sábado, 13 de maio de 2017

Finalmente: Portugal vence o festival da Eurovisão


Ao mesmo tempo que nas três últimas décadas os jornalistas e os líderes de opinião diziam mal da escola e dos professores – ao contrário do que acontecia com o serviço nacional de saúde –, os jovens portugueses iam mudando a uma velocidade estonteante. Mais cosmopolitas, mais criativos, mais sabedores. A saberem ler música e a escreverem bem. A investigarem em laboratórios matérias complexas. Mesmo com os políticos a fazer asneiras no ensino. E os jornalistas a odiarem os professores.

Um dia vai ser preciso fazer a história de tudo isto e dizer os nomes dos iluminados que tantas idiotices disseram nas mais diversas tribunas mediáticas. Mesmo sabendo que nem todos os jovens chegaram aonde todos gostaríamos. Nem eles nem a sociedade em geral. Mas a verdade é que os novos portugueses não diferem dos outros europeus. É vê-los em qualquer areópago internacional.

É neste contexto que aparecem jovens como o Salvador Sobral ou a irmã. Altivos, sem serem arrogantes, simpáticos porque inteligentes, cultos e diferentes. A falarem inglês e a saberem música. Com noção elevada do bom gosto. A terem consciência que o simples é o mais difícil. E que a qualidade reside na imaginação e não no visual feérico.

Salvador Sobral percebendo tudo isto criou no entanto um boneco. Bem engendrado. Minimalista mas verdadeiro. A apelar ao sentimento que a música e o poema juntos conseguem na perfeição. Mexendo com as pessoas. Todas. De qualquer língua. A partir do português. Essa língua que é um sentir próprio de um povo muito antigo. E moderno também. Que mistura a saudade do mar e a vontade de descobrir a ciência. Que continua a escrever poesia como poucos. E passo a passo começa a perder a vergonha de si mesmo, imposta por tempos de miséria e de ignorância. Servindo o poder de poucos.

Seria uma lição se os portugueses vissem a conferência de imprensa para estrangeiros que se seguiu ao festival. Os nossos políticos não conseguiriam uma prestação como a do Salvador Sobral. Falou com uma desenvoltura e um sentido de humor que conquistou todos. Da mesma forma que antes tinha criado um dos momentos mais altos da história do Eurofestival: a interpretação da canção vencedora ao lado da irmã que provavelmente os europeus nem sabiam que cantava. Portugal e o Salvador estão de parabéns. E a União Europeia também.

Francisco Sérgio de Barros e Barros
(Carteira profissional de jornalista TE-02)

Sem comentários: