No tempo em que a noite era o meu dia ceava eu num restaurante de noctívagos, deveriam ser duas da manhã. Na mesa ao lado estava o menino Tonecas acompanhado pela trupe que logo se via ser aquela com quem com ele trabalhava. Comiam depois de terem dado um espetáculo, percebia-se.
Do aluno batoteiro da televisão, nada. Era o actor Luís Aleluia que ali estava, notava-se no rosto cansado, taciturno, em silêncio o tempo todo. Palhaço triste como todos os que cumprem aquela função. Metido consigo mesmo depois de ter levado às gargalhadas a plateia durante a representação.
Aos nove anos, o pai divorciado e doente no Caramulo morreu e é nessa altura confiado à Casa do Gaiato de Setúbal. Assegura que aqueles foram os melhores tempos que viveu. Aprendeu que é em comunidade, uns com os outros, que tudo vale a pena.
Mas as marcas ficaram. Nota-se no medo da solidão – embora precise dela como pão para a boca. É como se nunca tivesse deixado de ser o menino carente, abandonado pela ventura de ser feliz.
Por isso é que se dedicou à causa dos outros ajudando um sem número de organizações solidárias. Procurou o bem e raramente o encontrou em si. Deu alegria aos outros e só. A ferida aberta, agora sabemos, nunca se fechou.
Nem mesmo na passada sexta-feira, dia vinte e três. Apenas foi para intervalo.
Num ímpeto montou o cavalo negro e galgou os horizontes à procura da paz apenas reconhecível na paisagem verde do Caramulo.
sexta-feira, 30 de junho de 2023
Luís Aleluia
domingo, 25 de junho de 2023
A partida
sábado, 10 de junho de 2023
10 de Junho
Hoje passei por ele e resolvi sentar-me num dos bancos a olhá-lo.
No dia das efemérides. Uma que corresponde a uma ideia geral, a um conceito que há novecentos anos tem vindo a fazer caminho – a maior parte das vezes de forma sinuosa. Refiro-me, naturalmente, a esse belo país, dolente e magistral, remediado e opulento, que se chama Portugal.
A outra que se refere à mais concreta das realidades, de abrangência pessoal e, por isso, intransmissível. Rosa-dos-ventos da minha vida, esteio seguro num percurso inconstante, garante de futuro onde parece haver só passado.
A primeira, utopia transformada em terra e mar. A segunda, mulher que nasceu para ser corpo e mente materializados numa utopia em formação. Saber-fazer em substância viva.
Uma que vem de, outra que vai para – ambas com o tempo como horizonte de explicação.
As duas comemoram em 10 de Junho o seu dia. Amo uma e outra. Mais do que isso: elas são o leitmotiv da minha vida. A ideia e a realidade. Às vezes o contrário. E aí reside o assombro de tudo isto.
Adeus, castanheiro – história e fruto, sombra e alimento. E sobrevivência.
Feliz dia, meus amores.