sábado, 22 de julho de 2023

Inauguração do Verão


Ó p’ra mim a inaugurar o Verão. Acabo de me sentar na esplanada da praia, olho em volto, vejo moscas em pleno voo de reconhecimento, duas jovens nórdicas com as faces avermelhadas, cabelos cor d’ouro, lindas de morrer afogado no mar do desejo — a baterem convictas nas pernas, na tentativa de matarem os vis insectos. 
Olho para a cena e percebo que alguma coisa não condiz com o imaginado pelo português médio.
Não sei bem o quê. 

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Os professores


Vêm das berças, das casas humildes de trabalhadores que investiram tudo nos filhos para um dia serem respeitados, cumprimentados por todos, o senhor abade a falar com eles como se fossem iguais.

Estudaram muito, nunca tinham lido livros só com palavras, deram tudo de si, pagaram para ir trabalhar para o Alentejo, Algarve — os filhos, os maridos e por último os casamentos a ficarem para trás.

Ganhavam muito mal mas os mais velhos sempre a incentivá-los para não desistirem: “a partir do oitavo escalão (numa carreira de dez) então começará a valer a pena”. Era um investimento de longo prazo, a reforma ia compensá-los.

E eles a acreditarem. Até que chegou a Maria de Lurdes Rodrigues, o José Sócrates e o Partido Socialista — e os professores nunca mais tiveram descanso: insultados na comunicação social, na opinião pública, no comportamento desbragado dos alunos ansiosos por deixarem de o ser.

E os inimigos da escola para todos a conseguirem atingir os seus intentos. Actualmente, os professores que atingem a reforma, na sua quase totalidade, não têm forma de pagar o mais miserável dos lares para velhos. Só com a incerteza da ajuda da Segurança Social. Partiram a espinha a esses malandros. A carreira onde ingressaram já não existe. E eles, obedientes, a aceitarem tudo.

Desta forma, o estado português pôde poupar muito dinheiro. E a escola do futuro, dos nossos filhos e dos nossos netos, o que vai ser dela? Calma, cada coisa a seu tempo, ou se investe na escola privada ou então nos professores brasileiros, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos, guineenses.

Esse problema já não é nosso.

O tempo da escola ficou para trás, os cabelos brancos fazem-nos interessar pela exploração do hidrogénio verde e do lítio, pelo crescimento da bolsa de Madrid e o florescimento dos offshores do Panamá. O resto não interessa nada.