! Claro, iam dizer que sim, queres ver... Enfim,
depois dos médicos, os professores. As classes privilegiadas no seu melhor. Já
estou mesmo a ver as prendas dadas pelas editoras aos docentes: canetas Montblanc
a rodos, rave parties em Ibiza, fins de semana com festas de gala na Villa La
Vedetta, em Florença, e por aí fora. Fala-se mesmo à boca pequena de um casal
de professores da Escola C+S de Arruda dos Vinhos, que foi convidado para estar
presente esta sexta-feira na cerimónia da tomada de posse do Presidente Trump,
com direito, além do mais, a participar num dos muitos bailes comemorativos
daquele evento. Tudo porque o tal casal conseguiu adoptar na turma do 7º B, na
disciplina de Francês, o manual Vive la France. Uma vergonha!
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
domingo, 15 de janeiro de 2017
A propósito do congresso dos jornalistas
Tanta
vacuidade, tanta vaidade, tanta camisa de xadrez e bolsa a tiracolo – a farda
da profissão que se remata com a barba por fazer e o cabelo desgrenhado –
circularam por estes dias no congresso dos jornalistas. E protestos, muitos
protestos. Contra os outros, claro. Nunca assumindo os próprios erros.
São as
redes sociais e os energúmenos que as frequentam, consumidores acríticos da
não-verdade. Dois erros imensos de avaliação: a comunicação digital trouxe
possibilidades novas nunca sonhadas e que não a estão ser devidamente
aproveitadas pelo modelo de negócio da comunicação social; por outro lado, o
público consumidor de informação é completamente diferente do de há três
décadas atrás: muito mais culto, mais exigente. Escreve bem, por vezes melhor
que o jornalista profissional, frequentou cursos universitários exigentes.
Quer
isto dizer que o jornalismo profissional tem os dias contados? Claro que não,
bem pelo contrário. Tem é de evoluir em dois campos aparentemente
contraditórios mas que acabam por se complementar: a velocidade da notícia e o
enquadramento esclarecidos dos factos. E isto na mesma plataforma noticiosa,
seja digital ou impressa. Sim, digital também, essa ideia de que os textos mais
sérios ou mais extensos não têm lugar nas novas tecnologias informativas tem
sido um erro trágico.
O
leitor actual mudou tanto ou mais que o mundo actual. Já não lê no mesmo sítio
todos os dias, às mesmas horas. Fá-lo a qualquer momento – em viagem, em ócio,
durante o trabalho, em resposta a uma questão momentânea. Sem com isso admitir
qualquer desvalorização da qualidade informativa. Sabe é diferenciar, conforme
dissemos já, a mera notícia da mundividência que a envolve.
E
consulta a informação não nos sites noticiosos mas nas aplicações para
smartphones, ao contrário do que quase todos pensam.
O
sucesso de casos como o Observador ou El Español (ideologias políticas aparte)
constitui os primeiros passos de algo que vai necessariamente desenvolver-se.
E a
imprensa publicada? Terá sempre lugar, agora mais dedicada a públicos-nicho,
com o desenvolvimento e investigação dos temas em análise mais assumido, com o
design e a qualidade das fotografias objecto de um investimento diferente.
O resto
é lamúria, ignorância, desculpabilização à custa dos que não têm culpa. E, já
agora, mudem a forma de estar e reduzam essa atávica vaidade. Em verdade não a
merecem.
Francisco Sérgio de Barros e Barros
Carteira de jornalista TE-2
Carteira de jornalista TE-2
Foto:
Meios & Publicidade
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Morreu um aluno
Da morte o que nos separa é algo muito ténue. Por vezes quase
nada. Entra-se no carro do pai depois de um dia de aulas, percorre-se caminho
em direcção à nossa casa, vem uma carrinha em sentido contrário ao nosso e… é a
morte que nos abraça, leva-nos com ela, deixa um vazio nos outros que dói,
fere. É pérfida a morte. Principalmente quando se tem 17 anos, rosto de modelo
fotográfico, uma vida para amar. O Emanuel Veiga, aluno do Liceu de Bragança,
não merecia isto. Nem ele nem os outros que com ele sonhavam os dias que vêm
aí. Resta-nos mantê-lo vivo na nossa memória, nas festas que fizermos, nas
conversas que mantivermos daqui a 30 anos, na cidade de Bragança que soubermos
construir. Juntos a ele. Sempre.
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Falta a Julia Roberts
Estou numa esplanada onde o ser mais interessante
que aqui está é um fabuloso cão. Não está mal mas não era bem isto que eu
esperava.
domingo, 8 de janeiro de 2017
Adeus Mário Soares
Mário Soares morreu hoje. A notícia era
esperada há algum tempo. Estávamos por isso todos preparados para ela. Mas
mesmo assim custa. Não era uma pessoa qualquer. Muitos não saberão mas tempos
houve em que do nosso país os estrangeiros conheciam a Amália, o Eusébio e o
Mário Soares. Entre a geração de políticos de excepção que a Europa teve – sim,
um dia teve, parece incrível! – constam nomes como François Miterrand, Willy
Brandt, Olof Palme, Hans-Dietrich Genscher, Felipe Gonzalez, Helmut Schmidt, Helmut
Kohl, Jacques Delors e, claro, Mário Soares.
Mas não é disso que vou falar hoje. Fica
prometido para outros espaços de reflexão. Vou antes dar-vos conta da memória
pessoal que guardo dele.
Importa dizer que desde muito cedo
gostei de política. Lembro-me de criança ainda recusar o gesto afetuoso de
Américo Tomás ao querer fazer-me uma carícia na testa, num jantar faustoso,
depois de ter chegado no Rolls-Royce da Presidência; de integrar-me, alguns
anos mais tarde, na fila que na Sexta-Feira à noite esperava pela edição do semanário
Jornal (era eu o mais jovem dos clientes); de ler o Expresso de uma ponta à
outra (anúncios de emprego incluídos).
De Mário Soares recordo-me da 1ª vez que
estive com ele. Só não levava calções porque nunca mais os usei desde os oito
anos de idade. Abeirei-me dele, o meu herói político, não me lembro se consegui
dizer coisa alguma, cumprimentei-o e… não, não leiam mais aqueles que não
gostam dele... desejo-vos um tempo feliz na companhia da TVI… sejam vocês mesmo
segundo os mandamentos do Reiki… cheirei as mãos... e lá estava ele… um perfume
beatífico, dos Champs-Elysés, quase-terreno, quase-celestial.
E depois as gravatas. De um bom-gosto
irrepreensível. Os fatos feitos à medida num corpo que ultrapassava as
coordenadas dos dietistas mas que a altura acima da média ajudava a disfarçarem.
E que valia isso perante a verbe de
Mário Soares? Como jornalista acompanhei algumas vezes congressos, acções de
incentivo dirigidos à actividade empresarial. Escusado será dizer que havia
sempre indivíduos preparados para zurzir no político – a grande maioria
regressados das antigas colónias e zangados com tudo e com todos.
Mário Soares entrava nos anfiteatros com
o seu passo largo, o sorriso confiante no rosto e a inigualável desenvoltura
pronta a actuar.
Algum tempo depois, a bonomia posta em
acção, um interesse genuíno naquilo que os outros diziam, a última palavra
escolhida a preceito, e era vê-los juntos, braços nos ombros, irmanados na
ideia de progresso e de investimento.
É com muita emoção que escrevo
hoje sobre Mário Soares, o homem que mais me influenciou politicamente. Vivemos
na actualidade outros tempos, políticas novas. Dizem que pertencem à era da
pós-verdade. Pode ser que sim. Mas uma coisa não faça o possível eleitor nunca:
não se deixe representar por políticos que não saibam juntar o exercício
político à cultura, seja ela livresca, científica ou artística. Mário Soares é
o exemplo perpétuo disto mesmo.
domingo, 1 de janeiro de 2017
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