segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Aniversário do Henrique


Não sei se alguma vez aconteceu com o leitor algo parecido. Na sexta-feira passada um médico afamado confirmou o que pensava ser mero pretensiosismo meu. O Henrique é outra vez o pai. Vou tentar explicar: para além de se assemelhar a mim no comportamento ele é, para o bem e o mal, a cópia em termos fisiológicos e psicológicos do progenitor. Nomeadamente ao nível do sistema nervoso central. O que necessariamente lhe vai trazer problemas, mas também algumas alegrias. Ser diferente, alguns o sabem, não é fácil. Torna-se alvo de incompreensões, de ciúmes e de prejuízos vários no relacionamento com os outros.
A verdade é que na escola ninguém compreendeu o Henrique. Até aos dias de hoje. O mesmo tinha acontecido comigo pelo menos até ao 12º ano. Eu e o Henrique gostamos demasiado da vida para a estudar apenas nas sebentas. Precisamos de ver as pessoas a digladiarem-se na vã tentativa de virem a ser felizes. Na rua, no ecrã do computador, na esplanada.
O Henrique faz hoje 13 anos. Está um homem. Bonito, sedutor, difícil. Quando eu morrer vai ele ser eu vivo. A continuar os estudos que ainda não terminei. E a namorar as filhas daquelas mulheres que durante algumas horas desejei.
Não há palavras que possam traduzir o amor que sinto por ti, meu querido filho. Se pudesse viveria em tua vez as dificuldades que vais encontrar, e deixava-te apenas as noites estreladas em frente ao mar. E todos os outros momentos e pessoas que saibam fazer-te sorrir. A vida tem coisas boas.
Parabéns Henrique Manuel Francisco Sérgio de Barros e Barros.

domingo, 18 de outubro de 2020

Três nomes grandes da cultura luso-tropical


Esta fotografia é só uma fotografia. Na vida real as coisas não são assim. Nenhum artista grande suporta outro que lhe possa tirar a exclusividade. Sorri, cumprimenta com aparente afectuosidade e desespera pelo fim daquele momento. E não é por causa da soberba: na maioria das vezes a razão está na mera insegurança. A plebeia incerteza de alguém dizer que o outro é melhor — a fazer das suas. E nós, meros espectadores de tudo isto, sem perceber que para se falar da vida é preciso saber senti-la da mesma forma que o mais anónimo dos homens.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Os 15 anos da Maria Leonor de Barros


A minha filha Leonor faz hoje anos. Quinze mais concretamente. Um oitavo da vida dela. Está quase a escrever as memórias.

Ela não mas eu sim. É a lei natural a fazer das suas. A Leonor a começar... e eu a tirar o bilhete para recomeçar um dia. A vida como sempre a lucrar com a mudança de gerência: a minha filha é muito melhor do que eu. Não sei a quem sai o raio da rapariga.

Desde pequena que dissecou, olhou de um lado e outro tudo o que a interpelasse em termos de curiosidade. Sem que fizesse alarde disso, discreta como a raposa, mas com o radar de observação sempre em funcionamento. Perscrutava o mundo sem que os outros se dessem conta disso.

Nunca a vi estudar. E no entanto ela estuda, não pode ser de outra forma. O nome no quadro de honra do liceu não pode ir lá parar por obra do divino espírito santo. É organizada nos horários, no cumprimento das tarefas que lhe estão assacadas.

Às aulas regulares acrescentava até ao ano passado as do conservatório. E ensaiava o violino fechada no escritório e resguardada do olhar dos outros. Às vezes zangava-se com a música que saía dos seus dedos pequenos e, por arrastamento, com ela mesma. 

Nessas alturas não falava com ninguém. Até ter vontade de recuperar o domínio da situação. Então voltava a ser a Leonor de sempre, genial, conhecedora dos assuntos como se de uma adulta se tratasse.

De há algum tempo para cá descobri que entre aqueles que me rodeiam - na universidade, na esplanada, na vida, no facebook mesmo - a Leonor conseguia o impensável: ultrapassava todos no acerto das sua sentenças sobre qualquer dúvida que eu tivesse. Utilizando poucas palavras, com a objectividade própria de quem sabe.

Mas tudo isto, minha querida Leonor, poucos sabem acerca de ti. Não perdes nada por isso. Tens muito tempo pela frente. E caminho também. De tal modo que ainda podes pensar em todas as possibilidades de vires a ser. Primeira-ministra, directora do instituto Ricardo Jorge, escritora, encarregada de condomínio, mãe, cliente de esplanada de praia, campeã de tiro aos pratos - são algumas das possibilidades.

E sempre - lamento informar-te da impossibilidade de não o seres - superiormente inteligente. Vinga-te sorrindo por dentro da venalidade dos outros. Com a discrição a que nos habituaste.

No resto, duvida dos homens: não há um que se aproveite. Com excepção daquele que tiver a sorte de cair nas tuas graças. Nessa altura espero não lhe partir nenhuma costela quando o abraçar.

Do teu Pai que tanto te ama, minha querida Leonor, parabéns pelos quinze anos de vida.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Aniversário do meu Pai


Agora sei que foi muito bom começar os meus estudos universitários pela filosofia. Muitos outros jovens deveriam fazer o mesmo. 

Depois poderiam enveredar por outras áreas. Mas o estudo das questões gerais e ao mesmo tempo radicais proporcionam uma compreensão muito especial da vida. 

Penso em tudo isto no dia em que o meu Pai faz 85 anos, uma idade que necessariamente nos impele a procurar afirmações sobre a verdade do tempo que passou. 

Sem que o consigamos. Uma das primeiras coisas que se aprende em filosofia é a noção de que a vida materializa-se num eterno retorno, num círculo nunca concluído. 

Quer dizer, o tempo de cada um está sempre em construção. Dando azo a revisões, a argumentos novos, a certezas que nunca o foram. 

Há, no entanto, na vida do meu Pai, verdades que dificilmente o tempo poderá alterar. Inteligente, dinâmico, ousado são características que desde sempre lhe valeram o reconhecimento dos outros a nível profissional e empresarial. 

No jornalismo, o facto de ser actualmente um dos muito poucos elementos de uma geração que criou publicações periódicas novas e possibilitou o surgimento de nomes naquela área, atesta a sua importância inquestionável. 

Mas a verdade primeira de todas as que no meu Pai me interessam refere-se ao acerto com que prosseguiu um percurso de vida sempre desejado pelos que o antecederam. 

Não degenerou no sonho dos seus e, por consequência, meus familiares. Escreveu a vida toda. 

É neste ponto que ainda hoje tenho medo de não ter atingido aquilo que me competia — o de prosseguir um desígnio que tive tudo para o conseguir. 

O meu Pai faz hoje 85 anos, digo-o uma vez mais. Foi este ano submetido a uma cirurgia muito difícil. Não quisemos dar notícia deste facto. 

Está em satisfatória recuperação. Vamos tê-lo connosco muito tempo ainda. 

Os que gostarem de História e de Jornalismo só poderão ficar contentes com a notícia. Os que nada sabem nem de uma ou doutra coisa, como por exemplo, os membros da autarquia de Viana, vão ficar na mesma como sempre estiveram. 

O meu respeito e a minha admiração, meu Pai. Pode ser que um dia um dos meus filhos escreva sobre mim qualquer coisa parecida. 

Parabéns.

domingo, 4 de outubro de 2020

Sumo de limão


Limões. Ácidos e ao mesmo tempo deliciosos. Bonitos de cor e de forma. Apetece tocar-lhes deslizando os dedos pela curva que vai ter ao promontório deles. Quando aberto e mordido entre os lábios, é então o momento de percebermos que tudo que é bom começa por nos arrepiar. Mas não podemos desistir. O que aí vem é a natureza transformada em seiva original. Igual ao sangue, às lágrimas, ao leite que bebemos da nossa mãe.

Tributo à Gioconda


Passei a manhã toda com ela — a Gioconda. A melhor companhia feminina, logo a seguir à D. Lurdinhas (ai não... que ela pode estar a ler isto!).