quarta-feira, 5 de abril de 2017

PSSSTTT… FAZ FAVOR!


Eu sei que muitos dirão que isto é um não-tema. Os tempos são outros e não vale a pena lutar contra a realidade feita norma. Mas não desisto em nada assim tão fácil.
Em primeiro lugar porque a vida tem regras que a tornam possível em sociedade. Em segundo porque há coisas que são nossas e não podem ser de mais ninguém.
Entre estas últimas está o nome. É ele que nos identifica em primeiríssimo lugar. Por isso tem tanta importância a forma como é dito. E aqui entram as regras. Vou falar-vos de algumas.
Pensei consultar a Bíblia do Palácio das Necessidades – o manual sobre protocolo de Estado da autoria do embaixador Calvet de Magalhães – ou mesmo o Código Bobone, mas achei que o assunto não merecia tanto.
De modo resumido, então: aqueles que me chamarem de Sr. Francisco, em Lisboa ou no interior do País, ou Sr. Sérgio no litoral norte, lanço sobre eles mau-olhado que vai perdurar até à 5ª geração. E atenção. Sou bom nisto. Que o digam os alentejanos que tantas vezes solicitaram os meus serviços para lhes tirar o diabo do corpo.
Como devem então chamar-me? É fácil. Se não quiserem dar-se ao trabalho de me chamarem senhor embaixador, que é o título que mais condiz comigo, basta juntar o apelido ao meu nome próprio. Por exemplo: Sr. Francisco de Barros, Sr. Sérgio de Barros, ou mesmo Sr. Barros e Barros. Se não quiserem usar o termo senhor, porque dá algum trabalho, também não faz mal. Dispenso-o com a bonomia com que normalmente prazenteio a Monica Bellucci.
Mais. Se por acaso se cruzaram comigo mais que duas vezes, ou forem meus amigos no Facebook, agradeço que me nomeiem simplesmente de Francisco ou, então, de Sérgio. Há muito que a Monica sabe disto e não lhe custou nada.
Agora como me aconteceu outro dia na esplanada, com uma empregada dos seus 20 anos, que me disse “e o amigo vai querer o quê?”, não, mas não mesmo.
Ainda lhe perguntei se era minha amiga no Facebook, mas perante a resposta negativa, logo ali lhe lancei a maldição a todos os seus namorados, filhos, netos e por aí fora, tal o destempero da moça.
Quando se me dirigem com o epíteto de jovem – merecido, por sinal – bom, aí sou mais condescendente. Coitado do rapaz, vem de famílias pobres, teve péssimos professores. E por aí fora.
Já a mesma sorte não têm os meus clientes. Quando a minha assistente, a D.ª Lurdinhas, os ouve a chamarem-me de setôr e não de senhor doutor, logo o sangue do Minho sobe ao rosto, e manda-lhes um bofetão que faz a cadeira giratória rodar no mínimo 23 vezes.
Facto que, conforme calcularão os meus amigos leitores, muito me desgosta. A mim e à companhia de seguros que começa a fartar-se do pagamento de tantos cuidados de ambulatório. Abençoada hora em que fiz o seguro de acidentes de trabalho!

(Ilustração de René Magritte)

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