domingo, 26 de fevereiro de 2017

Ana Moura e o amor




Finalmente resolveste seguir o meu conselho e namorares. Ninguém pode falar de amor sem o viver. Depois do insucesso com o Márcio Silva, das tentativas mal sucedidas dos marialvas Ruben Alves e José Eduardo Agualusa, só mesmo o Ruben da Cruz poderia mostrar-te as estrelas à noite, deitados de mão dada na praia, a verem chegar as andorinhas e a Primavera. 
Dizes que estás apaixonada há um mês. Que bom um período de tempo tão longo. É necessário conhecermos aqueles a quem autorizamos que a nossa gata se aninhe no seu colo. Entretanto vai aos treinos. E continua a cantar como só tu o sabes fazer. Lá para Abril, então, embarcas em mim.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Luís Marques Mendes


Não resisto em dizer: Marques Mendes em termos de altura dá-me pelo cotovelo.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Eu e as escadas (No dia dos namorados)


A minha relação com as escadas sempre foi muito própria. Nunca achei que fossem degraus que nos levam a um qualquer apartamento. Para mim são leito de amor. Ou então sítio de transgressão aplainado pela paixão. Por isso é que toda a minha vida está ligada às escadas.

–  Lembras-te do nosso primeiro beijo? Tu um degrau abaixo do meu. Com os olhos de mulher jovem pronta para o amor. Eu, malandro de tanto saber, a dizer para subires o degrau. Até ficarmos no mesmo plano. Quer dizer, mais ou menos. Eu filósofo encartado e tu candidata a estudante de jornalismo.

E o beijo aconteceu. Os lábios pareciam carne aveludada que só o amor sabe distinguir. Tão intenso foi esse beijo que dele nasceram vários filhos.

E agora, voltarão eles às escadas, mais tarde, quando forem à busca do amor? Por mim, a reposta é muito clara. Para subirem ao 7º andar do prédio, utilizem o elevador, a Magirus, o helicóptero.

As escadas estão reservadas aos pais. Para sempre. Da mesma forma que da primeira vez.

Quanto aos filhos... tenho tanto medo do amor dos filhos. Porque esse sentimento tanto pode doer como pode embriagar-nos de felicidade. Mas o amor é isto mesmo. Eu sei. E eles são belos e inteligentes.

Não preciso por isso de me preocupar. Basta estar atento e de cartucheira debaixo do braço. O resto, o resto é a vida. Que pertence por dever e direito a cada um.

Feliz dia dos namorados, meus amores.


sábado, 11 de fevereiro de 2017

O amor, esse sentimento estranho...


Não há nada melhor que um amor feliz. Tudo se torna mais bonito, parece que vivemos noutra dimensão. O que está à nossa volta é relativizado, Trump é um indivíduo sem importância e a União Europeia pode acabar amanhã que ficamos na mesma.

O problema é quando não somos felizes no amor. Ou porque não somos correspondidos, ou porque não encontramos a pessoa certa. Aí pensamos uma vez mais na inutilidade de tal sentimento e de como viveríamos melhor se ele não existisse. Amava-se meio-dia, uma ou outra vez às cinco da tarde, vá lá, de quando em quando, uma noite inteira.

Vem isto a propósito daquilo que se está a passar com o meu amigo de adolescência Vítor Antunes (o da fotografia) adorado pelas mulheres daquele tempo -- logo a seguir a mim. Foi abandonado pelo seu amor. E sente-se terrivelmente só.

O Vítor é um alto quadro numa empresa londrina, propriedade de um excêntrico escocês, de nome Ian Wallace, que faz questão de vestir o kilt nas festas promovidas pelos colaboradores da sede.

Este meu amigo vive em paixão avassaladora no apartamento que divide com o seu namorado, o também português Zé D'Orey, que por sua vez é assistente pessoal do empresário escocês.

Na semana passada, naquela que estava aprazada ser a semana das arrumações do apartamento por parte do Zé, o malandro do amor pôs-se a andar para a mansão do homem do kilt.

Que não aguentava mais a recusa do sentimento e, ainda por cima, o Wallace tinha um filho adoptivo, justificou uns dias depois o D'Orey.

Neste momento o Vítor Antunes está só, vive a fase do nojo, e tudo isto faz-me muita impressão por, entre outras razões, a nossa amizade ser tão antiga quanto os nossos sonhos de felicidade futura. Coragem, Vítor.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Mulher velha - Mulher nova


"Pernas de criança sem roupa decente a cobri-las. Que vergonha! Podes bem roer as unhas todas que vais ter muito que esperar. A esta hora está com outra. Se eu no meu tempo esperava por alguém... Substituía-o logo por outro. Sim porque se há coisa que não me faltava eram homens. Bonitos, com bons cargos, gente de categoria. Também é verdade que era muito mais interessante que esta aqui. As minhas pernas à beira das dela... Coitada... Ainda hoje... O quê? Não acreditas? Cabra. Sabes lá tu. Vivi tudo a que tinha direito. Dormi com quem quis. Comiam na minha mão. São tão tontos os homens. Havia um ou outro... Mas agora não há nada parecido. Não valem nada. Tens muito para aprender, pequena. Vai-te embora que ele não presta. E veste alguma coisa decente. Ai se eu tivesse outra vez dezanove anos...!"


Photo by Henri Cartier-Bresson

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Para os meus alunos do 1º ano de comunicação


O trabalho de pivô das notícias sempre me impressionou. Atenção, 10 segundos, 5, o rosto coberto de creme pegajoso, 3, só os olhos e os lábios escapam à alvura imposta pelas luzes, 1, boa noite, Donald Trump fala com Bill Gates para que a internet seja interrompida por tempo indeterminado.
Como é que se chama a pivô? Não me lembro, mas isso agora não interessa nada. Theresa May garante que o Brexit é para levar adiante, uma granada explode em Ancara e mata 13 pessoas, engraçado parece que ela está a olhar para mim, não pode ser, ela não me vê.
Passam imagens de Ancara. Quando é que ela vem outra vez? Aí está. E continua a olhar de forma voluptuosa. Não. O Trump tramou isto tudo. Confirmo com um piscar de olhos. Nada. Nenhuma resposta da Ana Patrícia Carvalho. Mas eu iria jurar que...
Levanta-se agora. Aponta para as primeiras páginas dos jornais. Não vejo uma sequer. Só vejo a ela.
Um dia vou ao Barreiro, à terra da pivô tirar as dúvidas, digo para comigo sabendo que nunca o farei.
Acho melhor deitar-me e voltar à realidade. Pode ser que amanhã ponham a Teodora Cardoso ou a Ana Avoila a ler as notícias. Só assim saberei o que se passa no mundo.
Pego no telecomando para desligar a televisão quando ouço a Patrícia a despedir-se dos telespectadores e... num tom pausado... sensual... sem ponta de dúvida: "uma boa noite especial para o Sérgio Barros e Barros a quem convido para jantar comigo amanhã à noite no Altis Belém Hotel".
Não dormi, não comi até ao pôr-do-sol do dia seguinte.