terça-feira, 30 de maio de 2017

Perfumes Azzaro


Para os homens que gostam de mulheres que gostam de homens.

(Tal e qual para este senhor artista)

sábado, 27 de maio de 2017

Relógios Patek Philippe


Nunca somos verdadeiramente donos de um Patek Phili...,
perdão, de um guarda-sol de 12 varetas.

Apenas cuidamos dele
para a geração seguinte.

A viagem


– A menina importa-se de me dizer a que horas sai o próximo navio?
– Não sei, também estou à espera de partir nele – respondeu a minha tetravó ao meu tetravô.

sábado, 13 de maio de 2017

Finalmente: Portugal vence o festival da Eurovisão


Ao mesmo tempo que nas três últimas décadas os jornalistas e os líderes de opinião diziam mal da escola e dos professores – ao contrário do que acontecia com o serviço nacional de saúde –, os jovens portugueses iam mudando a uma velocidade estonteante. Mais cosmopolitas, mais criativos, mais sabedores. A saberem ler música e a escreverem bem. A investigarem em laboratórios matérias complexas. Mesmo com os políticos a fazer asneiras no ensino. E os jornalistas a odiarem os professores.

Um dia vai ser preciso fazer a história de tudo isto e dizer os nomes dos iluminados que tantas idiotices disseram nas mais diversas tribunas mediáticas. Mesmo sabendo que nem todos os jovens chegaram aonde todos gostaríamos. Nem eles nem a sociedade em geral. Mas a verdade é que os novos portugueses não diferem dos outros europeus. É vê-los em qualquer areópago internacional.

É neste contexto que aparecem jovens como o Salvador Sobral ou a irmã. Altivos, sem serem arrogantes, simpáticos porque inteligentes, cultos e diferentes. A falarem inglês e a saberem música. Com noção elevada do bom gosto. A terem consciência que o simples é o mais difícil. E que a qualidade reside na imaginação e não no visual feérico.

Salvador Sobral percebendo tudo isto criou no entanto um boneco. Bem engendrado. Minimalista mas verdadeiro. A apelar ao sentimento que a música e o poema juntos conseguem na perfeição. Mexendo com as pessoas. Todas. De qualquer língua. A partir do português. Essa língua que é um sentir próprio de um povo muito antigo. E moderno também. Que mistura a saudade do mar e a vontade de descobrir a ciência. Que continua a escrever poesia como poucos. E passo a passo começa a perder a vergonha de si mesmo, imposta por tempos de miséria e de ignorância. Servindo o poder de poucos.

Seria uma lição se os portugueses vissem a conferência de imprensa para estrangeiros que se seguiu ao festival. Os nossos políticos não conseguiriam uma prestação como a do Salvador Sobral. Falou com uma desenvoltura e um sentido de humor que conquistou todos. Da mesma forma que antes tinha criado um dos momentos mais altos da história do Eurofestival: a interpretação da canção vencedora ao lado da irmã que provavelmente os europeus nem sabiam que cantava. Portugal e o Salvador estão de parabéns. E a União Europeia também.

Francisco Sérgio de Barros e Barros
(Carteira profissional de jornalista TE-02)

quinta-feira, 11 de maio de 2017

As aparições e a minha vida


O transcendente visitou-me algumas vezes. Como a qualquer um dos leitores. Nessas ocasiões algo provoca em nós espanto. E por vezes muda-nos. É como se houvesse um corte com o passado.

Esse encontro com o passado acontece muitas das vezes com a visão ou mesmo com a aparição. Eu sei que o encontro com o sobrenatural tem diversos graus de impacto emocional. Falarmos com Deus não entra nestas minhas cogitações, os meus amigos jesuítas fiquem descansados acerca da minha saúde mental.

Até porque infelizmente não sou religioso. Quando falo em acontecimentos marcantes, próximos da ruptura com o que já se foi, falo da leitura de um bom livro, de uma conversa que não se esquece. Coisas assim.

Por exemplo, de quando li O Homem que Olha do Moravia, ou vi no cinema o A Filha de Ryan de David Lean. Ou quando toquei pela primeira vez o corpo nu de uma mulher.

O que é que estás a dizer? Não te ouço, Zuckerberg... Ah! Descansa. Apenas vou falar de testemunhos pessoais mas partilháveis por todos. Que toda a gente possa traduzir para a sua própria vida.

Deixa-me pensar, Zuckerberg. Já sei o que escolher: a aparição de 1990 – era eu um adolescente. O hotel onde hoje estou hospedado, o Beverly Wilshire, em Los Angeles, também não me deixa muita margem de manobra em matéria de recordações marcantes.

Lembro-me de nesse ano, uma mulher linda "mais brilhante do que o Sol" olhar nos meus olhos, sorrir nos seus olhos, e dizer com os lábios mais fantásticos que alguma vez o Chiado viu: "Qual a cor do preservativo que queres?” Olhei para aquele anjo e não sei porquê lembrei-me da deputada comunista muito em voga naquele tempo – a Odete Santos. Não tinha nada a ver.

Sei que no dia seguinte, depois de uma noite de oração e muita descoberta metafísica, dei à Vivian (era esse o nome dela) o cartão da minha mãe do Continente para comprar roupa no Rodeo Drive. O vestido de cor castanha e fogo-de-artifício branco foi nesse dia que caiu do céu.

À noite fomos à ópera em São Francisco. Ela levou uma toilette vermelha que tinha usado no filme Pretty Woman e fomos na camioneta do Barraqueiro. Durante a viagem conversamos muito. A Vivian era uma mulher muito experiente e quis dar-me alguns conselhos sobre o sexo feminino. Que nunca me deixasse seduzir pelas mulheres russas. Principalmente quando louras de cabelo comprido e a tocar piano. Primeiro tinha de usar o meu charme – que ela achava eu possuir às carradas – e assim proceder à conversão delas aos meus princípios. Depois revelou-me algo de trágico a acontecer no meu futuro mas que não poderia dizer mais porque era segredo. Prometi-lhe o cartão da minha mãe da Loja das Meias e ela então falou-me que alguém iria atentar contra a minha vida. Preveniu-me ainda que via armas no meio daquele presságio. Não percebi nada até uns anos mais tarde uma mulher apontar uma pistola à minha cabeça por eu não querer mais nada com ela.

Mas voltando à Vivian e à ópera: ela em forma de anjo com o rosto em cima do meu ombro, a música a ecoar naquele teatro, e as lágrimas… Sérgio… Sérgio… Acorda que são horas da escola! Abri os olhos e vi a minha mãe como sempre preocupada comigo. Que horas são? – perguntei. Oito horas. Dentro de meia hora tinha a minha professora de francês a lembrar-me que no mundo não há só corpos celestes.

Se fui o mesmo de sempre na aula de francês? Não, não fui. Nunca falei tanto francês na minha vida e em feux d'artifice e na apparition de la Sainte Vivian. Uma autêntica epifania aquele sonho.


terça-feira, 9 de maio de 2017

A vida devagar


Éramos e somos três. De todos o mais vivo eu mesmo. Só se for agora, que naquela altura não. Todos bons miúdos na fotografia, ao contrário de agora Hoje tenho a consciência de o não ser. Dois irmãos e uma amiga quase irmã. A bonita Melita. Hoje são pais, escrevem e vivem de modo autónomo. Com saudades de serem como na fotografia. O Rogério com o dedo no nariz e um jeito muito grande para o futebol. Ela coquete a dar os primeiros passos na capacidade de comunicação. E eu sonhador e observador de você que lê estas linhas. O facto de sermos os três filhos de directores de jornais de Viana, uma das cidades mais bonitas de Portugal talvez explique alguma coisa.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Joana Amaral Dias


Meninas:
Este Francisco Sérgio é um misógino, um machista da pior espécie e um narcisista incorrigível. Se o virem, fujam dele. Telefonem-me imediatamente indicando o local onde o poderei encontrar. Para a frente é que é o caminho.
Agradecida!

Ainda não apareceu...


– E o Francisco Sérgio que nunca mais chega!

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Janela para o mundo


–  Olha Pirolito quem vai ali, a desavergonhada da Alzira! Organizou a viagem a Benidorm e ficou com parte do dinheiro.
– Esperta foi ela, Dona Cândida. Combinou com o Soares da agência receber por cada cabeça. E ainda por cima andou com o motorista durante o passeio, como é que ele se chama?, o Zé da Madalena.
– E a filha? Experimentou os rapazes todos de uma escola de Vigo que estavam lá de férias.
– Dona Cândida... não se sabe... diz-se.
–  Pelo meu falecido Albano. Quem me conhece sabe que não gosto de falar da vida dos outros, mas que é autêntico, lá isso é... E só não foi com o professor porque a directora da escola já o tinha arrebanhado.
– E a Dona Cândida não protestou durante a viagem?
–  Ó Pirolito, sabes lá... O Sr. Américo insistiu muito para eu não dizer nada, que ia ser um escândalo e a fama de todos ia ser prejudicada.
–  O que vale a esta rua é ainda haver pessoas como a Dona Cândida. Ainda ontem o Sr. Américo falava disso quando a veio visitar.
– Sabes Pirolito, ainda está para nascer alguém tão honesta como eu.
–  Lá isso é verdade – disse o Camilo Lourenço quando leu esta crónica.

O meu Pai


A fotografia é minha. O rosto, as mãos, a casa e eu próprio são o meu pai.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Mulher à Chuva


 – Ana Teresa: chega, anda para casa, pareces uma criança.