sábado, 31 de dezembro de 2022

Aquele almoço


A fotografia parece ter vindo ter comigo. Os netos (falta uma neta que na altura estava a estudar no estrangeiro) com os avós, pouco tempo antes de o meu pai ser operado. Era uma espécie de almoço de despedida – eu sentia isso e a realidade veio confirmar o presságio.

Só hoje à tarde ganhei coragem e resolvi olhar para trás, para o ano que hoje acaba, o malfadado 2022. O ano em que o patriarca da família morreu, em que tudo parece ter ficado pedaço de um todo que não existe mais.

É esse vazio que caracteriza o tempo em que vivo atualmente. Não tenho a quem pedir confirmação do que aconteceu no passado e que faz parte da minha história e da dos outros. É como se a rede do trapezista tivesse sido retirada. 

Fui largado só e triste. E o tempo não me tem feito recuar no pavor da ausência. Às vezes parece que sim, mas logo vem a memória requerer nova contextualização dos limites interpretativos da circunstância. 

Ninguém tem culpa de me sentir assim. Sou eu que me vejo usurpado de uma parte grande da minha identidade. Continuo a ser eu, mas sem o relógio e sem o cigarro entre os dedos – uma mera cópia adulterada de mim mesmo pela ausência do assentimento dos que me antecederam.

Dentro de poucas horas entraremos em 2023. Vamos esperar que o novo ano signifique mesmo um novo tempo, de felicidade sem termo de prazo. Para todos.

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