terça-feira, 28 de março de 2017

Quem quer ser mais louco?


Há muito que não me ria tanto com uma notícia de jornal. Digo-o vezes sem conta à minha assistente, a D. Lurdinhas: quando alguém lhe parecer sofrer dalgum mal patológico mande-o para a psiquiatria. O caso não é da minha conta. Os políticos em corrida a ver quem produz o projecto de lei que torne mais rápido o intervalo entre um casamento e o que vem a seguir, incluem-se no grupo dos doentes. E são tantos. Num país como o nosso com o maior índice de divórcios em toda a Europa, com um número médio de três casamentos por vida, discute-se com tanto afinco se a espera do próximo matrimónio deve ser de 180 ou de 30 dias. Ou de nenhum. Inseridos como estamos no domínio da loucura, a última hipótese mesmo assim parece-me a melhor. Termina-se os trâmites do divórcio, não se muda de sala, apenas se troca a roupa interior na casa de banho ou no carro (o decoro nestas coisas é muito importante), e o novo conjugue pode entrar no outrora território do divórcio. Se há filhos para nascer, saber quem é o pai, que interesse tem? O que interessa é a felicidade do momento. O depois só é depois. O curioso disto é estar em causa uma instituição que ainda há pouco era renegada por aqueles que hoje se batem por todos os meios pela sua implementação geral. Todos se lembrarão de o casamento ser um ritual escusado, produto de uma sociedade hipócrita, com contornos burgueses. Agora são os mais interessados em reclamarem o casamento seguido de casamento. Está tudo doido.

Photo by Observador

domingo, 19 de março de 2017

Chega! Agora falando de coisas sérias...




Os meus filhos de 9 e 11 anos presentearam-me ao acordar com música clássica escolhida por eles, um pequeno-almoço como deve ser, poemas escritos e musicados pela genética de ambos e ainda a banda sonora que me acompanhou o dia todo. Escusado será dizer que fui às lágrimas com esta música.

O Facebook e eu


Diz-se tão mal das redes sociais e eu não concordo. Está ali o mundo todo. Qual dos mundos: o da verdade ou o da mentira? Que Platão não nos ouça mas existe um mundo só. Aquele que mente e diz a verdade. Às vezes quase ao mesmo tempo. Ninguém é apenas um; eu por mim sou vários. E quero sê-lo. Que aborrecido seria ser só um.
É isso que tem graça no Facebook: a diversidade. Há pessoas de todo o género por aqui. A mulher que escreve bem, a mulher que julga que escreve bem. O homem que acha que vai encontrar oportunidades que o tornarão feliz. A mulher sonhadora que nunca deixará de o ser.
Entre os meus amigos virtuais há pessoas excepcionais. De que nunca me esquecerei. Melhores que muitos dos amigos de carne e osso. Aliás, são estes os que me criaram mais dissabores nesta rede social. Fazem de conta que não se lembram, escondem os filhos, não dizem nada, desamigam-nos. E depois, a decepção: não são iguais ao que já foram, aquilo que lhes dava graça hoje percebe-se ser causado pela esquizofrenia ou, noutros casos, pela amargura a que a vida os conduziu.
Em seguida, as mulheres do Facebook. Pronto, lá vem ele com o tema do costume, pensam todos. E nada disto é verdade. Eu gosto é de pessoas. Sejam de que sexo forem.
Claro que gosto mais das mulheres. Mas eu não tenho culpa. A verdade é que são mais bonitas, mais caprichosas, mais desafiadoras, andam de uma forma que nem ao diabo lembraria… E as saias a esvoaçarem por entre as pernas, os cabelos a serem puxados para a frente e logo de seguida, de uma vez só, a regressarem ao sítio de sempre, levados por um vento que só as mulheres possuem. Sem que saibam o poder que lhes pertence quando mexem com os dedos nos cabelos. Raios as partam.
E agora a verdade de Platão e a minha também. Preparem-se. Nunca me encontrei com alguém que tivesse conhecido no Facebook, não utilizo os chats de conversação, conheço as pessoas apenas através das fotografias. Não respondo às mensagens, nem aos pedidos de aconselhamento.
Tenho-o dito várias vezes: quando quiserem entrar em contacto comigo devem falar com a minha assistente, a D. Lurdinhas. Muitas zangas têm resultado disto mesmo. E eu não sei ser de outra forma. Aliás, quem me conhece sabe da dificuldade que sempre me caracterizou em demonstrar o que sinto.
Eu gosto é das pessoas, já o disse. Na escola detestava estudar matérias que não tivessem directamente a ver com o ser humano. Por isso é que tento resolver os problemas dos homens e das mulheres. Mesmo que esses dilemas sejam do meu conhecimento apenas através do Facebook. A resposta vem depois. Superado um mal d’amor de uma mulher, por exemplo, o marido bloqueia-me ou cria um perfil conjunto com a dita ou ameaça-me através de mensagem.
Tenho passado por tantas coisas. Esquecendo-se os homens que controlar as páginas das suas mulheres é um erro crasso. Por três razões: porque sofrem desnecessariamente, porque todos temos direito a um tempo e a um espaço só nosso – por mais limitado que seja –, e também porque não serve de nada. Pode controlar-se algumas coisas. Menos o pensamento.
Mesmo assim vale a pena o Facebook. Há apenas uma coisa que não perdoo ao Sr. Zuckerberg: o algoritmo que escolhe por nós as pessoas, os dizeres, os textos, as notícias. Com consequências bem desagradáveis. Muitos dos que me acompanham nesta estrada virtual desaparecem durante meses e meses, são substituídos por outros que a fórmula matemática acredita serem mais do meu agrado. Controlam-me ou tentam controlar-me. E disso não gosto mesmo nada. Ouviu, senhor do livro na cara? Eu quero apenas continuar a estudar e a amar aqueles que comigo por aqui andam.

domingo, 12 de março de 2017

Outra vez Viana


Viana, finalmente Viana. Quantas saudades! Vão ser apenas algumas horas mas vividas com emoção. Sem que ninguém saiba. Haverá apenas sessão de selfies entre as 7 horas e as 7 horas e cinco minutos da manhã na Praça da República. Nada de visitas às IPSS, ao Bispo, às bolas de Berlim ou às empadas de lampreia do Manuel Natário. Em todo o tempo, só eu e o mar. E a Teodora Cardoso. Vão ser momentos Zen. De paz total. Por isso é que é importante que não seja do conhecimento público este meu reencontro com Viana. Se eu quisesse que se soubesse publicava a notícia no Facebook.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Agora é a vez dos homens


Hoje comemora-se um dos 364 dias do Homem. Magro reconhecimento da dificuldade de o ser nos dias de hoje. A deusa não quer saber e o escravo tem vergonha de dizer o que lhe vai na alma em público. Além de que lhe falta tempo. Tem de agradar a todos sem parar. E de assinar as contas, os contratos, os processos judiciais, as notas dos filhos que estudam na Católica (a tal que só reconhece a existência legal do pai). Passa tardes na Zara com um calor do deserto -- o suor a cair-lhe pelo rosto -- a acompanhar a mulher nas compras, ao mesmo tempo que lhe ouve as queixas da Tita, da Kika, da Mimi. Manifesta interesse em ver a biografia de Tolstoi e ela a querer assistir ao jogo do Benfica na Sport TV. E depois a conversa do costume, temos de falar mais vezes do que eu gosto na cama, já não gostas de mim, um dia isto vai acabar mal. As ligas a quererem dar um sinal da sua graça debaixo do robe e a Teodora Cardoso a falar na televisão. O telefone toca, querem vender colchões mas só aceitam falar com o homem da casa. O corpo a pedir cama que o dia de amanhã é extenuante. Aturar o chefe, penetrar a intimidade que as pernas da colega Júlia ajudam a encontrar, fazer o cunnilingus à vizinha do 3* esquerdo antes do jantar. À noite assistir ao debate sobre os erros daquelas azémolas dos árbitros do Benfica-Torres Vedras, visitar por volta das três da manhã os aposentos da Lurdes, a empregada da casa que espera furiosa pelo senhor desde a meia-noite e um quarto, acabar de preencher a auto-avaliação que ficou de entregar no departamento de recursos humanos. 
Tem de ser aprovada a sua prestação profissional assim como a sua performance sexual. Que diria a Teresa e a sua amiga Michelle quando amanhã se encontrar com elas e o desempenho resultar em algo que não corresponda aos mínimos olímpicos. Não que as mulheres não são como os homens. Não se calam. Contam tudo. Destroem o prestígio de um macho em dois tempos. São mais discretos os técnicos do departamento de recursos humanos. Malvadas das mulheres. Os homens têm de estar sempre prontos. Quer queiram quer não. Em pé é a posição natural daquele que usa fato e gravata e tem de lutar pela defesa da honra da mulher e dos filhos. 364 são poucos dias.

segunda-feira, 6 de março de 2017

A senhora deputada


Estou numa sessão pública a ouvir uma senhora deputada como oradora principal. Conheço-a há muitos anos. Destacava-se pela beleza e pela serenidade que transmitia. Viajamos no mesmo automóvel muitas vezes. Protagonizou a história de amor mais bonita de que fui testemunha.

Hoje olho para ela e confirma-se a minha sensação de repugnância, de desdém consciente. Escrevi um dia que não acredito na amizade. As pessoas transformam-se, são máscaras estranhas daquilo que um dia foram. Principalmente se entretanto se tornarem representantes da nação. E salvo honrosas excepções ser deputado vale muito pouco.
Às vezes a vida é uma tristeza.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Isabel Moreira


Primeiro que tudo tem um pai admirável… Que a olha com um misto de respeito intelectual e de enternecimento. E que sorri perante as aventuras sem dono da Isabel. A trote ou a galope desenfreado. 
Poucos portugueses a conhecem verdadeiramente. Elegante, caprichosa no vestir, é dona de uma sensualidade rara. Gosta de homens que gostam de mulheres que gostam de homens. Tem bom bosto a Isabel. Quase tanto quanto eu quando a escolhi como amiga.

Photo by Lux Woman