A minha
relação com as escadas sempre foi muito própria. Nunca achei que fossem degraus
que nos levam a um qualquer apartamento. Para mim são leito de amor. Ou então
sítio de transgressão aplainado pela paixão. Por isso é que toda a minha vida
está ligada às escadas.
– Lembras-te do nosso primeiro beijo? Tu um
degrau abaixo do meu. Com os olhos de mulher jovem pronta para o amor. Eu,
malandro de tanto saber, a dizer para subires o degrau. Até ficarmos no mesmo
plano. Quer dizer, mais ou menos. Eu filósofo encartado e tu candidata a
estudante de jornalismo.
E o
beijo aconteceu. Os lábios pareciam carne aveludada que só o amor sabe
distinguir. Tão intenso foi esse beijo que dele nasceram vários filhos.
E
agora, voltarão eles às escadas, mais tarde, quando forem à busca do amor? Por
mim, a reposta é muito clara. Para subirem ao 7º andar do prédio, utilizem o
elevador, a Magirus, o helicóptero.
As
escadas estão reservadas aos pais. Para sempre. Da mesma forma que da primeira
vez.
Quanto
aos filhos... tenho tanto medo do amor dos filhos. Porque esse sentimento tanto
pode doer como pode embriagar-nos de felicidade. Mas o amor é isto mesmo. Eu
sei. E eles são belos e inteligentes.
Não
preciso por isso de me preocupar. Basta estar atento e de cartucheira debaixo
do braço. O resto, o resto é a vida. Que pertence por dever e direito a cada
um.
Feliz
dia dos namorados, meus amores.
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