sábado, 5 de janeiro de 2019

Prisão de Armando Vara


Sei que os meus leitores não vão concordar comigo. Que muitos duvidarão mesmo do meu equilíbrio mental. Sinceramente, não me importo. Cheguei a uma fase em que a opinião dos outros adquiriu a relatividade correspondente. 
Vem isto a propósito do sentimento de pena que me dá ver a entrada no estabelecimento prisional de Évora, para cumprir uma pena de cinco anos, de Armando Vara. Ao contrário do que acontecerá à quase totalidade dos cidadãos portugueses, que exultarão de satisfação. 
Será a primeira vez no nosso país que alguém cumpre pena de prisão efectiva por tráfico de influência. Ora eu sempre achei que a prisão deve ser reservada para casos em que não há alternativa. 
Em toda a vida, só por uma vez entrei numa cadeia -- para expor considerações éticas (imaginem!) aos reclusos. Fiquei impressionado para sempre. Quem encontrei naquela plateia que me ouvia como se eu fosse ministro da justiça, eram meninos acabados de se tornarem homens, a grande maioria presos por tráfico de droga. Ainda hoje não acredito que algum deles tenha saído melhor do que quando entrou. Contrariando o objetivo maior de uma pena de prisão. 
Armando Vara não nasceu na linha de Cascais. Nasceu no Portugal profundo, a que os lisboetas gostam de chamar província. Claro que os de Cascais não são presos. Só os de Vinhais e terras assim. Que nasceram pobres e tiveram a audácia de querer deixar de o ser. Que entregavam fatos na casa dos clientes do patrão aos 16 anos. Que foram bancários em Mogadouro e, imagine-se!, tiveram a distinta lata de se sentarem um dia nas cadeiras reservadas aos membros do conselho de administração do banco onde no início da vida trabalharam ao balcão. 
No caso dos Vistos Gold ficou provado o crime de corrupção, mais grave que aquele de que é acusado Armando Vara. No entanto, o juiz não condenou nenhum dos réus a pena de prisão efectiva. 
Dois pesos, duas medidas. A linha de Cascais e a inteligência de um magistrado a saírem vitoriosas. 
E eu a não confiar em nada disto.  

(Foto Paulo Novais/Lusa)

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