sexta-feira, 3 de março de 2023

Família portuguesa


Portugal a olhar de frente a lente fotográfica. A timidez atávica misturada com a humildade costumeira a dar sinais de si. Os mais velhos ciosos da solenidade que o momento exige. Os mais novos assustados com o relâmpago que aí vem. 
É a típica família portuguesa dos inícios do século XX. Da pobreza que viveram desde sempre até à situação de lavradores remediados. Suportando o sacrifício do trabalho quase comparável em grau de violência à escravidão. Tudo para para deixarem à geração seguinte um património maior. Capaz de assegurar a sobrevivência eterna e não apenas provisória. Que foi aquela com que sempre viveram. 
E foi assim que se fez Portugal durante os últimos cem anos. País remediado, governado por uma elite que não merecia a bonomia com que o povo lhes obedeceu. Desde sempre até aos dias de hoje. 
Quanto à família retratada, a criança loura é avó da juíza conselheira do tribunal constitucional (com carreira académica assinalável em Direito Administrativo), a irmã de olhar perscrutador tem na actual presidente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (casada com um antigo presidente da Assembleia da República) a sua descendente mais conhecida, e a terceira das raparigas (à esquerda na imagem) é tia avó por afinidade daquela que historicamente continua a ser reconhecida como a fundadora do Bloco de Esquerda. 
As outras duas foram felizes. 


(Nota: Os factos aqui descritos são produto da imaginação do autor. Não é, portanto, verdade o descrito no texto; podia ser, mas não é. Mesmo a fotografia depois de analisada com mais atenção, parece referir-se a uma família estrangeira (talvez dos balcãs ou eslava) e não portuguesa.

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