sábado, 30 de julho de 2016

As noites de verão também são de disputa


As noites de Verão quando não são de amor são tramadas. Cheguei esta noite a um restaurante da moda e o parque automóvel estava cheio. Com a habitual estrela da sorte a acompanhar-me vi um carro a preparar-se para sair. Enfim, o costume. Já é hábito em mim. Foi nessa altura que se adiantou ao meu carro ministeriável, de forma traiçoeira, um jeep. Tudo bem. Também já estou habituado. O mesmo não acontecia pelos vistos aos meus companheiros de jantar — gritos e "vou-me embora". Do jeep saem diversas pessoas que correm para a recepção do restaurante com a intenção de levarem mais cedo com a mesa nas trombas. Mantive a calma. Fiz questão de estacionar na ordem que o senhor Jesus tinha estipulado para mim, dirigi-me à porta do restaurante, e nesse momento vinha já de mesa marcada o padrinho do grupo do jeep. Cruzamo-nos na porta, eu disse-lhe faz favor, o símio rosnou qualquer coisa e aí eu percebi: tínhamos mais ou menos a mesma idade, ele tinha cara de adido cultural em Londres, eu de mim mesmo — quer dizer, nestas coisas estávamos empatados. Restava uma possibilidade de diferenciação. Uma apenas. A mais difícil de todas. A marca das nossas camisas. 
Desci devagar os olhos dos olhos dele para para o logotipo da camisa. Com calma. O momento era decisivo. 
Não. Não era possível. A marca, rara de encontrar, exclusiva de génios e de idiotas (agora eu sei), era igual à minha. 

Penso em tudo isto três quartos de hora depois enquanto termino o jantar, no momento em que o grupo do jeep finalmente arranja mesa. 

O que teria feito a diferença neste caso? E a certeza tornou-se definitiva: o meu charme natural, a beleza, o saber dizer, e a inteligência que me caracterizam. Só pode ser. 

Não há dúvida: mais importante do que a marca da camisa somos nós. E a fama de termos mais camisas daquela marca. 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O idiota


A fazer conta que tem pressa, ninguém sabe de quê, meia leca de gente a ter de dar muitos passos, cabelo ralo, voz tremelitante, sempre a falar sobre nada, olhos sem cor, o jogo do Benfica debaixo do braço, a conta poupada ao cêntimo no banco, o ódio a quem é mais inteligente. Eis o idiota metido a director-geral de coisa alguma. Maria, não risques o Mercedes do senhor doutor.

domingo, 3 de julho de 2016

Water Slide


AVISO: Acabo de contratar a Mossad, o Daesh, a Al-Qaeda, o SIS e os serviços de segurança do Museu da Presidência para arrasarem com a instalação sonora do Water Slide que pespegaram em frente à minha casa. Os décibeis do Bailando e Não Me Toca ultrapassam qualquer assomo de legalidade e de normalidade psíquica. Logo neste fim-de-semana em que tenho de estar concentrado nos meus papéis e, pensava eu, rodeado de música calma.