sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Para os meus alunos do 1º ano de comunicação


O trabalho de pivô das notícias sempre me impressionou. Atenção, 10 segundos, 5, o rosto coberto de creme pegajoso, 3, só os olhos e os lábios escapam à alvura imposta pelas luzes, 1, boa noite, Donald Trump fala com Bill Gates para que a internet seja interrompida por tempo indeterminado.
Como é que se chama a pivô? Não me lembro, mas isso agora não interessa nada. Theresa May garante que o Brexit é para levar adiante, uma granada explode em Ancara e mata 13 pessoas, engraçado parece que ela está a olhar para mim, não pode ser, ela não me vê.
Passam imagens de Ancara. Quando é que ela vem outra vez? Aí está. E continua a olhar de forma voluptuosa. Não. O Trump tramou isto tudo. Confirmo com um piscar de olhos. Nada. Nenhuma resposta da Ana Patrícia Carvalho. Mas eu iria jurar que...
Levanta-se agora. Aponta para as primeiras páginas dos jornais. Não vejo uma sequer. Só vejo a ela.
Um dia vou ao Barreiro, à terra da pivô tirar as dúvidas, digo para comigo sabendo que nunca o farei.
Acho melhor deitar-me e voltar à realidade. Pode ser que amanhã ponham a Teodora Cardoso ou a Ana Avoila a ler as notícias. Só assim saberei o que se passa no mundo.
Pego no telecomando para desligar a televisão quando ouço a Patrícia a despedir-se dos telespectadores e... num tom pausado... sensual... sem ponta de dúvida: "uma boa noite especial para o Sérgio Barros e Barros a quem convido para jantar comigo amanhã à noite no Altis Belém Hotel".
Não dormi, não comi até ao pôr-do-sol do dia seguinte.

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