segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Ainda sobre a eutanásia

A propósito do tema da eutanásia, ultimamente tão debatido na sociedade portuguesa, e em resposta a mensagens que recebi a este respeito, gostaria de aclarar o meu ponto de vista sobre dois pontos a meu ver essenciais: 
1 - O exercício e o pensamento políticos têm em vista numa fase primeira e decisiva o colectivo. Só depois de se actuar em nome do bem comum é que se poderá ter em vista outros patamares de reflexão. 
Assim sendo, nada nem ninguém pode desvalorizar, amputar, amesquinhar o valor de todos os valores, aquele que serve de fundamento a todos os outros. E qual é ele? O que tem em vista a inviolabilidade de todos e de cada um de nós, nos anos da vida e nos minutos da morte. 
2 - Mas então a questão da auto-liberdade do homem que decide o que fazer de si não deve ser considerado? Claro que sim, embora com as condicionantes que a liberdade dos outros impõe ao horizonte das nossas possibilidades. Quer isto dizer que se a decisão individual abrir uma brecha na regularidade necessária aos interesses do bem comum, uma vez mais aquela que é obra do eu, vai subalternizar-se aos desígnios do nós. 
Mas então não há lugar para a escolha individual? Há, na sentença que se espera inteligente dos agentes do Direito, na consciente utilização do testamento vital e, porque não? — na prática do segredo que a experiência de vida nos ensinou a usar.  
Tudo isto sem proporcionar nesga alguma à vulgarização da vida e da morte, sem impor limites de idade para uma ou para outra, ou transferir poderes para o sistema hospitalar português, em que o autor destas linhas não confia. 

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