As noites de Verão quando não são de amor são
tramadas. Cheguei esta noite a um restaurante da moda e o parque automóvel
estava cheio. Com a habitual estrela da sorte a acompanhar-me vi um carro a
preparar-se para sair. Enfim, o costume. Já é hábito em mim. Foi nessa altura
que se adiantou ao meu carro ministeriável, de forma traiçoeira, um jeep. Tudo
bem. Também já estou habituado. O mesmo não acontecia pelos vistos aos meus
companheiros de jantar — gritos e "vou-me embora". Do jeep saem
diversas pessoas que correm para a recepção do restaurante com a intenção de
levarem mais cedo com a mesa nas trombas. Mantive a calma. Fiz questão de
estacionar na ordem que o senhor Jesus tinha estipulado para mim, dirigi-me à
porta do restaurante, e nesse momento vinha já de mesa marcada o padrinho do
grupo do jeep. Cruzamo-nos na porta, eu disse-lhe faz favor, o símio rosnou qualquer
coisa e aí eu percebi: tínhamos mais ou menos a mesma idade, ele tinha cara de
adido cultural em Londres, eu de mim mesmo — quer dizer, nestas coisas
estávamos empatados. Restava uma possibilidade de diferenciação. Uma apenas. A
mais difícil de todas. A marca das nossas camisas.
Desci devagar os olhos dos olhos dele para para o
logotipo da camisa. Com calma. O momento era decisivo.
Não. Não era possível. A marca, rara de encontrar,
exclusiva de génios e de idiotas (agora eu sei), era igual à minha.
Penso em tudo isto três quartos de hora depois
enquanto termino o jantar, no momento em que o grupo do jeep finalmente arranja
mesa.
O que teria feito a diferença neste caso? E a
certeza tornou-se definitiva: o meu charme natural, a beleza, o saber dizer, e
a inteligência que me caracterizam. Só pode ser.
Não há dúvida: mais importante do que a marca da
camisa somos nós. E a fama de termos mais camisas daquela marca.