sábado, 26 de outubro de 2019

Aniversário do Henrique de Barros


Está na Amazónia e na galáxia Redshift. Entre vegetação luxuriante e terra seca. Na crista de uma onda na Praia Norte e no remanso da água do banho. 
E junto com ele, na sua página do Instagram, a Vodka. A altiva gata é simpática com todos de quando em vez. Não muitas porque cansa. Mas com o Henrique, ele pode fazer dela boneca de borracha que a bicha não reclama. Mais: beija-o o e lambe-lhe a cara o tempo todo. 
É um sedutor o rapaz. Ele sabe disso. Mas ultimamente vem aprendendo que não podemos agradar o mundo todo. Fazer com que a Marta goste de nós significa que o Artur vai detestar-nos; que ou se seduz a vida lá fora ou a escola onde estudamos — uma e outra, ao mesmo tempo, é difícil.  
E por vezes o Henrique sofre com isso. A liberdade de sermos quem queremos ser é aparente. Alguém controla coisas que deveriam ser só nossas. 
A sua inteligência está agora a avisá-lo desta realidade. 
Também só tem onze anos. Onze?! Não, não... tem doze anos, feitos hoje bem cedo, logo pela manhãzinha.  
Está quase um homem o Henrique. E sonhador e turista e actor. E eu, enquanto pai, cheio de medo — que sina! —, o rapaz tem os mesmos atributos os mesmos pecados de mim. 
Por isso é que gosto tanto dele e, ao mesmo tempo, olho-o com receio de tudo. 
Mas ele há-de ser feliz. Hei-de ter tempo e engenho para avisá-lo de todos os escolhos que vai ter de enfrentar.  
Parabéns Henrique. Não largues nunca a minha mão que só te quero feliz. O resto não interessa nada. 
Um beijo. 
O pai.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Aniversário da Maria Leonor de Barros


O amor de um pai por um filho é de um tamanho sem fim. Não se pode definir, expressar através de palavras. Ultrapassa a dimensão de racionalidade exigida pela lógica. É vida que se anula em favor de outra. 
Gosto muito da Leonor. Olho para ela e sinto-me ao espelho. Sei tudo o que ela pensa e sente. Como se fosse eu outra vez. 
Faz hoje 14 anos, a Leonor. Em qualidade de raciocínio parece ter já chegado à maioridade. É absolutamente brilhante em tudo o que faz. Aluna do quadro de mérito sem nunca a ter visto estudar. Toca violino, canta, tem aulas no conservatório e no liceu sem se queixar do seu horário transcendente em relação às leis da razão.  
É muito melhor do que eu. Vai ser aquilo que quiser ser. Feliz, assim espero.  
Passei as últimas horas à procura de uma fotografia dela. Sem sucesso. Vi-me obrigado a buscar o rosto desfocado da Leonor em recordações de um jantar de amigos. 
Sem que ela suspeite de tal afronta. Também eu não gosto de estar em fotografias. 
Somos parecidos, Nonô. Por isso é que me sinto tão emocionado quando fazes anos. 
Não consigo escrever mais nada. Se calhar nem devia ter começado este arremedo de palavras. Mas se não o fizesse não estava a cumprir a tradição que impus a mim mesmo há muito tempo. 
Sê feliz, minha querida filha. Se o fores — e só se o fores — também eu serei. Meu amor.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A mentira dos homens


Mas que mentira te disseram! Não deves confiar nos homens que choram no teu regaço a afiançarem que sofrem por ti. Só querem saber deles. Nasceram e vão morrer narcisistas. No momento em que lhes disseres que estão perdoados começam logo a pensar na tua melhor amiga ao sol. Dá-lhes um Kleenex e deixa-os chorar à vontade. Só lhes faz bem sentirem a escorrer pela face as impurezas todas.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Diogo Freitas do Amaral


A vida é preenchida por momentos-chave, situações marcantes e por pessoas. Muitas pessoas. Umas que conhecemos, outras que nos habituamos a ver, a ler ou a desejar. Marcando o tempo ou os tempos. Fazendo com que o ano de de 1989 seja o ano de Tiananmen, do muro de Berlim, da Teresa e da Amélia, do Marcelo a mergulhar no Tejo.
 
Nessa galeria de homens e mulheres que marcaram o meu cenário de vida está Freitas do Amaral. Não que eu fosse seu correligionário político, mas porque ao lado de Soares, Sá Carneiro e Cunhal fundou um novo tempo em Portugal. 
No dia em que ele morre, vem-me à memória a ocasião em que o vi, a ele à mulher, dentro do Volvo cinzento a ser embalado pela turbe enfurecida a gritar “fascista”. Na cidade de Viana, era eu uma criança que adorava a contenda política. 
E Freitas do Amaral imperturbável. Tinha ele 33 anos e já era professor prestigiado de Direito Administrativo. 
Esta história que presenciei associo-a à retirada da sua fotografia da sede do partido que fundou. Por decisão de uns meninos mimados que nasceram com as coisas todas à disposição. 
De então para cá, a qualidade da formação moral e académica dos políticos nacionais tem vindo a degradar-se. Estadistas a sério não apareceram mais. Culturalmente, então, são um deserto de tudo que represente uma visão esclarecida do futuro. Não sendo capazes de se adiantarem ao tempo. Reagindo apenas ao acessório. 
E o sobretudo verde que não voltará. Nem a plasticidade do raciocínio de Soares. Nem a perseverança e a coragem de Cunhal. Ou o poder de sedução de um povo pelo atormentado Sá Carneiro. 
Descanse em paz, Senhor Professor. 

Foto Revista Maria