domingo, 27 de janeiro de 2019

Nunca mais é sábado


Amanhã é Segunda-feira. Lamento. Eu sei que queres sol e vida, música e dança. E amor. Mas a Segunda-feira não te impede de ser feliz. Sim, há horários para cumprir, contas a resolver, vestuário próprio para usar. E depois o pensamento de sempre: nunca mais é Sábado. Levanta a cabeça e sorri. Convence-te que o mundo lá fora sustém a respiração à espera de te ver. Vais conseguir. Desde que penses assim. O sol, a música e a dança ficam para quando quiseres: ao fim da tarde na esplanada, à noite no remanso do sítio que escolheres. 
O Sábado há-de chegar, mulher bonita.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A propósito da Dra. Maria José Rodrigues


A ideia de que o povo português é o mais hospitaleiro do mundo é um exagero. A prova disso está no email que o meu tio Luís enviou desde as Antilhas: “Francisco, não sabe o que está a perder. Faça as malas e apanhe o próximo avião”. Importa acrescentar que ele possui a marca distintiva da família: nunca mente. Professor de Sociologia em Heidelberg, o professor Luís Norton de Barros vai proferir uma palestra na Universidade das Antilhas no âmbito de um colóquio internacional sobre “O Papel da Mulher na Nova Sociedade — Condicionalismos e Soluções da Maternidade na Perspectiva da Economia Social”. De referir que neste fórum há a registar uma outra participação portuguesa: a da eurodeputada Maria João Rodrigues.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O discurso


— Dra. Maria Isabel D’Eça, é a sua vez de discursar no Conselho Nacional. 
— Jorge, achas que estou bem?
— Bem?! Com a cor do partido e tudo?
— Ai! Estou tão nervosa... e se o Dr. Rui Rio não gosta do que vou dizer? Ainda fico sem o lugar de deputada...

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A imprensa regional e o aniversário do jornal O Vianense


Trinta e nove anos. Para um jornal é muito tempo. Os anos nas publicações periódicas não contam da mesma forma que as pessoas. Trezentos e sessenta e cinco dias a fazer jornalismo e a assegurar a continuidade de um órgão informativo regional equivale a anos de muito sacrifício em prol da terra onde se vive. 

E, para além disso, a necessidade de haver possibilidades financeiras. E de capacidades de gestão. E de gente, muita gente. 

Ora, nada disto existe em quantidade suficiente no jornalismo regional. As pessoas, por exemplo: dantes colaboravam por carolice no jornal da terra; hoje, e bem, querem ordenados consentâneos com a formação superior que adquiriram. Sinal dos tempos e da evolução por que todos nós lutamos. 

Simplesmente, os jornais pequenos não têm sustentabilidade financeira para suportar tamanho fardo. E, a pouco e pouco, vão soçobrando a menos que encontrem uma nova fórmula de negócio. Só que nem os jornais grandes portugueses a conseguiram até agora engendrar.

Tudo o resto, feito de homens e mulheres que dedicaram tempo da sua vida ao jornal, sem nada esperarem em troca, ficou definitivamente para trás.  

É deles que me apetece falar nesta comemoração dos 39 anos d’O Vianense. Até porque a saudade é um sentimento que, de tempos a tempos, faz falta a ela recorrer. É uma espécie de combustível essencial para a caminhada em direcção ao futuro. 

E a memória não se faz rogada a um exercício destes. São acontecimentos importantes demais para ficarem perdidos no tempo. As noites em branco a terminar a edição do jornal; os computadores Apple Macintosh a serem inaugurados na imprensa regional pelo O Vianense, num período tão novo que ninguém sabia trabalhar com eles e muito menos arranjá-los quando avariavam; o julgamento por parte dos tribunais do conceito de liberdade de imprensa em que O Vianense foi um participante corajoso; o orgulho de ter entre os colaboradores do jornal os mais brilhantes jornalistas de Viana; a perseverança na luta por objectivos essenciais ao desenvolvimento do Alto-Minho; a abertura de instalações bonitas na Rua de Aveiro; as gentes, sim, O Vianense foi sempre um jornal com gente dentro que ajudava, entre outras coisas, nas tarefas a que a tecnologia ainda não tinha chegado, de que é exemplo a colagem dos endereços dos assinantes, noite adentro, acompanhada das conversas amigas daquelas pessoas todas, que entretanto foram embora, teimosas na determinação de rumarem para sítios longínquos e sem retorno.

Escrevo isto e emociono-me. Trinta e nove anos de alma cheia. Com as pessoas que gostavam do jornal. Que queriam e querem a preservação do que de mais humano serve de alicerce ao O Vianense. 

Fica a faltar o modelo novo de negócio jornalístico. E pessoas capazes de serem mais que meros escrevinhadores de notícias iguais às que aprenderam nas universidades. 

Só dessa forma se pode prosseguir a alma que é essência e marca d’O Vianense.

Quadratura do Círculo


Isso, espetem o último prego no caixão. A televisão já estava moribunda... não é SIC? Agora é chamar a Servilusa e vermos só séries em streaming. Política e coisas sérias? Ninguém as quer ver, o Balsemão, o Costa e o Oliveira do que dizem os teus olhos é que sabem disto. Quadratura do Círculo... que é isso? É aquele programa que dá no intervalo dos debates sobre futebol? O que é que está p’ra aí a dizer, caro telespectador? Que a Quadratura é o melhor programa político da televisão portuguesa? Estes telespectadores estão cada vez mais néscios. Nem os amigos do Balsemão autorizam nem o público do Marcelo quer: a televisão actual é a da Cristina, do Carro do Amor e do Playback Total. Isso e muito futebol. Não gostam? Vão para o Facebook. Nós por cá ficamos bem. Nós e os partidos marginais a tudo isto. Até ao estouro final, dizem os consumidores da antiga televisão interclassista e honesta. 

 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

A idade das mulheres


As coisas que vemos são enquadradas pelo espaço e pelo tempo. Kant ensinou-nos isto. Entretanto o espaço tem vindo a ser relativizado. As inovações tecnológicas e a globalização muito têm contribuído para que assim seja. O problema agora é o tempo. 

Vem isto isto a propósito da boutade provocadora do escritor Yann Moix que tanto alarme social tem causado. Será realmente a mulher de 50 anos encarada pelos homens de forma diferente sob o ponto de vista erótico daquela que tem apenas 25 anos? 

Se querem a verdade, eu digo: sim, há distinções objectivas entre ambas. Porquê? Porque há metade de uma vida a separá-las. Contra esta realidade não há argumentos possíveis. Por isso é que a Lolita continua a ser uma presença forte no imaginário masculino — não se esqueçam que os homens são sempre umas crianças. 

Mas as diferenças maiores acabam aqui. Nenhum cinquentão no seu perfeito juízo quer casar com a ninfa de Nabokov. Nem é preciso tanto: quando quer conversar sobre o tempo e o que ele deixa para trás escolhe a mulher que conhece a resposta (ainda por cima tantas vezes absolutamente linda). 

Calma. Não acabei ainda. Quando quer beber Barca Velho ao lado da lareira acesa e depois fazer amor bom, demorado e adulto, então escolhe a mulher de cinquenta anos. Bela e inteligente. Capaz de entender as mesmas palavras. E de sentir e fazer sentir como nem todas conseguem. 

Por isso é que é mentira dizer que são iguais as mulheres. Graças a Deus. E a elas também.

sábado, 5 de janeiro de 2019

Prisão de Armando Vara


Sei que os meus leitores não vão concordar comigo. Que muitos duvidarão mesmo do meu equilíbrio mental. Sinceramente, não me importo. Cheguei a uma fase em que a opinião dos outros adquiriu a relatividade correspondente. 
Vem isto a propósito do sentimento de pena que me dá ver a entrada no estabelecimento prisional de Évora, para cumprir uma pena de cinco anos, de Armando Vara. Ao contrário do que acontecerá à quase totalidade dos cidadãos portugueses, que exultarão de satisfação. 
Será a primeira vez no nosso país que alguém cumpre pena de prisão efectiva por tráfico de influência. Ora eu sempre achei que a prisão deve ser reservada para casos em que não há alternativa. 
Em toda a vida, só por uma vez entrei numa cadeia -- para expor considerações éticas (imaginem!) aos reclusos. Fiquei impressionado para sempre. Quem encontrei naquela plateia que me ouvia como se eu fosse ministro da justiça, eram meninos acabados de se tornarem homens, a grande maioria presos por tráfico de droga. Ainda hoje não acredito que algum deles tenha saído melhor do que quando entrou. Contrariando o objetivo maior de uma pena de prisão. 
Armando Vara não nasceu na linha de Cascais. Nasceu no Portugal profundo, a que os lisboetas gostam de chamar província. Claro que os de Cascais não são presos. Só os de Vinhais e terras assim. Que nasceram pobres e tiveram a audácia de querer deixar de o ser. Que entregavam fatos na casa dos clientes do patrão aos 16 anos. Que foram bancários em Mogadouro e, imagine-se!, tiveram a distinta lata de se sentarem um dia nas cadeiras reservadas aos membros do conselho de administração do banco onde no início da vida trabalharam ao balcão. 
No caso dos Vistos Gold ficou provado o crime de corrupção, mais grave que aquele de que é acusado Armando Vara. No entanto, o juiz não condenou nenhum dos réus a pena de prisão efectiva. 
Dois pesos, duas medidas. A linha de Cascais e a inteligência de um magistrado a saírem vitoriosas. 
E eu a não confiar em nada disto.  

(Foto Paulo Novais/Lusa)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

As ondas da Nazaré


O amor a festejar o abraço dos corpos. E o chão dos nossos passos quase a estremecer. A vertigem da festa em noite de Verão está quase, quase...
— Amas-me?... diz-me que me amas Raimundo!
A onda grande da praia da Nazaré a chegar... o quarto quente e abafado a precisar de respirar. 
— Estou pronta Raimundo... escusas de esperar por mim. 
— E o que achas do Carlos César? — perguntou o homem bonito que surfava o corpo da jovem. 
Nesse momento um vento frio entrou pelo quarto adentro. Os corpos voltaram a ser os de sempre. O amor foi-se embora zangado com a festa que não chegou a acontecer. 
— Sabes uma coisa, Raimundo? Tu e o Carlos César são uns autênticos empatas. Em vocês não voto mais. E é escusado dizeres-me para ter paciência. Nem eu nem o Zé-Tó vamos demorar mais no amor.