sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Ainda no rescaldo das festas


Não vi nada das festas. Aquilo que soube do modo como decorriam foi através da jornalista Emilly Scarlett Walker. Ela ia contando-me ao mesmo tempo que o meu pé partido permanecia quieto conforme recomendação médica.

Em Viana e longe da festa. Os deuses devem andar zangados comigo.

Do bulício daqueles dias já só restam as fotografias publicadas nas redes sociais. Nelas transparece o sentimento que nem sempre se tem revelado com a mesma intensidade: o orgulho de ser Viana. De um modo dificilmente reproduzível no resto do país. Manifestando-se no envergar colectivo dos sinais distintivos da cidade e das suas freguesias — nos trajes, nas danças, nas músicas e na disponibilidade para a festa. Talvez de modo comparável — em termos muito relativos, claro está — à galhardia dos sevilhanos na feira de Abril.

Por isso é que se torna imperioso aproveitar o êxito destes ciclos festivos para, entre outras coisas, relançar a imagem turística de Viana, tão mal gerida tem sido nos últimos tempos pelos seus responsáveis. 

Veja-se, a título de exemplo, o caso da Praça da República, a sala de visitas da cidade. Actualmente não tem um único café, uma única esplanada, estando os espaços anteriormente ocupados pelo Café-Bar, Pastelaria Caravela e Café Américo (pasme-se!) desocupados. Parece mentira, mas não é.

Resta a esperança de que a euforia proporcionada pelas Festas d’Agonia dure o ano inteiro e faça do povo vianense uma entidade crítica inadiável. 

(A fotografia é de Paulo Ramunni e expressa os valores e os costumes das gentes de Viana em tempo de romaria)

terça-feira, 23 de agosto de 2022

A propósito da edição das Festas D'Agonia


Quisemos saber a opinião da jornalista inglesa Emilly Scarlett Walker sobre as Festas d’Agonia deste ano. Em serviço de reportagem para o jornal de grande circulação “Neighborhood Tribune” ela acompanhou de perto os diversos números da romaria. Vale a pena ouvi-la. 
— A Emilly gostou das festas?
— Sim, particularmente da vontade manifesta em todas aquelas pessoas de voltarem a estar juntas e de festejar a graça de viver. É como se procurassem obter um efeito catártico de alcance colectivo. 
— Houve algo que lhe tivesse chamado a atenção pelo ineditismo da situação?
— Penso que terá sido o primeiro ano em que as festas verdadeiramente se discutiram. E tudo por causa de motivos menos nobres fomentados pelas redes sociais. As questões da identificação do “vianense de gema” e do bom ou mau gosto da utilização da palavra “chieira” são disso exemplo.  
— Gosta desta palavra ou não? 
— Num primeiro momento disseram-me que se referia ao chiar de uma roda mal oleada; doutra vez contaram-me que “chieira” apelava à memória da matança do porco nas casas rurais, quando o animal chiava na eminência da morte. Confesso que ainda agora hesito acerca do verdadeiro sentido da palavra.  
— De que números do programa das festas gostou mais?
— Do “vamos para o festival”, da “procissão ao mar” e da “festa do traje”, sem dúvida.
— E dos que gostou menos?
— Gostei de todos. Todos têm razão de ser. Podem, no entanto, em alguns casos ser melhorados. Por exemplo, na duração do cortejo — não se pode obrigar o espectador a estar duas horas à espera do espectáculo e mais três horas a assistir à sua evolução. É muito tempo. Outro sector que tem de ser repensado é o dos fogos de artifício. Numa cidade com as tradições históricas na área como é caso de Viana, é triste não assistir a um maior investimento nas exibições da indústria pirotécnica. 
Para além disto, ainda não descobri alguém que esteja à altura de F. Sampaio, M. Freitas, A. Costa, M. E. Vasconcelos, M. M. Couto Viana ou do seu irmão A. M. Couto Viana ou ainda do pai M. Couto Viana, para além, claro está, do muito grande P. Homem de Mello, na narração e explicação dos quadros etnográficos em análise. 
A Universidade Politécnica da cidade deve criar urgentemente estudos de pós-gradução em etnografia, antropologia, sociologia capazes de preparar uma nova geração de investigadores nos assuntos relacionados com a identidade de Viana, o seu folclore, os trajes, a dança, a música, por forma estruturar-se cientificamente uma etnografia renovada.  
— Quer aproveitar para mencionar algo de que não tenhamos falado nesta conversa?
— Quero, com muito gosto, tornar público o quanto gostei de contactar com o charme irrecusável, a inteligência inesquecível e a elegância de sentimentos de você, meu caro Francisco Barros e Barros.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Estão aí as Festas D'Agonia


Já se canta e dança ao som das concertinas em Viana. São as Festas D’Agonia, meus senhores. As mordomas enchem-se de vaidade trajando da cor do mar, dos campos e do sangue que lhes corre nas veias. À frente delas, o presidente de honra da romaria deste ano: Tiago Brandão Rodrigues. Um must.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

A noite a chegar


O dia aquieta-se. É tempo de recolher às profundezas do insondável e dar lugar à noite. Com ela virá o susto do menino, o rame-rame da novela de televisão, a bem-aventurança dos amantes. E, principalmente, a serenidade dos percursos mais irrequietos. Pelo menos, durante umas horas. Até tudo começar de novo.

domingo, 7 de agosto de 2022

A cultura na RTP


O português comum gosta de dizer mal, seja do que for, um pouco à maneira de compensação das suas falhas. A televisão é um dos alvos preferidos: “nunca dá nada de jeito”, é só telenovelas e Big Brother e futebol, mais os alertas da CMTV".

O paradoxo de tudo isto vem depois, quando percebemos que aqueles que reclamam são os que correm para a caixa mágica para ver nos quatro canais de informação generalista a triste notícia da demissão do roupeiro do Benfica.  

Só isso pode explicar as audiências confrangedoras de programas onde se reconhece reflexão, crítica, conhecimento sobre os grandes temas actuais.

Vem isto a propósito do programa Grande Entrevista emitido ontem pela RTP. Durante cerca de uma hora, Vitor Gonçalves e Ana Luísa Amaral, numa conversa gravada há uma semana, discorrem sobre a vida e a morte, a escrita e a verdade, o tempo e o vagar. 

Tudo isto mostrado pela primeira vez no dia em que aquela poeta maior da cultura portuguesa morreu.  

Assistir àquele programa foi, deste modo, uma experiência muito particular, inesquecível em diversos momentos da entrevista.  

Na mesma semana em que tínhamos visto, também na RTP, a conversa de Fátima Campos Ferreira com Pedro Burmester, igualmente interessante de acompanhar. Não poderíamos assim calar a vontade de dizer bem.