terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A imprensa regional e o aniversário do jornal O Vianense


Trinta e nove anos. Para um jornal é muito tempo. Os anos nas publicações periódicas não contam da mesma forma que as pessoas. Trezentos e sessenta e cinco dias a fazer jornalismo e a assegurar a continuidade de um órgão informativo regional equivale a anos de muito sacrifício em prol da terra onde se vive. 

E, para além disso, a necessidade de haver possibilidades financeiras. E de capacidades de gestão. E de gente, muita gente. 

Ora, nada disto existe em quantidade suficiente no jornalismo regional. As pessoas, por exemplo: dantes colaboravam por carolice no jornal da terra; hoje, e bem, querem ordenados consentâneos com a formação superior que adquiriram. Sinal dos tempos e da evolução por que todos nós lutamos. 

Simplesmente, os jornais pequenos não têm sustentabilidade financeira para suportar tamanho fardo. E, a pouco e pouco, vão soçobrando a menos que encontrem uma nova fórmula de negócio. Só que nem os jornais grandes portugueses a conseguiram até agora engendrar.

Tudo o resto, feito de homens e mulheres que dedicaram tempo da sua vida ao jornal, sem nada esperarem em troca, ficou definitivamente para trás.  

É deles que me apetece falar nesta comemoração dos 39 anos d’O Vianense. Até porque a saudade é um sentimento que, de tempos a tempos, faz falta a ela recorrer. É uma espécie de combustível essencial para a caminhada em direcção ao futuro. 

E a memória não se faz rogada a um exercício destes. São acontecimentos importantes demais para ficarem perdidos no tempo. As noites em branco a terminar a edição do jornal; os computadores Apple Macintosh a serem inaugurados na imprensa regional pelo O Vianense, num período tão novo que ninguém sabia trabalhar com eles e muito menos arranjá-los quando avariavam; o julgamento por parte dos tribunais do conceito de liberdade de imprensa em que O Vianense foi um participante corajoso; o orgulho de ter entre os colaboradores do jornal os mais brilhantes jornalistas de Viana; a perseverança na luta por objectivos essenciais ao desenvolvimento do Alto-Minho; a abertura de instalações bonitas na Rua de Aveiro; as gentes, sim, O Vianense foi sempre um jornal com gente dentro que ajudava, entre outras coisas, nas tarefas a que a tecnologia ainda não tinha chegado, de que é exemplo a colagem dos endereços dos assinantes, noite adentro, acompanhada das conversas amigas daquelas pessoas todas, que entretanto foram embora, teimosas na determinação de rumarem para sítios longínquos e sem retorno.

Escrevo isto e emociono-me. Trinta e nove anos de alma cheia. Com as pessoas que gostavam do jornal. Que queriam e querem a preservação do que de mais humano serve de alicerce ao O Vianense. 

Fica a faltar o modelo novo de negócio jornalístico. E pessoas capazes de serem mais que meros escrevinhadores de notícias iguais às que aprenderam nas universidades. 

Só dessa forma se pode prosseguir a alma que é essência e marca d’O Vianense.

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