sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Os 15 anos da Maria Leonor de Barros


A minha filha Leonor faz hoje anos. Quinze mais concretamente. Um oitavo da vida dela. Está quase a escrever as memórias.

Ela não mas eu sim. É a lei natural a fazer das suas. A Leonor a começar... e eu a tirar o bilhete para recomeçar um dia. A vida como sempre a lucrar com a mudança de gerência: a minha filha é muito melhor do que eu. Não sei a quem sai o raio da rapariga.

Desde pequena que dissecou, olhou de um lado e outro tudo o que a interpelasse em termos de curiosidade. Sem que fizesse alarde disso, discreta como a raposa, mas com o radar de observação sempre em funcionamento. Perscrutava o mundo sem que os outros se dessem conta disso.

Nunca a vi estudar. E no entanto ela estuda, não pode ser de outra forma. O nome no quadro de honra do liceu não pode ir lá parar por obra do divino espírito santo. É organizada nos horários, no cumprimento das tarefas que lhe estão assacadas.

Às aulas regulares acrescentava até ao ano passado as do conservatório. E ensaiava o violino fechada no escritório e resguardada do olhar dos outros. Às vezes zangava-se com a música que saía dos seus dedos pequenos e, por arrastamento, com ela mesma. 

Nessas alturas não falava com ninguém. Até ter vontade de recuperar o domínio da situação. Então voltava a ser a Leonor de sempre, genial, conhecedora dos assuntos como se de uma adulta se tratasse.

De há algum tempo para cá descobri que entre aqueles que me rodeiam - na universidade, na esplanada, na vida, no facebook mesmo - a Leonor conseguia o impensável: ultrapassava todos no acerto das sua sentenças sobre qualquer dúvida que eu tivesse. Utilizando poucas palavras, com a objectividade própria de quem sabe.

Mas tudo isto, minha querida Leonor, poucos sabem acerca de ti. Não perdes nada por isso. Tens muito tempo pela frente. E caminho também. De tal modo que ainda podes pensar em todas as possibilidades de vires a ser. Primeira-ministra, directora do instituto Ricardo Jorge, escritora, encarregada de condomínio, mãe, cliente de esplanada de praia, campeã de tiro aos pratos - são algumas das possibilidades.

E sempre - lamento informar-te da impossibilidade de não o seres - superiormente inteligente. Vinga-te sorrindo por dentro da venalidade dos outros. Com a discrição a que nos habituaste.

No resto, duvida dos homens: não há um que se aproveite. Com excepção daquele que tiver a sorte de cair nas tuas graças. Nessa altura espero não lhe partir nenhuma costela quando o abraçar.

Do teu Pai que tanto te ama, minha querida Leonor, parabéns pelos quinze anos de vida.

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