domingo, 29 de dezembro de 2019

Balanço de final de ano


























Mais um ano a chegar ao fim e eu sozinha. Tentei e nada resultou: inscrevi-me nas danças de salão, no curso de alemão, no Instagram... e o lugar ao lado do meu deserto no sofá lá de casa.  
Nada disto tem a ver com solidão. A circunstância de estar só nunca me assustou; pelo contrário, muitas das vezes prefiro ver as pessoas ao longe e imaginá-las no seu viver abnegado de gente simples. Nessas alturas crio-lhes identidade, invento-lhes enredos literários. Mas depois percebo que as histórias dos outros são meros paliativos da minha.  
Sempre quis ter uma família — um homem e filhos. Desejos de gente mediana que os meus pais souberam moldar em mim. 
Estive quase a iniciá-la. Mas depois aconteceu a desgraça que me faz estar tal como me sinto hoje. O único homem de quem verdadeiramente gostei — só o soube depois — foi embora para sempre por culpa minha. 
De então para cá, quando me apetecia ter alguém na cama, trazia mulheres e homens que há algum tempo havia escolhido na noite ou no escritório. Mas sabendo de antemão que nunca passariam de meros fogachos na penumbra em que se havia transformado a vida. 
No Verão deste ano resolvi consultar um conselheiro filosófico prestigiado. 
Disse-me que estava na altura certa de procurar o homem da minha vida. Perguntei-lhe onde achava que o deveria procurar. Olhou para mim e respondeu de forma inequívoca: Assembleia da República. Fiz-lhe ver que uma mulher branca gaga como eu poderia ter dificuldade num meio como aquele. “Qual quê? Lá todos gaguejam de uma forma ou outra”.
E aqui estou eu à espera de 2020, cheia de esperança no tempo que aí vem. Vou iniciar, na segunda semana de Janeiro, as lides parlamentares com uma intervenção sobre “A Política e a Procura do Homem Novo”. 
Uma coisa é certa: se não o encontrar nos corredores ou no restaurante da assembleia, volto a procurá-lo junto do tal conselheiro filosófico. Palavra de mulher apaixonada.