terça-feira, 23 de agosto de 2022

A propósito da edição das Festas D'Agonia


Quisemos saber a opinião da jornalista inglesa Emilly Scarlett Walker sobre as Festas d’Agonia deste ano. Em serviço de reportagem para o jornal de grande circulação “Neighborhood Tribune” ela acompanhou de perto os diversos números da romaria. Vale a pena ouvi-la. 
— A Emilly gostou das festas?
— Sim, particularmente da vontade manifesta em todas aquelas pessoas de voltarem a estar juntas e de festejar a graça de viver. É como se procurassem obter um efeito catártico de alcance colectivo. 
— Houve algo que lhe tivesse chamado a atenção pelo ineditismo da situação?
— Penso que terá sido o primeiro ano em que as festas verdadeiramente se discutiram. E tudo por causa de motivos menos nobres fomentados pelas redes sociais. As questões da identificação do “vianense de gema” e do bom ou mau gosto da utilização da palavra “chieira” são disso exemplo.  
— Gosta desta palavra ou não? 
— Num primeiro momento disseram-me que se referia ao chiar de uma roda mal oleada; doutra vez contaram-me que “chieira” apelava à memória da matança do porco nas casas rurais, quando o animal chiava na eminência da morte. Confesso que ainda agora hesito acerca do verdadeiro sentido da palavra.  
— De que números do programa das festas gostou mais?
— Do “vamos para o festival”, da “procissão ao mar” e da “festa do traje”, sem dúvida.
— E dos que gostou menos?
— Gostei de todos. Todos têm razão de ser. Podem, no entanto, em alguns casos ser melhorados. Por exemplo, na duração do cortejo — não se pode obrigar o espectador a estar duas horas à espera do espectáculo e mais três horas a assistir à sua evolução. É muito tempo. Outro sector que tem de ser repensado é o dos fogos de artifício. Numa cidade com as tradições históricas na área como é caso de Viana, é triste não assistir a um maior investimento nas exibições da indústria pirotécnica. 
Para além disto, ainda não descobri alguém que esteja à altura de F. Sampaio, M. Freitas, A. Costa, M. E. Vasconcelos, M. M. Couto Viana ou do seu irmão A. M. Couto Viana ou ainda do pai M. Couto Viana, para além, claro está, do muito grande P. Homem de Mello, na narração e explicação dos quadros etnográficos em análise. 
A Universidade Politécnica da cidade deve criar urgentemente estudos de pós-gradução em etnografia, antropologia, sociologia capazes de preparar uma nova geração de investigadores nos assuntos relacionados com a identidade de Viana, o seu folclore, os trajes, a dança, a música, por forma estruturar-se cientificamente uma etnografia renovada.  
— Quer aproveitar para mencionar algo de que não tenhamos falado nesta conversa?
— Quero, com muito gosto, tornar público o quanto gostei de contactar com o charme irrecusável, a inteligência inesquecível e a elegância de sentimentos de você, meu caro Francisco Barros e Barros.

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