sábado, 31 de dezembro de 2022

Aquele almoço


A fotografia parece ter vindo ter comigo. Os netos (falta uma neta que na altura estava a estudar no estrangeiro) com os avós, pouco tempo antes de o meu pai ser operado. Era uma espécie de almoço de despedida – eu sentia isso e a realidade veio confirmar o presságio.

Só hoje à tarde ganhei coragem e resolvi olhar para trás, para o ano que hoje acaba, o malfadado 2022. O ano em que o patriarca da família morreu, em que tudo parece ter ficado pedaço de um todo que não existe mais.

É esse vazio que caracteriza o tempo em que vivo atualmente. Não tenho a quem pedir confirmação do que aconteceu no passado e que faz parte da minha história e da dos outros. É como se a rede do trapezista tivesse sido retirada. 

Fui largado só e triste. E o tempo não me tem feito recuar no pavor da ausência. Às vezes parece que sim, mas logo vem a memória requerer nova contextualização dos limites interpretativos da circunstância. 

Ninguém tem culpa de me sentir assim. Sou eu que me vejo usurpado de uma parte grande da minha identidade. Continuo a ser eu, mas sem o relógio e sem o cigarro entre os dedos – uma mera cópia adulterada de mim mesmo pela ausência do assentimento dos que me antecederam.

Dentro de poucas horas entraremos em 2023. Vamos esperar que o novo ano signifique mesmo um novo tempo, de felicidade sem termo de prazo. Para todos.

domingo, 25 de dezembro de 2022

Natal em Viena


Tarde em Viena, chuvosa, de inverno. Procurei algum aconchego numa das muitas feiras de Natal espalhadas pela cidade. Nada. Todas elas vazias de gente, dos deliciosos bolos e chocolates que lhes dão fama e do vinho quente que renova a alma do mais empedernido dos homens.
Daquela ausência divina fugi à procura do Natal que não tive.

Resolvi procurá-lo na mansão da minha amiga advogada Dra. Luciane. Estava muito confortável a ilustre causídica brasileira.

domingo, 4 de dezembro de 2022

Ai estes malditos Domingos


“Aborreço-me de morte nos domingos de inverno. As horas passam por mim num ritmo exasperadamente lento. É como se fossem sempre a mesma. Dez da manhã ou quatro da tarde, tanto faz. Lá fora o cinzento da atmosfera tem na claridade da luz do candelabro o contraste possível. Dentro de mim a ansiedade do que não vai suceder, das pessoas que gostaria que estivessem agora aqui. Como se eu soubesse quem são – só conheço as que não me apetecem. O dificilmente alcançável é o que mais vontade nos dá.
Ai estes malditos Domingos. Ler, corrigir os trabalhos dos alunos, ouvir o podcast da moda, não me apetece nada disso. Só quero viver algo diferente do habitual. Ou então conhecer alguém oposto a mim. Mas onde poderá estar esse vulto constante na imaginação e nunca visível perto de nós? Vou esperar pela segunda-feira a ver se o encontro. Um dia há-de ser.”