domingo, 18 de julho de 2021

Considerações avulsas sobre o amor


No princípio dos tempos os homens e as mulheres viviam livres e felizes. Nenhum sentimento de difícil adesão os condicionava. Até que, de forma insidiosa, silenciosa, traiçoeira até, aparece o amor. A partir desse momento nada permaneceu igual na relação dos indivíduos consigo próprios nem com os outros.
O amor é tão esquivo que não tem definição possível. É algo que nos consome cá dentro, nos condiciona a olhar para o mundo de modo próprio. Deixamos de ser donos de nós mesmos, passamos a depender de outrem, ansiosos para lhe agradar e angustiados com o medo de nos enxotar como cão a querer entrar no lar.
Transforma-nos numa triste máscara daquilo que já fomos e, vezes demais, abeiramo-nos do precipício que nos aproxima do ridículo.
Mas então aquela sensação boa que transportávamos connosco no fim das férias do Algarve, quando éramos adolescentes, deve ser reprimida e, se possível, obscurecida na memória? Não, por uma razão simples: o amor não é isto, a este sentir pode associar-se a transitoriedade, a intensidade limitada pelo tempo. 
Para que não haja confusão possível: a esta dor difusa chama-se paixão e deve ser autorizada na vida do ser humano. Contribui para o acrescento da felicidade pessoal sem que dela resulte a fissura irreparável na nossa vida. Não nos limita antes acrescenta. Já no amor nem o tempo nem a forma de estar garantem qualquer desfecho que seja.
Maldito seja aquele que se lembrou de criar o amor. Se ele não existisse desfrutávamos, sem ponta de remorso, do homem ou da mulher que nos apetecesse preencher num abraço sentido. Hoje, amanhã outra pessoa, no ano seguinte alguém de quem sentimos saudade daquele Verão. Livres e felizes. Sem consulta semanal marcada no psicanalista.
Eu quero a paixão não quero o amor.

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