sábado, 2 de fevereiro de 2019

Pedido de casamento


O dia era sério: a resposta tinha de ser dada ao Daniel, um rapaz que segundo diziam sempre gostara de si. A Conceição olhava para ele e sentia desdém pelo que via, um tipo esquálido, quase grotesco, desajeitado na fala e no comportamento de homem novo. 

— Queres casar comigo? — a pergunta sempre adiada até àquele maldito dia.

— Se tu tiveres vontade nisso — disse a Conceição numa voz apagada pela vontade nenhuma.  

— Pois então vou falar com o Padre Maurício e marcar o casamento. Que contente vai ficar a minha mãe. Queres apostar como ela vai pôr uma vela à Senhora d’Aparecida?

A Conceição sem saber o que dizer a seguir. Tão decidida e agora tonta sem querer pensar em nada. 

As mãos do Daniel a quererem cumprir o namoro. O rosto da mulher que tanto amava logo ali à distância de um palmo de coragem. Foi então que os dedos tocarem aquela pele quente de mulher. Nunca tinha sentido uma coisa assim. 

— Vou p’ra dentro que estou com frio — a Conceição a esgueirar-se pelas escadas acima em direcção a casa. 

— Amanhã digo alguma coisa — ele afoito a comportar-se decidido. 

Já a prometida não o ouvia. A barriga cheia pelo bebé do patrão casado dava sinal de querer descanso. A barriga e a cabeça sempre a pensar o mesmo. 

Ainda um dia vão ser felizes, a Conceição mais o Daniel.  

 

Foto Ludwig Schirmer

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