O meu
fim de tarde de hoje foi diferente. Estive em amena cavaqueira com o Souto
Moura. Eu e mais cem pessoas. Ao fim de hora e meia de histórias contadas com
sentido de humor, a conclusão de sempre – as pessoas quando são cultas
entregam-se ao auditório, fazem de tudo para agradar. Podia ter falado de
arquitectura na sua variante teórica, no sortilégio do traço ou da luz. Souto
Moura preferiu falar daquilo que ele sabe que o público gosta mais. De onde surgiu
a ideia de escolher aquela área de estudos, a família, o irmão
procurador-geral, a pedreira de Braga transformada em auditório greco-romano. E
a Ana Sousa Dias, esperta, a espevitar essa intimidade entre os assistentes e
ele. O prémio Pritzke a rir do prémio Pritzke, a falar do risco que não sabia
fazer enquanto estudante de arquitectura. Por fim, o elogio humilde do
discípulo ao mestre Siza Vieira que lhe ensinou muito do que sabe. Da bondade e
misticidade do Álvaro enquanto homem e artista. Gostei muito de o ouvir sozinho
comigo. Percebi-o principalmente quando um colega meu no final da rábula, num
outro espaço mais resguardado, perguntou-lhe “Cansado?” e olhei para a cara
dele e vi um homem com vontade de estar isolado com ele mesmo, bom tipo mas
ansioso de amainar os nervos e voltar a ter um lápis na mão.
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