domingo, 19 de março de 2017

O Facebook e eu


Diz-se tão mal das redes sociais e eu não concordo. Está ali o mundo todo. Qual dos mundos: o da verdade ou o da mentira? Que Platão não nos ouça mas existe um mundo só. Aquele que mente e diz a verdade. Às vezes quase ao mesmo tempo. Ninguém é apenas um; eu por mim sou vários. E quero sê-lo. Que aborrecido seria ser só um.
É isso que tem graça no Facebook: a diversidade. Há pessoas de todo o género por aqui. A mulher que escreve bem, a mulher que julga que escreve bem. O homem que acha que vai encontrar oportunidades que o tornarão feliz. A mulher sonhadora que nunca deixará de o ser.
Entre os meus amigos virtuais há pessoas excepcionais. De que nunca me esquecerei. Melhores que muitos dos amigos de carne e osso. Aliás, são estes os que me criaram mais dissabores nesta rede social. Fazem de conta que não se lembram, escondem os filhos, não dizem nada, desamigam-nos. E depois, a decepção: não são iguais ao que já foram, aquilo que lhes dava graça hoje percebe-se ser causado pela esquizofrenia ou, noutros casos, pela amargura a que a vida os conduziu.
Em seguida, as mulheres do Facebook. Pronto, lá vem ele com o tema do costume, pensam todos. E nada disto é verdade. Eu gosto é de pessoas. Sejam de que sexo forem.
Claro que gosto mais das mulheres. Mas eu não tenho culpa. A verdade é que são mais bonitas, mais caprichosas, mais desafiadoras, andam de uma forma que nem ao diabo lembraria… E as saias a esvoaçarem por entre as pernas, os cabelos a serem puxados para a frente e logo de seguida, de uma vez só, a regressarem ao sítio de sempre, levados por um vento que só as mulheres possuem. Sem que saibam o poder que lhes pertence quando mexem com os dedos nos cabelos. Raios as partam.
E agora a verdade de Platão e a minha também. Preparem-se. Nunca me encontrei com alguém que tivesse conhecido no Facebook, não utilizo os chats de conversação, conheço as pessoas apenas através das fotografias. Não respondo às mensagens, nem aos pedidos de aconselhamento.
Tenho-o dito várias vezes: quando quiserem entrar em contacto comigo devem falar com a minha assistente, a D. Lurdinhas. Muitas zangas têm resultado disto mesmo. E eu não sei ser de outra forma. Aliás, quem me conhece sabe da dificuldade que sempre me caracterizou em demonstrar o que sinto.
Eu gosto é das pessoas, já o disse. Na escola detestava estudar matérias que não tivessem directamente a ver com o ser humano. Por isso é que tento resolver os problemas dos homens e das mulheres. Mesmo que esses dilemas sejam do meu conhecimento apenas através do Facebook. A resposta vem depois. Superado um mal d’amor de uma mulher, por exemplo, o marido bloqueia-me ou cria um perfil conjunto com a dita ou ameaça-me através de mensagem.
Tenho passado por tantas coisas. Esquecendo-se os homens que controlar as páginas das suas mulheres é um erro crasso. Por três razões: porque sofrem desnecessariamente, porque todos temos direito a um tempo e a um espaço só nosso – por mais limitado que seja –, e também porque não serve de nada. Pode controlar-se algumas coisas. Menos o pensamento.
Mesmo assim vale a pena o Facebook. Há apenas uma coisa que não perdoo ao Sr. Zuckerberg: o algoritmo que escolhe por nós as pessoas, os dizeres, os textos, as notícias. Com consequências bem desagradáveis. Muitos dos que me acompanham nesta estrada virtual desaparecem durante meses e meses, são substituídos por outros que a fórmula matemática acredita serem mais do meu agrado. Controlam-me ou tentam controlar-me. E disso não gosto mesmo nada. Ouviu, senhor do livro na cara? Eu quero apenas continuar a estudar e a amar aqueles que comigo por aqui andam.

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