O trabalho de pivô das notícias sempre
me impressionou. Atenção, 10 segundos, 5, o rosto coberto de creme pegajoso, 3,
só os olhos e os lábios escapam à alvura imposta pelas luzes, 1, boa noite,
Donald Trump fala com Bill Gates para que a internet seja interrompida por
tempo indeterminado.
Como
é que se chama a pivô? Não me lembro, mas isso agora não interessa nada.
Theresa May garante que o Brexit é para levar adiante, uma granada explode em
Ancara e mata 13 pessoas, engraçado parece que ela está a olhar para mim, não
pode ser, ela não me vê.
Passam imagens de Ancara. Quando é que
ela vem outra vez? Aí está. E continua a olhar de forma voluptuosa. Não. O
Trump tramou isto tudo. Confirmo com um piscar de olhos. Nada. Nenhuma resposta
da Ana Patrícia Carvalho. Mas eu iria jurar que...
Levanta-se agora. Aponta para as
primeiras páginas dos jornais. Não vejo uma sequer. Só vejo a ela.
Um dia vou ao Barreiro, à terra da pivô
tirar as dúvidas, digo para comigo sabendo que nunca o farei.
Acho melhor deitar-me e voltar à
realidade. Pode ser que amanhã ponham a Teodora Cardoso ou a Ana Avoila a ler
as notícias. Só assim saberei o que se passa no mundo.
Pego no telecomando para desligar a
televisão quando ouço a Patrícia a despedir-se dos telespectadores e... num tom
pausado... sensual... sem ponta de dúvida: "uma boa noite especial para o
Sérgio Barros e Barros a quem convido para jantar comigo amanhã à noite no
Altis Belém Hotel".
Não dormi, não comi até ao pôr-do-sol do
dia seguinte.
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