quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Diogo Freitas do Amaral


A vida é preenchida por momentos-chave, situações marcantes e por pessoas. Muitas pessoas. Umas que conhecemos, outras que nos habituamos a ver, a ler ou a desejar. Marcando o tempo ou os tempos. Fazendo com que o ano de de 1989 seja o ano de Tiananmen, do muro de Berlim, da Teresa e da Amélia, do Marcelo a mergulhar no Tejo.
 
Nessa galeria de homens e mulheres que marcaram o meu cenário de vida está Freitas do Amaral. Não que eu fosse seu correligionário político, mas porque ao lado de Soares, Sá Carneiro e Cunhal fundou um novo tempo em Portugal. 
No dia em que ele morre, vem-me à memória a ocasião em que o vi, a ele à mulher, dentro do Volvo cinzento a ser embalado pela turbe enfurecida a gritar “fascista”. Na cidade de Viana, era eu uma criança que adorava a contenda política. 
E Freitas do Amaral imperturbável. Tinha ele 33 anos e já era professor prestigiado de Direito Administrativo. 
Esta história que presenciei associo-a à retirada da sua fotografia da sede do partido que fundou. Por decisão de uns meninos mimados que nasceram com as coisas todas à disposição. 
De então para cá, a qualidade da formação moral e académica dos políticos nacionais tem vindo a degradar-se. Estadistas a sério não apareceram mais. Culturalmente, então, são um deserto de tudo que represente uma visão esclarecida do futuro. Não sendo capazes de se adiantarem ao tempo. Reagindo apenas ao acessório. 
E o sobretudo verde que não voltará. Nem a plasticidade do raciocínio de Soares. Nem a perseverança e a coragem de Cunhal. Ou o poder de sedução de um povo pelo atormentado Sá Carneiro. 
Descanse em paz, Senhor Professor. 

Foto Revista Maria

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