Na sala de espera um grupo de pessoas sem idade. E sem vida também. Duas mulheres falam sem parar. Os outros não pensam em nada. Estão tão anestesiados como os familiares que logo depois das portas brancas estão a ser operados.
No resto — no mar, nos dias de praia, nos fins de tarde de trabalho amaciados no Tekas Bar, na casa alugada com os filhos quando nasceram — tudo parecia ser infinito, e nós espécies de uma realidade transcendente, só nossa.
Até que o maldito diagnóstico apareceu numa tarde de Inverno. De muita chuva. E eu quase a morrer naquele momento. E a Patrícia a dar-me a mão tentando transmitir-me a serenidade que vinha do olhar.
Penso em tudo isto enquanto espero. A sala continua imóvel próxima do estado letal. As duas mulheres falam Um homem sentado perto de mim olha o meu telemóvel enquanto escrevo estas linhas (é o primeiro leitor deste arrazoado). Fico com a ideia de que lhe pareço um tolo. Adivinhou.
As batas brancas entram e saem empurrando aquelas portas com uma roda de vidro a parecer as dos navios.
Vejo uma enfermeira jovem que regressa da realidade atravessando a fronteira. Dirijo-me a ela. Quero saber como está a decorrer a operação. Anseio pelo momento de abraçar a Patrícia, recuperar o amor dos primeiros tempos. — Enfermeira, é capaz de me prestar uma informação?
A enfermeira sorri. Vou falar-lhe do meu amor.
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