domingo, 15 de janeiro de 2017

A propósito do congresso dos jornalistas


Tanta vacuidade, tanta vaidade, tanta camisa de xadrez e bolsa a tiracolo – a farda da profissão que se remata com a barba por fazer e o cabelo desgrenhado – circularam por estes dias no congresso dos jornalistas. E protestos, muitos protestos. Contra os outros, claro. Nunca assumindo os próprios erros.
São as redes sociais e os energúmenos que as frequentam, consumidores acríticos da não-verdade. Dois erros imensos de avaliação: a comunicação digital trouxe possibilidades novas nunca sonhadas e que não a estão ser devidamente aproveitadas pelo modelo de negócio da comunicação social; por outro lado, o público consumidor de informação é completamente diferente do de há três décadas atrás: muito mais culto, mais exigente. Escreve bem, por vezes melhor que o jornalista profissional, frequentou cursos universitários exigentes.
Quer isto dizer que o jornalismo profissional tem os dias contados? Claro que não, bem pelo contrário. Tem é de evoluir em dois campos aparentemente contraditórios mas que acabam por se complementar: a velocidade da notícia e o enquadramento esclarecidos dos factos. E isto na mesma plataforma noticiosa, seja digital ou impressa. Sim, digital também, essa ideia de que os textos mais sérios ou mais extensos não têm lugar nas novas tecnologias informativas tem sido um erro trágico.
O leitor actual mudou tanto ou mais que o mundo actual. Já não lê no mesmo sítio todos os dias, às mesmas horas. Fá-lo a qualquer momento – em viagem, em ócio, durante o trabalho, em resposta a uma questão momentânea. Sem com isso admitir qualquer desvalorização da qualidade informativa. Sabe é diferenciar, conforme dissemos já, a mera notícia da mundividência que a envolve.
E consulta a informação não nos sites noticiosos mas nas aplicações para smartphones, ao contrário do que quase todos pensam.
O sucesso de casos como o Observador ou El Español (ideologias políticas aparte) constitui os primeiros passos de algo que vai necessariamente desenvolver-se.
E a imprensa publicada? Terá sempre lugar, agora mais dedicada a públicos-nicho, com o desenvolvimento e investigação dos temas em análise mais assumido, com o design e a qualidade das fotografias objecto de um investimento diferente.
O resto é lamúria, ignorância, desculpabilização à custa dos que não têm culpa. E, já agora, mudem a forma de estar e reduzam essa atávica vaidade. Em verdade não a merecem.

Francisco Sérgio de Barros e Barros
Carteira de jornalista TE-2

Foto: Meios & Publicidade


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