domingo, 24 de janeiro de 2010

Coração de vidro



Hoje voltei a ver a Debbie Harry. No YouTube, claro está. Fiquei impressionado: da mulher que cantava Heart of Glass já pouco resta. A velhice tomou conta dela. É pena. Julgo mesmo que não merecia coisa assim. Dir-se-á, ninguém merece. Está bem, mas a vocalista dos Blondie era linda. E as mulheres como ela deveriam permanecer sempre iguais, como no dia em que as vemos pela primeira vez. A decadência é danada: corrompe a natureza de sermos aquilo que queremos ser. Obriga-nos a lutar contra o tempo que é vencedor anunciado.

Os mais optimistas dizem que as mulheres bonitas não têm idade. Agora sei que isso é mentira, a Debbie tem idade, faz em Julho sessenta e cinco anos, e isso nota-se. Poderia estar melhor conservada. Ou não: quem viveu com a intensidade que ela viveu dificilmente poderia estar diferente. Uma coisa é certa: não deve nada à vida. Nós é que lhe devemos alguma coisa - a beleza de menina travessa que cantava vezes sem conta no gira-discos lá de casa.

A canção Heart of Glass ainda hoje é uma das músicas da minha vida. Não me perguntem porquê; teria muitas dificuldades em explicar a razão de assim ser. Mas uma coisa é certa: a imagem da vocalista dos Blondie explica muita da saudade que aquela música me provoca. Por isso me recuso a aceitar a passagem do tempo transformada em rosto velho da Debbie Harry. Talvez porque isso signifique a vertigem da vida também em mim.

Decididamente ela sabia do que falava quando cantava o coração de vidro.



sábado, 16 de janeiro de 2010

Jornal O Vianense: 30 anos ao serviço da imprensa regional


Trinta anos na vida de um jornal significam muito tempo, ao contrário do que acontece na vida das pessoas. As vicissitudes são outras, a maioria das vezes de natureza institucional, traduzindo-se na prática quotidiana em obstáculos difíceis de ultrapassar, principalmente quando considerada a especificidade dos jornais regionais.
O percurso d’ O Vianense ao longo deste tempo é a prova disso mesmo. O jornal nasceu numa conjuntura histórica bem diferente da actual, com contornos políticos, sociais e económicos difíceis de contextualizar na actualidade. Em três décadas quantas coisas se modificaram! O país é outro, o mundo é outro, e os meios de comunicação social - esses então - pouco têm a ver com os daquela época (repare-se que estamos a falar de um tempo em que o uso do telemóvel era ainda uma miragem).
E aqui se reconhece um dos problemas maiores da imprensa regional: os condicionalismos humanos e financeiros que se interpõem na vontade de modernizá-la. A questão é de penosa resolução se tivermos em conta a velocidade da mudança, muitas das vezes ditada pela vertiginosa evolução tecnológica.
Ora, os jornais raramente possuem os meios para fazer face a essa necessidade de renovação. E se esta era uma realidade incontornável em 1980 quando surgiu O Vianense, trinta anos depois ela apresenta-se ainda mais gravosa se tivermos em conta a crise financeira que se abateu sobre o mundo, e sobre Portugal em particular, tolhendo os passos aos que fazem os jornais.
Entretanto, a mudança ocorre de um modo avassalador: a digitalização pouco a pouco vai rivalizando com o papel, as publicações apostam cada vez mais na diversificação das suas plataformas de difusão e os consumidores adquirem um crescente grau de exigência cultural. Como se vê, todos eles sinais positivos de evolução mas de complicada concretização.
A última década foi, a este nível, especialmente difícil. Às dificuldades financeiras juntaram-se a indeterminação política e a mudança do paradigma mundividencial a que estávamos habituados. O optimismo do mercado deixou de existir e, para agravar as coisas, a força das causas públicas que normalmente fundavam os alicerces da imprensa regional, foi sendo substituída, pouco a pouco, pela preocupação exclusiva de cada um por si.
É contra este estado de coisas que o jornal O Vianense tem vindo a lutar, procurando prosseguir uma linha de rumo estabelecida desde a sua fundação. Mas sem que essa procura de verticalidade signifique anacronismo na acção: a procura da actualização possível tem sido uma constante no seu percurso, de que é testemunho, por exemplo, a página do jornal na Internet.
Outras conquistas terão de se seguir ao nível da utilização das novas tecnologias e do saber fazer jornalístico. Mas sempre na procura de uma modernidade escolhida pelos alto-minhotos e nunca por aquela que os centros de decisão quiserem impor; sabendo conjugar o melhor do que aí vem com a tradição da imprensa regional portuguesa. Se assim for, o futuro do jornal estará assegurado. Num tempo em que os títulos das publicações periódicas são cada vez mais equiparadas a marcas de consumo, a marca O Vianense será sinónimo de coerência e de dedicação, valores fundamentais numa época como aquela em que vivemos. Parabéns.