sábado, 12 de abril de 2014

Biblioteca Café


Uma das coisas que me diverte mais na vida é ler. Em qualquer sítio. Em casa, na areia, no café. Nessas ocasiões, perco-me completamente do tempo e do mundo. Chego a parecer uma criança. Ou, então, um lunático sem poiso. Por vezes perigoso outras inofensivo. Mas sempre estranho.

Foi o que me aconteceu outro dia num café. Que por ironia dos seus donos se chama Biblioteca. Lá estava eu, cabeça baixa sobre a revista, os olhos a acompanharem as letras e as fotografias, a cabeça num sítio qualquer. Na mesa espraiava-se a Adriana Ugarte, impressa em papel mate, e ao lado, um copo cheio de gelo, limão e coca-cola zero.

As luzes acesas daquele café em tarde de sol acrescentavam coisa nenhuma ao espaço. Talvez alguma aura de filme. Ou nem isso. Deve ter sido a empregada que se esqueceu de as apagar. À minha leitura e à Adriana as luzes nem estavam a menos nem a mais. Simplesmente não faziam parte daquele momento.

Os meus olhos jogaram a vida inteira ao gato e ao rato comigo. Ao longe vi sempre mal; ao perto ria-me dos outros que precisavam dos óculos. Nunca me importei muito com isso – não via a três metros os defeitos, as rugas das mulheres. Estavam quase sempre bem. A Adriana Ugarte e a professora de francês do meu filho são testemunhas disso.

Na página seguinte da revista anunciava-se a nova colecção da Cerruti. Fotografias grandes de gravatas, camisas, blazers desafiavam agora o meu olhar. A roupa e as luzes do café em tarde de sol. Que estava a deixar de o ser no horizonte que a montra deixava ver. A noite aproximava-se. A Adriana tirara já os óculos pretos da moda.

Só eu continuava longe da noite e do dia. Estava a ler. Concentrado como sempre. Rodeado de luzes por todo o lado. Que mais pareciam holofotes.

Dizem que foi por essa altura que a noite baixou definitivamente sobre o Biblioteca. Quem mo disse foi a Adriana e a professora de francês do meu filho. Que eu não reparei em nada para além do texto engraçado do João Tordo que estava naquela revista e eu devorava longe da mesa onde estava.

Por fim fez-se luz em mim. O café estava agora às escuras. As luzes foram desligadas. Era hora de servir as mistas grandes cheias de queijo. E de afastar os clientes que liam e não comiam as mistas grandes cheias de queijo. Vamos embora Adriana, mais a colecção da Cerruti e o texto sobre a vila alentejana engendrado pelo Tordo, que o café Biblioteca não é para nós. E a própria professora de francês do meu filho merece melhor. Merece a areia em frente ao mar onde eu estive a tarde toda. Agora eu sei.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A propósito de uma fotografia


O tempo, esse escultor de emoções novas, passou por aqui. E fez estragos. E trouxe consciência ao olhar inicial. 
Conheci-os a todos. Todos bons miúdos. Com a coragem que naquela altura as circunstâncias partidárias exigiam. Principalmente quando o exercício político se desenvolvia à direita. Dois deles já não são do CDS. Militam num outro partido. Mais à esquerda. O próprio professor já não pensa da mesma forma em termos políticos. 
É o tempo a trazer maturidade e mudança. Mas, felizmente, a manter o sonho no olhar daqueles jovens prontos a mudar o mundo.