domingo, 22 de agosto de 2021

Recuperação das cidades antigas


O país, a pouco e pouco, vai ganhando algum discernimento na renovação urbanística dos centros históricos das cidades. Também não era sem tempo, depois de tanta barbaridade cometida, destruindo-se tudo o não representasse a suposta modernidade. 
No casco histórico de Bragança — onde já ninguém queria viver — recupera-se a fachada original das casas e reconverte-se o seu interior com as actuais exigências de conforto. É tão bom, de vez em quando, dizer bem.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

A escada


Tudo nesta fotografia obedece às leis da proporcionalidade, do equilíbrio, da racionalidade. Uma escada transformada em conceito possível de vida. Desenhada a partir do engenho maior de que o arquitecto se serve: o traço. Sortilégio muito difícil de atingir. Exige treino e talento. É exactamente aqui que a mundialmente conhecida Escola do Porto se distingue. Com os mestres a dizerem que não sabem desenhar. Nem precisam. Basta-lhes saberem conceptualizar a vida a partir de uma perspectiva própria. Afirmando-a na firmeza do risco que traduz a infinitude do espaço e da vida. Ao contrário do que acha o indivíduo que desce a escada e não vê saídas para os problemas que o consomem. É a luta já estafada da religiosidade contra a dialéctica histórica.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Verão de 2021 (Férias Instagram)


Num passado mais ou menos recente não havia que enganar: as famílias iam um mês inteiro para o Algarve nas férias. E choravam baba e ranho na altura de abalar. Para trás ficavam os amores de Verão, a D. Mariazinha e o Dr. Lourenço, o peixe fresco do Tomé e o pôr-do-sol na esplanada do Café Américo. 

Hoje as coisas não funcionam assim. As férias Instagram vivem das fotografias feitas em cenários diferentes entre si. O que passa a importar é a imagem dos dias. 

Os corpos, esses, são o centro de tudo. Vestem biquínis de padrões diversos e corte obstinadamente reduzido. E são avaliados conforme o número de likes naquela rede social.

Mas não é fácil competir neste campeonato. As concorrentes são em grande número e com atributos assinaláveis. De tal forma que a perseverança na modelagem física torna-se condição imprescindível. É ver as mulheres Instagram a trabalharem o ano todo nos ginásios os corpos suados de tanto esforço. 

Nesta disputa entram todos. Muitas das vezes são os próprios pais que fotografam as filhas adolescentes em poses de mulher sobejamente vivida. É a ditadura dos likes em acção. A fazer lembrar as batalhas colossais em que se envolviam as famílias do Alto Minho para que as descendentes casadoiras figurassem no cartaz da romaria.  

Nos dias de hoje a imagem Instagram tornou-se o verdadeiro desporto nacional. Por isso é que o cenário da mesma praia durante todo o mês de Agosto não favorece a arregimentação dos ansiados likes. O ideal é, por exemplo, as famílias calcorrearem durante quinze dias os percursos pedestres do Vietnam, fundearem uma semana sob o sol da Ilha de Capri e dedicarem mais três a quatro dias a fotografarem-se exaustos, mas sorridentes, nas ruas de Istambul. 

Depois, depois… é irem descansar para a aldeia, mas desta vez sem câmaras fotográficas.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Os 35 anos da filha da Carolina do Mónaco


Se há mulher que desde muito cedo me impressionou, ela foi, sem dúvida, a Carolina do Mónaco. Talvez pelo ar um pouco triste, como que a pedir protecção, que se adivinhava por detrás daqueles olhos grandes fotografados por todas as revistas durante várias décadas.  
A filha, Charlotte, fez no dia três deste mês, trinta e cinco anos de idade. Deixou-me pasmado saber este número. O tempo tem mau feitio, não há dúvida. 
Mas há outro pormenor que me chamou a atenção: para além da parecença óbvia com a mãe, a permanência do olhar ensimesmado e aparentemente tímido com que ambas fitam o redor delas — o que também se percebia na avó Grace. 
“É bonita”, disse o Sr. Armando, empregado do café que, familiarizado com a minha presença naquele espaço, olhou para a fotografia da Charlotte e quis participar nos meus pensamentos. 
“Bonita a filha da Carolina?” — olhei uma vez mais para ela. Quem me conhece sabe bem que o conceito de beleza não faz parte da semiótica que utilizo para classificar as pessoas. Mas talvez o Sr. Armando tenha razão. 
De qualquer forma, o que realmente me deixou abespinhado em tudo isto é a velocidade com que o mundo gira: a Charlotte tem trinta e cinco anos, o Obama sessenta, o Springsteen setenta e um e a Teodora Cardoso cento e três. E eu próprio já me senti melhor.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Primeiros dias de Agosto


As esplanadas da Foz servem muitas das vezes como barómetro do ambiente social ou económico que se vive em determinada época do Porto. Bem sei que nos últimos dias o tempo tem estado nublado com algum vento à mistura. Mas a cara das pessoas não mente – a alegria que por ali fazia-se sentir nestes primeiros dias de Agosto, bem antes desta maldita pandemia, parece ter rumado a outras paragens. Está tudo demasiadamente bem-comportado. Parecem, perdoe-se-nos algum exagero, as termas – e as avós e as netas que as frequentavam – descritas pela genialidade do Camilo Castelo Branco.

Os casais conversam, os vestidos desfilam e os jovens esperam. O que vale é a música do disc-jockey não se importar com nada disto nem as ondas do mar que vão e vêm impávidas. 

A Covid-19 bateu mesmo forte nesta cidade.