Era a
terceira paróquia daquele dia, em terras do interior, sem gente e a pouca que
ali vivia à espera do passamento para a eternidade.
Trinta
e três graus no céu e trinta e três botões na sotaina. Quantas saudades de
Salamanca e do tempo da Páscoa que lá se vivia. Festejava-se a Ressurreição de
Cristo e a chegada à vida adulta das jovens tresmalhadas.
Ao
mesmo tempo discutia-se o pecado e a redenção. Era considerado pelos pares um
padre promissor. A tentação e o diabo encarregaram-se de o mandar para aquele
fim do mundo.
E o
calor que não dava tréguas. O calor e as mulheres velhas que queriam o
salvo-conduto para o céu.
Ao seu
lado uma delas falava e falava cumprindo o sacramento da confissão. Não a ouvia
porque diziam todas mais ou menos a mesma coisa. Que a vida era difícil, os
filhos fora a fazerem pela vida, o marido enterrado naquela terra de satanás.
O padre
resolveu despertar daquela letargia e finalmente perguntou qual a sua
contrição. A mulher velha pôs a mão no sacerdote e disse-lhe: “Eu o absolvo dos
seus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Os
trinta e três botões e o cabeção cada vez mais sufocavam o homem de Deus e dos
dias de Salamanca, mas mesmo conseguiu responder: “Ámen".
"Vá
em paz e reze três Ave Marias e dois Padre Nossos" – sentenciou a velha.
O padre
levantou-se resignado, pensou na casa paroquial, nos trinta e três botões de
que finalmente se ia livrar e na ceia cozinhada com fé pela santa da Rosalina.
Photo by Cristina Garcia Rodero, 1980
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