quinta-feira, 14 de abril de 2022

A mãe


O mundo está todo aqui. A seiva e a vida em pleno. O acto de começar e a segurança proporcionada por quem amamos.  

A mãe orgulhosa segura nos braços o filho que é a eternidade possível. Ele é ela reconciliada com os demais. 

A realidade, por mais difícil que tenha sido, por algum tempo é suspensa. Nada mais conta do que este momento. Um pertence ao outro para sempre. 

Perante um quadro assim, a fealdade da guerra ou a mediocridade da multidão não significam nada.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Estrada transmontana


Vão todas para o mesmo sítio. Habituaram-se a isso a vida toda. Seguem o líder ou então aqueles que aparentam ser os mais fortes. 
Na estrada transmontana, a passarem junto ao carro, as ovelhas sucedem-se umas às outras.  
À frente, o homem de faces cavadas, pele tisnada pelo clima excessivo, acompanha-as. 
Lá atrás, os cães controlam a turba. São admiráveis no cuidado com que zelam por todos. A fazer inveja à maioria dos seres humanos. 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Dia de Páscoa


A mãe. À espera de cada um de nós. Preocupada com aquilo que fazemos da vida. Sempre na esperança de que nada de mal nos aconteça. Na estrada da discoteca ou no dia em que nos formamos. 

E no primeiro divórcio, no segundo e na crise da meia-idade. Sim, naquele tempo em que passamos a não acreditar em nada do que tínhamos por certo.  

A mãe. O colo de que nunca nos afastamos em definitivo. Renunciar a ele seria morrer. Mesmo quando atingimos a idade em que tudo se torna possível. 

A mãe. Orai por nós. Queremos-te por perto quando chegar o tempo da Páscoa de cada um. Nesse dia vou deitar outra vez a cabeça no teu colo.