domingo, 12 de abril de 2020

A Páscoa, a quarentena e eu


Pensei não escrever nada este ano. O tempo que estou a viver é tudo menos feliz. Nem a Páscoa nem mesmo a quarentena têm culpa, mas esta é verdade. 

De tal forma que a redenção, o voltarmos a ser mas agora diferentes — a que tradicionalmente apelo — desta vez não estão na gaveta onde guardo os desejos por cumprir. 

Por agora basta-me que tudo continue como era antes. Com os defeitos que abomino, eu sei, mas que tornam possível o espanto perante as coisas positivas. Tal como a imbecilidade é o único critério a partir do qual se mede uma pessoa sofrível ou a aberração neo-nacionalista torna aceitável a política actual portuguesa. 

Eu quero a empregada da esplanada que não reconhece a diferença em mim, o homem embriagado que vocifera contra tudo e todos, a mulher que pensa que vai ser mais feliz quando tiver no seu regaço o rosto adormecido do maior bandido da cidade.  

Tudo isto na esperança de que melhores tempos hão-de chegar. Se possível dentro de dias. Ou então de horas. E tu e tu vão estar juntos a mim. 

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