sexta-feira, 7 de julho de 2023

Os professores


Vêm das berças, das casas humildes de trabalhadores que investiram tudo nos filhos para um dia serem respeitados, cumprimentados por todos, o senhor abade a falar com eles como se fossem iguais.

Estudaram muito, nunca tinham lido livros só com palavras, deram tudo de si, pagaram para ir trabalhar para o Alentejo, Algarve — os filhos, os maridos e por último os casamentos a ficarem para trás.

Ganhavam muito mal mas os mais velhos sempre a incentivá-los para não desistirem: “a partir do oitavo escalão (numa carreira de dez) então começará a valer a pena”. Era um investimento de longo prazo, a reforma ia compensá-los.

E eles a acreditarem. Até que chegou a Maria de Lurdes Rodrigues, o José Sócrates e o Partido Socialista — e os professores nunca mais tiveram descanso: insultados na comunicação social, na opinião pública, no comportamento desbragado dos alunos ansiosos por deixarem de o ser.

E os inimigos da escola para todos a conseguirem atingir os seus intentos. Actualmente, os professores que atingem a reforma, na sua quase totalidade, não têm forma de pagar o mais miserável dos lares para velhos. Só com a incerteza da ajuda da Segurança Social. Partiram a espinha a esses malandros. A carreira onde ingressaram já não existe. E eles, obedientes, a aceitarem tudo.

Desta forma, o estado português pôde poupar muito dinheiro. E a escola do futuro, dos nossos filhos e dos nossos netos, o que vai ser dela? Calma, cada coisa a seu tempo, ou se investe na escola privada ou então nos professores brasileiros, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos, guineenses.

Esse problema já não é nosso.

O tempo da escola ficou para trás, os cabelos brancos fazem-nos interessar pela exploração do hidrogénio verde e do lítio, pelo crescimento da bolsa de Madrid e o florescimento dos offshores do Panamá. O resto não interessa nada.

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