segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Adriana


Lembro-me muito bem de ti. Há anos que não te vejo. Vinhas a minha casa, o mordomo anunciava a tua chegada e íamos logo para o quarto. Despias-te devagar e eu encostado à parede do nirvana olhava-te. As meias, sempre as meias, eras esperta, enrolava-las ao mesmo tempo que desciam as Torres Gémeas. Era nessa altura que eu entrava em casa de nós os dois, bem junto a ti, mãos nas mãos. Uma eternidade depois fechavas os olhos e eu abria os meus para ver os teus fechados. Beijava-te, então. 

Nunca falamos nada de substancial. Sabia o teu nome, Adriana, a tua morada perto da minha e pouco mais. Existíamos juntos para assomarmos à casa imaginada onde éramos felizes. 
Apenas uma vez levei-te a jantar fora, à Capela dos Ossos, em Évora. E tudo porque naquele dia fizeste aquilo de que eu mais gostava: penteaste o cabelo frente a mim, esticaste-o até estar pronto o carrapito, o adereço com que o prendias na boca e eu a voar no céu, qual criança a tomar banho nas águas da praia. 
Agora sei - gostava de atravessar o túnel do Marão outra vez contigo. 
Agora sei. 


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